-Mas que inferno Pietro! Não faz essa cara de paisagem! Eu te falei sobre alguém, não foi? Pelo amor de Deus diz alguma coisa! -Sim! Você me falou sobre alguém, na época em que trocávamos e-mails, mas eu não sei te responder sobre o que você me pergunta... -Isso já me basta... Pelo menos eu já sei que não foi um sonho... Eu sinto aqui dentro que não é...
-Me fala sobre esse sonho, Rodrigo. -São fragmentos... Mas são tão intensos, tão verdadeiros, meu irmão... Rodrigo sentiu um grande aperto em seu coração, pois começava a sentir uma imensa aflição por não conseguir reconstituir suas lembranças, que a essa altura, eram como pequenos cacos de vidro tentando encontrar o caminho de volta a sua forma original.
-Recordo-me da música Claire de Lune... Eu, tocando com todo amor que conseguia sentir, e era tanto amor em meu peito que eu nem consigo descrever... Lembro-me de, assim que finalizei a musica, olhar para um rosto tão sereno a me observar... Depois me lembro de estar sentado em um banco no parque, ao lado da moça, dona desse olhar tão sereno... Ela tinha cabelos longos e castanhos, pele tão clara quando a lua... Mas aquele sorriso... Deus, qual é o nome dela? Eu sei que ela existe!
-Pietro? Você está bem meu irmão? -Estou, é só que... Ah Rodrigo, eu tenho que ir... Prometo voltar logo... -Está bem, meu irmão, mas me avise qualquer coisa, está bem? -Pode deixar...
Lembro-me de despertar e logo perceber que já não estava mais sobre o domínio dos braços protetores Pietro. Questionei-me onde ele poderia ter ido e fiquei um pouco desapontada de não encontrar uma mensagem sequer de onde o mesmo se encontrava. Entretanto em meu celular havia uma outra mensagem de grande importância. Daniel, meu novo chefe e um medico brilhante do hospital de Riviera, havia se oferecido para mostrar-me o hospital em cerca de meia hora, ou seja, eu tinha que correr para não me atrasar. Marcamos de nos encontrar na lancheria do hospital e assim que cheguei ao local, o reconheci imediatamente. Daniel não aparentava ter a idade que tinha. Seus 35 anos poderiam muito bem ser meros 25. -Doutor Daniel? -Sim? Você deve ser Isabelle, certo? -Sim, sou eu... -É um grande prazer! Por favor, junte-se a minha pessoa. -Sim, claro! O prazer é meu!
-Então Isabelle, fale-me mais sobre você: Que área da grande medicina você pretende seguir? -No inicio de meus estudos fui bastante influenciada a seguir para a área neurológica, que de fato é muito fascinante, mas depois que eu perdi minha mãe para o câncer... -Oncologia se tronou bastante atrativo... Eu entendo, Isabelle... Sinto muito pela sua perda... -Agora, na próxima semana vai fechar cinco meses... Mas desde aquele dia, eu sabia muito bem para que rumo seguir dentro da medicina...
Daniel demonstrava ser uma pessoa bastante acolhedora e compreensível... Me contou que já havia tido uma noiva que veio a falecer por conta dessa doença terrível. Entretanto preferiu não entra em muitos detalhes, pois a final esse era o primeiro contato que estávamos tendo, cara à cara. -Logo você vai ver que o hospital se torna muito mais a sua casa do que onde você costuma dormir... -Hahaha, assim espero, Daniel! E mais uma vez muito obrigada pela oportunidade! Você não sabe o quanto isso é importante para minha pessoa!
