Eu odiava ter que brigar com meu pai, mas ele havia sido muito grosseiro. Nem parecia aquele homem que me empurrava o balanço na infância, ou que me dera força para encarar os primeiros desafios da adolescência. Por mais que eu tivesse certeza sobre o exagero de suas palavras na noite anterior, aquelas mesmas palavras me faziam analisar todo o contexto da situação. Talvez eu realmente tenha agido de forma inconsequente, provável que eu nunca mais fosse ver Rodrigo e aquele beijo seja apena algo sem grande significado que logo minha memória trataria de esquecer, o que eu me recusava a acreditar...
Eu havia saído para dar uma refletida e meus pés me guiaram até o antigo bar da cidade, coincidência ou não, Rodrigo estava lá e sorriu alegremente quando me viu. Aquele sorriso fez meu coração palpitar do mesmo jeito distinto de ontem. -Isabelle! -Rodrigo... -Parece que, a final de contas, os pensamentos tem essa força de atrair o que pensamos... -Ou de nos levar a onde precisamos estar...
-Eu queria mesmo te ver de novo... Ontem a noite... foi bom, não foi? Eu fiquei pensando o que você achou de tudo... Se você ainda quisesse me ver... Sei que tudo foi uma loucura, mas eu tenho quase certeza de que ai dentro existe uma aventureira louca para sair...
-Foi tudo maravilhoso... -"Mas"? -Meu pai nos viu... -Hum... E ele deve estar me "amando". -Ele abomina tudo que pode desviar minha atenção nessa altura da faculdade... Não leve ao lado pessoal...
-Mas o que a filha dele pensa? Essa é a parte que mais me interessa... -Eu... Não sei se é uma boa ideia... Tenho tanto medo de decepciona-lo. -Por ouvir seu coração? -Ouvir o coração é perigoso... -Quem te disse isso? -Cheguei a essa conclusão... -O que seu coração está dizendo agora?
-Ele acha isso a maior loucura que ele já se meteu... Mas ele gosta, na verdade ele sente uma atração quase que incontrolável por tudo o que você diz... É algo completamente diferente de tudo o que ele já sentiu... Ele não quer que o tempo ao seu lado seja remoto...
"Não pude acreditar que havia dito isso realmente... Quando me dei conta das palavras que tinha deixado escapar, seus lábios macios e quentes já estavam selados nos meus. Era tudo tão estranho, eu não deveria estar agindo dessa maneira, mas eu estava, por motivos que até o dia de hoje eu desconheço... Aqueles olhos esverdeados eram como a kryptonita dos meus males... Talvez agir com toda essa loucura seja o meu normal. "
-Então vamos fazer esse um dia durar um ano... Vamos resolver toda essa situação, eu prometo! você ganhou no minimo um amigo que pode contar sempre... Eu sabia desde o momento que te vi que era especial... Agora que ouvi seu coração eu lhe peço... Deixe ele gritar se você precisar... -Eu prometo.
Num piscar de olhos aquele "Um dia" virou um ano...
Dito e feito. Rodrigo havia se tornado uma das melhores pessoas no mundo para mim... Ele de fato foi conversar com meu pai, que o recebeu com quatro pedras na mão na primeira vez, mas Rodrigo não desistiu o que acabou impressionando-o, não muito, mas pelo menos fez com que seu coração amolecesse um pouco. Claro que minha mãe ajudou a convence-lo do fato de que eu estar com Rodrigo não prejudicaria meus estudos. Entretanto, apesar de meu pai ter engolido meu relacionamento, ele ainda continuava estranho, porém dessa vez não era só comigo, mas também com minha mãe...
Era um domingo a tarde ensolarado no parque. Estávamos de ferias. Nós adorávamos esse lugar, fazíamos piqueniques, andávamos de bicicleta juntos, ente muitas outras coisas que a natureza nos proporcionava. Apesar de brigarmos por conta da superproteção dele e da minha teimosia, nós sempre fazíamos as pazes. Era um relacionamento saudável, eu a cada dia ficava mais feliz de tê-lo ao meu lado, todo o dia me ensinando algo novo.
Eu como sempre avoada em meus pensamentos não havia percebido que Rodrigo parara bem diante de mim abraçando-me bem forte. Pude sentir seu hálito quente em meu pescoço, arrepiando-me o corpo inteiro. -Eu te amo Isabelle Eleonora Camerini, não importa o quanto teimosa e chata você consegue ser, eu nunca vou deixar de amar você... -Hahahaha... Eu te amo Rodrigo Perini... Sempre...
