Se existe uma palavra que poderia descrever como estava me sentindo naquele momento, era apreensão. O pouco que eu havia imaginado sobre Júlia era que ela é uma garota doce e inocente, mas mesmo assim restava em mim uma insegurança gigantesca se minha relutância inicial para conhecê-la tivesse a deixado magoada...
Então estava novamente diante àquele hospital... Seria impossível não me recordar que foi aqui que abri meus olhos para uma nova realidade... Realidade essa que me trouxe inicialmente um terrível sentimento de solidão e amargura, que por sua vez foi substituído gradativamente por um o qual nunca mais pensei que fosse sentir: Amor... E como era bom saber que meu coração estava transbordando desse sentimento incondicional...
Momentos mais tarde... -Você está ótima, Isabelle! Se recuperou completamente! -Obrigada Marcos! Sem dúvida me sinto uma nova pessoa...
-Encontrou o que procurava em Rivieira? -Encontrei... Isso e muito mais... Consegui recomeçar por lá... Estou estudando e trabalhando em um hospital de lá... -Isso é maravilhoso!
Mal conseguia conter minha ansiedade para conhecer Júlia, então acho nem prestei atenção direito as coisas que Mauro me dizia... Saber que ela estava a poucos metros de mim... Para dizer a verdade ao colocar meus pés naquele hospital novamente acabei sentindo uma presença muito forte... Como se já tivesse uma ligação forte com Júlia sem nunca ter visto ela...
-SEM MAIS DELONGAS.... Pronta para conhecer sua irmã? -Sim!
Júlia estava inquieta, acredito que estava tão ansiosa quanto eu, que a cada passo estava mais próxima dela... -Calma Júlia, ela já está vindo... -Eu acho que ela desistiu, pai... -Não desistiu não, você só está preocupada.
-E se ela não gostar de mim?
-Isso é impossível! De repente a porta se abre.
-Olá, Júlinha! como está hoje? -Com dor de barriga... -Acho que isso é nervosismo... -Achou certo...
-Jú, tem uma pessoa aqui que quer te conhecer...
-Júlia, essa é Isabelle... Sua irmã!
Ao entrar porta a dentro e dar de cara com aqueles olhinhos amendoados analisando-me com cautela, meu coração quase parou, Porém, ao perceber que em seus lábios um tímido sorriso começara a formar-se, meu coração passou a alegrar-se de tal modo que quase saiu pela minha boca. Aquele sutil sorriso foi suficiente para contagiar o meu.
Ao se levantar da cama, pude observar seu delicado corpo. Era bem magro e de pele levemente rosada. Júlia tinha um brilho em seu olhar que revelava uma força a qual não consigo encontrar palavras adequadas para descrever. Algo forte e cheio de esperança, misturado com curiosidade.
-Então você é a famosa Júlia? -Sim... E você a famosa Isabelle? -Hahahah, eu mesma, Jú...
Em alguns instantes ficamos as sós, e começamos a conversar. No inicio percebi que ela ficava um pouco tímida e por isso demorava a se soltar, mas essa vergonha foi ficando cada vez mais fraca, a medida que conseguia arrancar algumas risadas de sua face. Descobri que sua cor preferia era azul, e que seu passatempo preferido era brincar ao ar livre, o que considerei um verdadeiro milagre com base na época tecnológica em que vivemos. Contei a ela aquilo que mais amava brincar e ela me pediu que ensinasse ela a brincar quando estivesse mais fortinha...
Ela me contou que tinha um melhor amigo no hospital que queria me apresentar, logo imaginei que se tratasse de um namoradinho e disse que podia sim, mas em uma hora melhor, pois a final já era de noite, e supus que ele tivesse com os pais essa hora.
-Eu fiquei muito feliz que pude te conhecer... Sempre quis ter uma irmã mais velha... -Eu também fiquei, Ju. Agora vou vir com mais frequência... -Vai? E vamos poder brincar? -Vamos sim é uma promessa! -Oba!!! Obrigada Isa!
-Hahahah, Não precisa agradecer! Pode confiar em mim, vou te ensinar a ser a melhor jogadora... -Eu confio.
-Alô? Ta vindo? Okay, no aguardo. Após a conversa que Bernado tivera com Marcos, ficou evidente que algo acontecia de muito errado com Irene, então o mesmo decidiu que era hora de ter uma conversa com sua velha amiga.
Na maioria das vezes em que conversavam, o assunto sempre se resolvia, mas por algum motivo, Bernardo sentia que havia algo que mudaria esse fato. Sentia como se estivesse prestes a descobrir algo de muito grave, pois seu coração se apertava com a demora de Irene.