Antes que eu percebesse, uma terceira pessoa se juntou a nós na mesa em que conversávamos. Era um homem de aparência trabalhadora com um grande sorriso nos lábios. Em sua face tinha olhos repletos de gratidão ao olhar para Daniel. -Doutor Daniel! -Josias! O que faz por aqui no hospital? A pequena Ameliè está bem? -Melhor do que nunca! Tanto que tive que vir até aqui para agradecer-lhe pessoalmente mais uma vez por tudo que já fez por nossa família... Se não fosse pelo senhor, doutor, eu não sei o que seria da minha filhota... -Mas o que te trás aqui, Josias? -Minha mãe ta com umas dores na coluna, vim acompanha-la para pegar o resultados dos exames. -Mande meus cumprimentos a Dona Cida! -Pode deixar!
-Mas me fale, como tem passado Amelié? -Está comendo melhor, graças a Deus e também está cheia de vida...
Daniel me lançou um sorriso de cumplicidade que logo pude entender do que se tratava: A gratidão por ter salvo uma vida. Pelo que pude entender tratava-se de uma menina que havia sido salva pelas mãos de Daniel, o que me fez perceber que, quando se salva uma vida, não é apenas a vida de uma pessoa que foi salva, mas uma família inteira. Ser responsável por algo de tamanha magnitude era algo que não havia preço...
Pietro saíra com o coração partido do hospital após perceber que seu irmão recuperava sua memória, e dadas as circunstâncias isso só tornava as coisas piores, pois sentia-se culpado por seus próprios sentimentos. Pietro ligou para Mauro, pois a essa altura, precisava de um ombro amigo que o aconselhasse e não o condenasse como ele mesmo fazia cada vez mais. -E ai cara! O que houve? Você não foi muito claro pelo celular...
-Eu não consegui fazer nada do que disse que faria, Mauro... Eu amo Isabelle demais para conseguir deixa-la, como disse que faria... Eu não quero desistir dela. Eu a vi ontem, dormimos juntos e percebi que não poderia fazer isso com ela... Conosco! Hoje pela manhã fui ver Rodrigo... Me senti um lixo de pessoa por fazer isso com ele. Alem do fato de que tenho quase certeza que o mesmo começou a recordar dela. Meu irmão não é idiota, ele sabe que eu estou escondendo algo. É questão de tempo para que Isabelle também saiba de tudo. é como se eu tivesse segurando uma bomba relógio, cara! Eu não sei o que fazer...
-Você fez uma escolha, Pietro. Escolheu o amor de sua vida, o que na minha opinião é a escolha certa. Pietro, de boa cara, você é tão vítima dessa história quanto seu irmão ou a própria Isabelle. Mas, por mais que seja difícil fazer isso que vou te dizer, você tem que falar a verdade para ela. Tem que ser sincero com o amor da sua vida, pois por experiência própria, nenhuma relação se sustenta quando criada a base de mentiras. Você entende?
-Eu farei isso... Mas enquanto a Rodrigo? -Ele também merece saber a verdade, sem sombra de dúvida, mas para desarmar essa bomba eu sugiro ir com calma, especialmente porque Rodrigo está se recuperando ainda. - Sim... Eu preciso pensar agora em como vou dizer... -Sim eu compreendo, Pietro, e eu no que vou dizer a Lua por demorar tanto para ir para casa... -Vocês estão juntos de novo? -Sim... é uma longa históra, para eu te contar desde o inicio, iamos precisar de umas duas garrafas de vinho, e um dia inteiro...
-Compreendo, mas fico muitíssimo feliz por as coisas estarem dando certo novamente para vocês Mauro... Luana é uma grande mulher, e você ainda ganhou uma filha de brinde. -Giovana é uma garota de ouro, Pietro...
Bernardo se aprofundava cada vez mais nos acontecimentos de seu passado. Pensamentos esses que permaneceram guardados com muita cautela dentro de sua alma e que, por sua vez, começaram a ser tão recorrentes agora no presente que ao recordar de lembranças tão fortes, Bernardo trazia para cada vez mais perto de si esse passado tão doloroso de volta a sua vida, mesmo depois de todos esses anos escondendo-os de si mesmo. Para não enlouquecer, Bernardo decidiu sair de sua casa para respirar um pouco de ar puro. Coincidência ou destino, fez com que nesse passeio uma pessoa desse passado cheio de mágoas, reencontrasse Bernardo perdido em seus pensamentos... Irene!