Estávamos diante do rio onde costuma nadar na infância... Era meu lugar preferido no mundo inteiro. Rodrigo sorria. Esse sorriso era muito característico de sua personalidade. Era amável e acolhedor, e era o que mais me encantava em sua pessoa. Suas mãos se encaixavam perfeitamente nas minhas, tinha um toque macio e quente como seus beijos. -Eu não quero que esse momento acabe nunca... -Não vai... O que eu sinto por ti só cresce, ma Belle...Te confesso que meus pais foram uma grande inspiração para meu imaginário de como eu gostaria que fosse minha vida ao lado de alguém... Me sinto meio bobo falando isso. -Gosto de ouvir você falar assim... -Eles tinham nossa idade... Tiveram uma vida incrível... Porém... -Eu sei... Não muito longa... -É... mas eles viveram. Tiveram uma história... Coisa que teremos juntos! -E vamos viver para ver nossos bisnetos casarem... -Hahahahah!
Rodrigo se aproximou de mim com uma rosa que ele colhera, porém um estranho calafrio subiu pelas minhas pernas e tomou todo meu corpo... -Você está bem, amor? -Estou sim, só senti um arrepio, acho que vai esfriar...
-Deixe que eu te esquentarei... Rodrigo segurou em minha cintura e me puxou contra seu corpo... Estar entre seus braças me deixava segura e protegida de qualquer mal. Ficar ao seu lado me daria forças e coragem para lutar contra qualquer coisa que precisasse.
Nossos lábios se separaram por alguns instantes e pude olhar bem dentro de seus olhos esverdeados... Ele tinha um brilho único que me seduzia e me cativava... Eu só queria ficar junto ao seu corpo... deixar esse sentimento tomar conta de mim. Essa admiração que ele tinha pela história de seus pais...
-Eu fico tentando imaginar o que se passa nessa cabecinha, toda vez que você me olha desse jeito... -Eu só sinto medo... -Medo de que? -Eu não sei... Mas me bate uma sensação de angustia as vezes... Acho que pode ter relação com minha mãe...
Nós nos sentamos em um banco próximo... É verdade que minha mãe estava me angustiando, não por suas ações, mas por como ela estava se sentindo... A algum tempo ela andava estranha, com algumas dores no peito e no corpo... Eu como boa estudante de medicina conhecia esses sintomas, mas implorava para ela ir em busca de ajuda medica, porém ela dizia que era exagero de minha parte... Mas não era... sua magreza e fraqueza comprovavam. Eu contei cada palavra a Rodrigo.
-Você acha que estou errada? -Muito pelo contrário. Você tem de dar um ultimato a sua mãe... Com saúde não se brinca, mesmo. -Eu farei isso hoje.
-E falando em dar... eu tenho uma surpresa a você... -Rodrigo... Eu falando em coisas serias e tu me vem essa... Eu já pedi, eu não sei se... -Calma mente maliciosa... Não te preocupa que não foi nesse sentido, eu respeito teu tempo. -Okay... Perdão... o que você quer me dar? -Surpresa é surpresa... Vem comigo!
Segurei em sua mão e assim fui guiada por ele até sua casa, localizada não muito longe do parque que estávamos. Rodrigo me guiou até seu quarto, onde havia um pequena sala com nada mais nada menos que um lindo piano. Ele já tinha mencionado que quando criança tinha tido algumas aulas, mas nunca que eu poderia imaginar que ele me faria ouvir o que estava prestes a ouvir. -Não diga nada, apenas se aproxime minha linda.
Seus dedos deslisavam sobre as teclas do piano. Era como se eles se tornassem uma coisa só, era simplesmente incrível o que eu estava presenciando... A musica possuía uma sonoridade a qual eu nunca tinha ouvido... Não pude evitar segurar as lágrimas que teimavam em fugir.
Meus olhos, ouvidos e coração estavam fascinados com aquele momento...
Podia enxergar paixão pelo brilho que seus olhos exalavam quando suas mãos tocavam aquele instrumento magnifico... Eu ficava simplesmente muito grata por ele ter me mostrado esse amor. A musica é o único instrumento capaz de se comunicar com a alma...