-Reconheceria você a um quilômetro de distância... -Irene! Que bom que veio... -Eu não queria sair de casa, mas como você me disse que era importante... -Credo mulher, pensei que o rabugento era eu. -Desculpe, Bernardo, esses últimos dias não foram os melhores para mim... -O que aconteceu? -Nada de mais...
-Desembucha, irene, conheço você desde a idade da pedra, não tente omitir algo que eu sei que é importante! - Falou Bernardo com um certo tom de impaciência. -Bernardo eu estou com um tumor em minha cabeça! -O que?! Desde quando você sabe disso? -Há alguns dias... -Essas coisas são resolvidas hoje em dia, não são? -É inoperável... -O que? Aquele seu médico disse isso? Você precisa de uma segunda opinião! -Bernardo eu fui em quatro médicos diferentes... Não há o que fazer... -Não pode ser... PORRA IRENE! Quando você estava pensando em me contar? -Não estava pensando... - Os olhos de Irene começavam a ameaçar deixar escapar algumas lágrimas... -Irene você... - A voz de Bernardo falhou. - ...tem quanto tempo? -Podem ser dias... meses... ou na melhor hipótese um ano... -Irene, você sabe que deve algumas verdades à Marcos.. -Eu devo muito mais verdades do que você imagina...
-Irene, você precisa dizer a Marcos que não é tia dele... Você é mãe dele! -Ele nunca me perdoaria... -Deixe de ser teimosa, é claro que ele vai te perdoar!
-Eu não sei que conseguirei fazer o certo... -Pelo amor de Deus mulher, o que faz burrada sou eu, você conserta!
Naquela tarde... -Mauro, fico muito contente por você e Luana... -Obrigada, Pietro... Nossa, nem sei descrever o quanto estou contente com tudo que tem acontecido... Giovana é uma garota tão linda... Eu me sinto tão mais leve após ter dito toda a verdade... Mas enquanto a você? Você já contou a verdade para Isabelle e Rodrigo? -Há tanta coisa acontecendo... Quando crio coragem para falar, fico sabendo que ela tem uma irmã com leucemia que nem ela sabia da existência.
-Meu Deus Pietro... Que barra cara! -Nem me fale, Mauro... -E quanto a seu irmão? -Ele tem melhorado extraordinariamente bem nesses últimos tempos... Consegue caminhar sem ajuda... -Mas você não ia falar com ele? -Eu antes não achei que ele tivesse pronto, mas agora, acho que quem não está sou eu...
-Mas Pietro... -Eu sei o que você vai dizer Mauro, eu sei que estou sendo de um egoísmo sem tamanho... Mas eu desejo tanto aquela mulher... -E se você não quer perde-lá, eu sugiro você falar a verdade logo de uma vez... -Após a cirurgia que ela fará para ajudar a irmã, eu falarei... -Pietro... -Estou sendo sincero Mauro... Não posso ficar mais em cima do muro... -Tudo bem... Já ia esquecendo... Pietro, há alguns dias recebi um e-mail que pode lhe interessar: Fala de uma seleção para um musical em Julliart, acho deveria tentar... -Você me superestima demais, Mauro... Não sei se sou bom o suficiente para um lugar assim... -Você deveria tentar!
-Me encaminhe esse e-mail, para poder dar uma olhada!
Agora Giovana já era praticamente uma adolescente e não só estava descobrindo as emoções como as sentindo intensamente. -Giovana? -Lucas?! -Puxa como você mudou... -É... Ainda bem que as pessoas mudam, mas me pergunto se isso acontece com todas as pessoas... -Eu acho que entendi o que você está querendo dizer...
-Bem... Como tem andado, Lucas? Você sumiu da cidade... -Eu me mudei para a casa de meus tios, tive alguns problemas com meus pais aqui.
-Bem... A cidade não era a mesma coisa sem você... -É um elogio vindo de você? -Não abusa! Você está de volta a muito pouco tempo para fazer piadas assim...
-Foi mal, certos hábitos não morrem... -Sei... Mas a final, o que te fez voltar? -Eu precisava fazer uma coisa que deveria ter feito a muito tempo... -É mesmo? O que? -Isso!
Cada pequeno avanço para Rodrigo era uma grande conquista, pois se o simples fato dele conseguir ficar em pé era quase impossível para os médicos, em comparação ao que ele estava conseguindo fazer seria para muitos considerado um verdadeiro milagre!
O cansaço tornou-se seu companheiro desde que a intensa fisioterapia passou a fazer parte de sua rotina diária...
... Mas mesmo assim, Rodrigo não aguentava mais ficar preso naquele quarto... Qualquer avanço era muito pouco para o que ele esperava alcançar, somado com a certeza de que havia muita coisa das quais ele precisava se lembrar, só o deixava mais aborrecido com todos a sua volta...
-Eu preciso me lembrar...
-Droga, por quanto tempo vão me privar de meu passado?!