-Bernardo? Faz no mínimo uns trinta anos... -Irene... O mundo pode dar muitas voltas, mas é sempre você que aparece quando esses pensamentos me voltam... -Pensando no passado? -Você nem faz ideia... -Talvez eu faça... Em nome do passado, por que não me conta o que te artomenta?
-Faz quase cinquenta anos e a lembrança de Hanna ressurgiu em minha mente tão forte quanto naquela época em que tudo aconteceu. -Como você se sente em relação a isso? Quais sentimentos que foram acesos de novo Bernardo? -Angustia, raiva, amor... Saudade... Uma saudade tão profunda e destruidora que me mata pouco a pouco cada dia que passa... -Raiva? -Raiva por não ter percebido que o que eu estava fazendo a afastava cada dia um pouco mais. Raiva por não conseguir fazer com as coisas tivessem sido diferentes para nós. E principalmente, raiva de mim por não ter conseguido impedir que ela me deixasse para sempre...
-Bernardo, mesmo depois de todos esses anos você ainda se culpa? O que aconteceu com Hanna, não foi sua culpa! -Mas eu podia ter impedido, eu podia... Deus, eu estava tão cego de ódio naquela noite... Nem deixei ela falar... Você sabe a última coisa que eu disse para ela? -O que? -Que eu lamentava o dia que tinha conhecido ela... Que ela era uma vadia... Eu me lembro o exato dia em que a mesma começaria a se afastar de minha pessoa... Por minha culpa... E claro que a volta daquele calhorda para Riviera só contribuiu para eu perder o grande amor de minha vida...
Hanna tinha o hábito de sentar a margem do rio e o admira-lo. O que a mais fascinava em olha ao olhar pra sua água cristalina era que ela nunca era a mesma, pois vivia em constante mudança, assim como a vida das pessoas ao seu redor. O cantar dos pássaros a distraiu de tal maneira que acabou nem percebendo que alguém se aproximava. Esse alguém estava destinado a mudar mudar sua vida para sempre. -Com lincença, senhorita, você pode me ajudar?
Quando Hanna virou seu rosto para ver quem a chamava, seus olhos encontraram os de Miguel pela primeira vez. Logo de cara houve uma conexão, pois assim que ambos os olhares se encontraram, em suas faces brotou um sorriso de cumplicidade, algo sem explicação, não era apenas atração física, era algo que no mínimo faria ambos lembrarem daquele dia quando estivessem em suas camas de noite, como um dia em que algo muito forte tocou seus corações sem grande esforço.
-No que precisa de ajuda senhor...? -Por favor, chame-me apenas de Miguel. Eu estou voltando de viagem hoje e vejo que muita coisa mudou por aqui... Você saberia me informar onde fica a casa de doces da cidade?
-Não é muito longe, apenas umas duas quadras daqui. -Você me acompanharia até o estabelecimento? -Eu adoraria... -Mas? -Eu não posso, daqui a pouco tenho um compromisso.
-Céus como é lindo esse por do sol...
-Sem sombra de dúvida... Eu acho que nunca vi algo tão belo assim antes...
-Perdão? -Me refiro ao por do sol. Não que você não seja bela, você é e como e como é bela... Quero dizer, acho que estou falando demais... -Tudo bem...
-Miguel, é melhor eu ir... -Espere, eu lhe verei outra vez? -Há boas chances, pois eu moro em Riviera, mas acredito que deva saber desde de já, que eu sou compromissada. -E esse compromisso te impede de ter amigos? -Você está certo, Miguel... Acabei de falar algo que foge completamente do que eu acredito. Então eu digo, até breve...
-Ah como eu adoro essa varanda, Hanna... -Também gosto! consigo imaginar você lendo um exemplar de "A viagem para o centro da terra" sentado naquela cadeira. -De fato, meu bem, eu bem que gostaria ter tempo para fazer essas coisas, mas sabe como é meu pai. Ele acha esse tipo de leitura uma perda de tempo. -Uma lástima ele achar isso. Júlio Verne é uma obra de arte da literatura.