-Eu to meio enferrujado, mas acho que logo pego o jeito de novo. Essa musica que eu toquei se chama Clair de Lune... Pensei que você pudesse gostar... -Pensou certo... Eu amei! -É um sonho meio tosco meu, mas sempre sonhei em ter uma filha chamada Luna...
Ele se levantou e dei um beijo em seu rosto... Cada vez mais eu me encantava com seu jeito sonhador e vivaz... Eu tinha total certeza de que uma vida cheia emoções nos esperava... Meu coração estava cada dia mais certo de que ele e eu completávamos um ao outro...
-Meu amor, onde que aprendeu a tocar tão bem? -Na verdade o verdadeiro musico é meu irmão mais velho, Pietro, ele quem me ensinou tudo. -Você não fala muito dele... -É eu sei... Ele ficou muito abalado por conta da morte dos nossos pais, eu tinha 8 e ele 14. Ficamos sobre a guarda de nosso avô paterno que de "paterno" não tinha nada... Ele se fechou um bocado para a vida, estudando apenas piano. Essas aulas foram o que nos uniu. Depois que me mudei para a universidade perdi contato com Pietro, mas agora estou aos poucos estou recuperando minha relação com ele... Quero que te conheça... Conheça o amor da minha vida...
Eu senti novamente um aperto em meu coração... Uma sensação de angustia, meus olhos novamente deixaram escapar lágrimas apreensivas, e eu não sabia o motivo. Apenas abracei bem forte Rodrigo contra meu peito e o beijei. Notei que me olhava com surpresa e me retribuiu o beijo.
-Eu te amo Rodrigo... Eu não sei como isso é possível, mas acho que te amo desde nosso primeiro beijo...
-Eu te amo Isabelle, e nunca me cansarei de dizer isso... Amor você está bem? Estou te achando meio pálida... -Estou bem, é que... Eu estou pronta. -Pronta? Você está se referindo...? -Eu quero fazer amor contigo...
Caminhamos até sua cama que estava poucos metros de distancia. Eu estava um pouco nervosa, mas sabia que isso era normal. Imagino que ele estivesse também, seria nossa primeira vez... Muitos achariam estranho eu ainda ser virgem, com 21 anos, mas era uma opção a qual eu não me arrependera de ter escolhido, pois na adolescência meus namoros nunca foram tão longe, eu não me sentia confortável para dar aquele passo... Diferente Rodrigo havia me contado sobre a perda de sua virgindade com 16 anos, que não foi boa como ele esperava pois não havia sentimento envolvido.
Nos sentamos na cama e tudo acontecia com serenidade e tranquilidade no inicio. Ele era muito carinhoso e queria que tudo acontecesse de maneira mais romântica possível.
Pudia sentir o calor de suas mãos, seu coração batendo forte, sua respiração mais acelerada. Seu corpo era como um espelho refletindo o que meu corpo sentia. Aquele momento, mais do que todos, era um verdadeiro exemplo de que todo o resto deixava de existir.
Paramos por alguns segundos e ficamos nos olhando. Nenhuma palavra precisava ser dita para percebermos: A hora finalmente havia chagado.
Quando dei por mim já estávamos de roupas intimas. Me sentia confortável em sua presença era o momento mais erótico que já vivera em toda minha vida.
Observava seu olhos e depois seu biotipo. Ele era alguns centímetros mais alto que eu, o suficiente para eu me sentir protegida por seu abraço que mais uma vez eu ansiava muito...
Até que finalmente eu experimentara uma das melhores sensações do mundo, a qual não saberia descrever pois não existe ainda palavras que descrevam tudo que meu coração sentiu naquele momento.
Eu me sentia extremamente feliz. Meu coração era como um vulcão entrando em erupção de tanta felicidade.
-Como está se sentindo? -Eu nunca estive tão feliz quanto hoje...
Já estava ficando tarde e eu precisava, contra minha vontade, despedir-me, pois o humor de meu pai já não estava dos melhores ultimamente, ou seja, qualquer coisa que fizesse poderia deixa-lo com uma irritabilidade mais acentuada do que o normal.
-Isabelle... Eu estava pensando. Eu sei que se preocupa com a saúde de seus pais. -Onde está querendo chegar? -Eu creio que em breve vou viajar até Pietro, mas eu quero que você vá junto comigo...
-Viajar? Mas quando seria isso? -Provável que no próximo mês... Mas ainda pretendo acertar alguns detalhes com ele... -Querer eu quero muito, você sabe.