-Concordo com você! Meu pai é um cabeça dura com esse tipo de coisa. -Não só com esse tipo de coisa, Bernardo... -Hanna... Por favor... -Eu sei, eu sei! Você sabe como me sinto em relação ao seu pai... -Eu sei... E não tiro sua razão...
-Eu prometo para você que vou enfrentá-lo, e ele há de entender o quão injusto está sendo com todos... -Tomara que esteja certo, confio em você... Bernardo aproximou-se de Hanna e lhe deu um carinhoso beijo em seu rosto. O mesmo sentia que com o passar dos dias, sua amada ficava cada vez mais aflita com com a determinação do pai de Bernardo em destruir o lar Santa Mônica, para crianças carentes, o qual ela ajudava desde que se entendia por gente.
-Bernardo, obrigada por estar aqui comigo. Você não faz a menor ideia do quanto é importante para mim saber que você se importa com o que está acontecendo. Eles não podem destruir aquele lar. -Hanna, eu estava pensando... Aquele lugar é tão velho, além de deixar a cidade mais feia, é caro para manter aquele lugar.
-Como é que é? Bernardo, centenas de crianças moram lá... O que você acha que vai acontecer com elas se tudo for para os ares? -Vão encontrar um outro lar. E melhor do que esse. -Pelo amor de Deus, Bernardo, não seja tão ingênuo! Não é tão simples... As que tiverem sorte podem conseguir serem transferidas para lugares melhores, ou seja, a minoria. Sabe o que vai acontecer com o resto? Vão acabar nas ruas. A partir daí você deve imaginar o que acontece... -Hanna, acho que está exagerando... -Como é?! Quem está diante de mim agora? é o Bernardo, ou o crápula do pai dele? -HANNA!
-Olha Bernardo, depois dessa vou para minha casa, passar bem! -Espere, desculpe eu falei sem pensar... -É por esse motivo que deve enfrentar seu pai. Se você falou sem pensar, significa que os ideais dele já estão no seu subconsciente... Por favor, Bernardo, não vire aquele homem...
"Eu havia dado o primeiro passo para a construção do muro que ficaria entre nós pelo resto da vida sem nem ao menos perceber. Hoje eu percebo o quanto minhas palavras tinham ferido minha Hanna, mas naquela época tudo que minha mente pensava era que se tratava de um exagero por parte de Hanna."
-Miguel?! Não acredito, meu velho amigo, quanto tempo! Miguel era meu melhor desde que me entendia por gente. Conheci ele no colegial, com 10 anos. O mesmo tinha se mudado de Sunset Valley, há poucos dias quando viramos amigos. Entretanto, ano passado surgiu-lhe uma oportunidade irrecusável para estudar em Londres. Desde então nos falávamos por carta que demorava uma eternidade para chegar.
-Você está ótimo meu velho amigo! -Bernardo! você não sabe o quanto fez falta! Os ingleses nem chegam perto de você quando se trata de fazer ironias! -Hahahaha, isso é um talento nato meu!
Bernardo desceu animado pelas escadas e deu um abraço muito contente em Miguel. Ambos eram como irmãos, pois sempre se defendiam ao mesmo tempo que quase se batiam quando não concordavam em algo.
-Então meu velho amigo! Conte-me o que eu perdi nesses últimos meses! -Eu não sei nem por onde começar... Acredito que não chegou a receber minha última carta então não deve estar sabendo que seu amigo aqui está apaixonado. -Não posso crer! Quem conseguiu esse milagre? -Assim que tiver oportunidade eu lhe apresentarei ela. Acredito muito que vai gostar de minha escolha, eu nunca vi alguém como ela antes. -Mas e você? Não se envolveu com nenhuma inglesa? -Na verdade não, mas ao chegar em Riviera eu conheci uma moça que... Nossa, só de olhar para ela foi como se o tempo parasse. -Qual é o nome dela? -Na verdade eu nem perguntei... -Quero conhecer quem te deixou tão encantado. -O irônico é que eu também quero...
-Hahahaha! Ah Miguel, como é bom revelo! Fique para o jantar, meus pais vão adorar recebe-lo! -Sera uma honra!
-Céus... Eu me lembro desse jantar, vocês eram tão amigos... -Confesso que até hoje eu não me sinto muito confortável em falar dele... -Mas...? -Mas ao mesmo tempo, me sinto aliviado em poder desabafar... -Bernardo eu te conheço... Você já fez muitas coisas boas. Uma delas foi por mim... Lembra?
-Lembro... -Olha, o que você acha de sairmos para almoçar juntos amanhã? Podemos conversar mais sobre o passado. Apesar de eu me sentir velha quando faço isso... -Hahaha... Só você para me fazer rir... -Isso é um "aceito"? -Pode se dizer que sim... -Estamos combinados então...
Próximos ao hospital, mas longe de tudo, Marcos convidara Carla para um passeio. A enfermeira sabia muito bem que esses passeios significavam: Marcos precisava muito desabafar. Ambos seguiram juntos e calados até próximo ao chafariz da cidade. O céu continuava com um azul muito claro e limpo. -Marcos, o que aconteceu? -Precisa acontecer algo para eu lhe convidar para dar um passeio? -Quer que eu seja sincera? Precisa! -Realmente não há nada que eu consiga esconder de você. -Que bom que você sabe disso. Agora fala.
-Carla o que eu vou te falar, vai contra toda a conduta de um médico. Se você falar para alguém eu vou perder minha licença permanentemente. -Você está me deixando preocupada. O que você fez de tão grave? -Lembra-se daquela moça que acordou do coma há quase cinco meses atrás? -Como posso esquecer, isso é quase tão difícil de acontecer quanto o caso desse outro paciente que "despertou" que veio transferido do hospital alguns dias depois dela ter recebido alta. Alta, alias muito repentina... Se bem me lembro você me disse que fez isso por que se sentia em débito com ela, mas nunca me disse o por quê do débito. -Você se lembra do acidente que fez com que ela entrasse em coma? -Lembro, ela ganhou uma segunda chance, infelizmente o rapaz que entrou com ela na emergência, até onde eu sei seu namorado, não teve a mesma sorte pelo que você me comentou... -Naquele dia você e a maioria dos enfermeiros ficaram se dedicando para salvar ela, pois a moça de fato tinha maiores chances... -Sim... Até por isso o rapaz teve que ser transferido, mas infelizmente o mesmo não resistiu não é mesmo? -Ele está vivo. Foi ele que despertou do coma após quatro meses...
-O que?! Marcos como pode? Você tem noção do que você fez? Isso pode dar cadeia, você arruinou a vida de uma garota sem o menor motivo! Me explica por que você resolveu me contar isso agora? - O Pai dela me ligou, pediu para eu entrar em contato com ela. Ele tem uma filha que precisa da medula da irmã... Eu jurei esquecer essa história. -Meio difícil, ela afeta pessoas de mais para ser esquecida. -Eu tenho ciência disso...
-Se você tem ciência por que deixou que isso acontecesse? Me explica por que mentiu, não só para a moça, mas para sua melhor amiga também? -Hoje eu me faço essa mesma pergunta... Eu vou te contar como que tudo aconteceu no dia do acidente...
Todos já tinham feito o seu melhor naquela operação interminável para salvar a vida de Isabelle. Agora era questão de esperar as horas cruciais passarem. A luta pela vida dependia dela, e confesso que estava bastante confiante. O rapaz havia acabado de ser transferido e tinham me informado que sua operação ainda levaria muito tempo, pois como havia dito na última vez, seu caso era muito mais grave, ou seja, suas chances eram quase nulas... Por ser tudo muito recente lembro-me que nenhum dos familiares havia sido avisado sobre sua transferência. O que me fez reencontrar uma pessoa que há mais tempo do que eu realmente possa me lembrar eu não via. Bernardo. O avô do rapaz acidentado...
-Céus, que confusão, disseram que um dos acidentados foi transferido... Pelo visto foi meu neto. Eu sei que ele vai acordar! Rodrigo vai ficar bem, ele sempre fica! Tenho certeza que ele vai perguntar por essa moça que estava com ele...
Bernardo se aproximou de Isabelle e ao ver seu rosto, pela primeira vez em muitos anos uma lembrança de Hanna surgiu-lhe a mente. Ele ficou apavorado com tamanha semelhança. Podia ser Isabelle, mas diante de seus olhos era sua amada que o mesmo via. Uma onda de tristeza e depois de raiva tomou seu coração.
-Não pode ser... Ela voltou para me assombrar só pode... Eu não vou deixar... Você já matou tudo de bom que havia dentro de mim quando se foi e agora quer levar meu Rodrigo?
Lembro-me de ter entrado naquele quarto e sentir um ambiente muito pesado, Bernardo parecia que estava prestes a fazer uma loucura se eu não tivesse chegado a tempo. -Senhor você não pode ficar aqui...
-Senhor Perini? -Marcos? Olha só como o mundo dá voltas... Você já um homem feito. -O que o senhor faz aqui? -Onde está o rapaz acidentado, ele é meu neto! -Ele foi transferido... Eu sinto muito pelo acontecido, a situação dele é critica, devo preparar o senhor para... -NÃO! -Bernardo...
-Era esse projeto de perua que devia estar no lugar dele! Mas ele vai sair dessa eu sei! -Por favor Bernardo... Não é culpa de ninguém... Ele não usava cinto de segurança o que tornou tudo ainda pior... -Você não entende, Marcos, eu conheço essa laia... Conheci a avó dela, essa família é um lixo... -Deus... Você está muito nervoso, melhor você se acalmar, é normal ficar assim depois do que aconteceu...
-Marcos... Quais são as chances dela sair dessa? -Só vou ter uma resposta conclusiva dentro de 72 horas... -Se Deus for injusto o suficiente para deixar essa mulher viver, você vai me prometer que vai dizer para ela que Rodrigo não resistiu... -Como é?! Você está louco? Eu não vou fazer isso, posso perder minha licença isso se não for preso! -Você vai fazer isso! Nós dois sabemos o que você era entes de se tornar médico! -Eu mudei Bernardo! Aquele moleque que eu fui não existe mais... -Ele pode até não existir hoje, mas um dia ele já esteve envolvido em algo bem pesado... Eu conheci você assim, te ajudei, te tirei bem a tempo de fazer merda... Mais dois meses e você estaria preso até hoje por estar envolvido com o mercado negro de roubo de órgãos, preciso falar mais?
-Você não faria isso comigo... -Quer pagar para ver? O que é pior? -Você é um covarde por me colocar nessa situação! -Temos um acordo? -Temos...
-Você o que? Eu não posso acreditar que estava envolvido com um negócios desses! -Eu morava na rua... Passava fome, estava sozinho... Foi essa a única razão por eu ter me envolvido com isso, mas por alguma razão Bernardo me ajudou naquela época... Passei a enxergar nele uma espécie de pai, até ele me mandar na faculdade e eu descobrir que o mesmo tinha uma família a qual não me apresentara... -O que você vai fazer? -Quero corrigir meus erros... Por minha culpa, o curso da vida de Isabelle foi desalinhado, quero alinhar novamente... Com o garoto acordado e lembrando-se de sua vida a cada dia, é questão de tempo para que a verdade venha a tona... Vou entrar em contato com ela a pedido do pai dela... -Eu sabia que faria isso!
-Alô, Isabelle? Lembra de mim, sou eu Marcos, seu médico. Sobrinho de Irene...
-Marcos? Claro que lembro sim... Como está? -Estou bem e você? -Melhor a cada dia, minha vida tem um novo rumo, tantas coisa aconteceram... -Minha querida, você lembra do que me pediu para fazer se seu pai viesse procura-la. -Sim. -Ele soube que você sobreviveu, mas decidiu respeitar sua vontade de nunca mais vê-lo... -Era o mínimo que ele podeira fazer... Mas o que tem isso?
-Ele procurou por mim, disse para eu ligar para você. -Como é que é? O que houve? O que ele quer? -Ele disse que precisa ver você. -E por que razão ele acha que minha raiva dele diminuiu? -Ele disse que sua medula pode salvar uma vida. Disse que... Ele implorou, na verdade, para que você conversasse com ele. -Como ele ousa exigir isso de mim? Diga que não! Ele não é mais meu pai!
-Isabelle a pessoa que precisa de sua medula é sua irmã. -O que? Eu não tenho irmã! -Filha da atual mulher dele... Olha eu não tenho detalhes, por isso que ele quer te ver... -Eu... Marcos... Eu te ligo assim que puder, preciso pensar... -Tudo bem, Isabelle, mas lembre-se: A menina não tem culpa de nada... -Vou lembrar... Um beijo. -Beijo. -Tchau. -Até breve.
Marcos me ligara na exata hora que havia me despedido de Daniel, ou seja, a última coisa que eu esperava que acontecesse em seguida seria a ligação dele, não só falando de meu pai, mas dizendo que eu tinha uma irmã a qual precisava de minha ajuda. Fiquei muito abalada com a notícia que o mesmo me deu, nem consegui ir para minha casa, fui direto para a casa de Pietro. Precisava de seu abraço e de suas palavras. Meu coração se doía de agonia. Eu não queria ver meu pai, não estava pronta ainda, e sinceramente, não sei se um dia estarei. Sentei na sala da casa de Pietro e comecei a me derramar em lágrimas, até ouvir que Pietro chegara em casa. Ao avistar seu rosto por alguns instantes, tive a impressão de que o mesmo estava prestes a fazer uma revelação em minha direção, pois em sua face predominava uma expressão de seriedade e determinação. Pelo menos até o mesmo perceber que, diferente do dele, meu rosto estava muito sensível e ferido pelas inúmeras lembranças que torturavam minha mente.
-Meu bem, que bom que você chegou... Eu preciso de você...
Pietro veio em minha direção e abraçou-me com todo o amor e proteção que eu precisava. -Isa, você está aos prantos, o que houve? O que aconteceu? -Pietro, meu pai...
-O que tem seu pai? Você não gosta de comentar dele. -Sim... Ah Pietro... Eu preciso tanto lhe contar... -Eu estou aqui, meu amor, você pode me contar tudo...
-Meu pai me procurou... -Como é que é? Você me disse que seu pai estava morto. -Eu omiti que a parte que dizia que não era no sentido literal... -Entendo... O que seu pai quer com você.? -O que seu pai quer com você? -Antes eu preciso lhe explicar umas coisas, para você entender... -Você está me deixando curioso, Isa... -Pietro, meu pai é um monstro! Se você soubesse o que ele fazia pelas costas de minha mãe que estava morrendo... E hoje eu acabo de descobrir que tenho uma irmã...
-Nossa Isa! -Ela precisa de minha medula... -Quer dizer que... -O medico não me entrou em detalhes, mas eu suspeito que seja por conta de uma leucemia... -O que você vai fazer? -Eu não sei... Eu não consigo pensar direito... Ao lembrar de meu pai, de minha infância e saber que foi tudo uma mentira me dói tanto... Se tem uma coisa que eu não suporto é mentiras.
-Eu te amo! Meu amor, vou estar sempre contigo, SEMPRE! -Eu sei, eu também te amo, Pietro, e confio em você com a minha vida, sei que você nunca seria capaz de mentir para mim...