-Eu te prometo que será incrível meu amor... Você vai ver... -Você está realmente bem animado em se reaproximar de seu irmão não está? Eu amo te ver com todo esse entusiasmo... -Eu te prometo, o lugar que vamos é incrível e cheio de vida, foi onde eu cresci com meus pais e Pietro.
-Eu aceito o convite... Vou para onde você for... Vou dar um jeito com meus pais, eu já sou bem grandinha para tomar minhas decisões...
Eu estava determinada a conversar com meus pais. Não havia motivo para eu não ir viajar com Rodrigo, eu era bem grandinha para tomar minhas próprias decisões, e estava de saco cheio de toda essa superproteção. Também aproveitaria para conversar com minha mãe sobre esses mal estares que ela vivia sentindo com mais frequência, teimosia tem limite, ela deveria procurar um medico. Ao chegar em minha casa, deparo-me com ela sentada à mesa em minha espera.
-Isa! Que bom que está em casa eu tenho que falar com você... -Ótimo! Que bom que chegou Isabelle! -Tudo bem mãe, do que se trata o assunto, alias também quero conversar com os dois.
-Primeiro... Pai eu tenho 21 anos, mas você inverte os números e me enxerga com 12 apenas... Olha eu te amo, amo a mamãe também, mas acho que não é necessário toda essa proteção... -Eu só sou assim, porque me preocupo com você. -Sei que sou jovem mais eu preciso cometer meus erros para amadurecer...
-Alexandre, a Isabelle está certa. Não há motivo para tanta preocupação. Ela já está com o futuro encaminhado, é uma excelente aluna e tem tudo para se tornar uma grande medica. -Quanto a isso eu não tenho a menor dúvida, desde que mantenha o foco. -Eu estou focada, minhas notas estão exatamente como sempre estiveram, eu só estou pedindo mais espaço. -Alexandre... -Está bem! Dois contra um, vocês venceram, vou ser mais "de boa", é uma promessa. -Obrigada meu pai! Mas, antes de eu entrar em outro assunto, o que vocês queriam falar comigo? -Meu amor... Como você sabe eu estava alguns um pouco mal, e eu fiz os exames... -Qual foi o resultado, Renata?
Minha mãe parou por alguns instantes com o olhar vazio como se estivesse prestes a soltar uma grande bomba, ela então olhou para meu pai e depois para mim, forçando um sorriso.
-É apenas um vírus resistente... Vou ficar bem -Mãe eu posso ver o diagnóstico? -Claro, te mostro, deixei no trabalho.
Minha mãe levantou com uma expressão um pouco desconfortável. -Está tudo bem? -Sim! Só preciso tomar uns comprimidos que deixei la no quarto, sobre o que é o próximo assunto, amor? -Rodrigo...
-Hahaha! Claro, que pergunta boba a minha... Como está ele? Vocês estão bem?
-Ele está ótimo! Nós dois estamos bem... -Se as senhoritas me dão licença eu vou atender uma ligação, creio que falar desse tipo de assunto seja um pouco de mais para minha pessoa... -Você que sabe pai...
No celular: -Eu preciso falar com você! -Agora não é uma boa hora... -É urgente Alex... Tem haver com a Júlia. Estou aqui fora! -Vá para casa! Quando eu puder eu te ligo... -Se você não vier agora eu vou fazer um escândalo!
-Merda... Não No Celular: -Me espere... Estou indo...
Se eu ao menos supusesse tudo que acontecia bem de baixo do nossos olhos... Se ao menos eu pudesse imaginar que minha mãe escondeu sua verdadeira doença... Mas eu não podia, infelizmente. Nós não possuímos uma caixa com as respostas de perguntas que nem imaginaríamos a importância de serem feitas...
-Uma viagem? Meu amor, claro que eu acho que você deveria ir... -Mas...? -Olhe... Eu acho mesmo que você merece, mas posso te pedir que espere pelo menos um mês? -Claro... Não seria para agora...
Minha mãe parecia cada vez mais distante e apreensiva e isso me preocupava... Lembro-me de que cheguei a desconfiar que ela pudesse estar escondendo algo sobre sua doença, porém logo descartei essa ideia, pois acreditava que ela nunca seria irresponsável a esse ponto. Eu ainda não compreendia o que uma mãe era capaz de fazer para evitar que um filho sofresse.
-Mãe você tem certeza que está bem? -Sim filha... Esse remédio que me deixa meio tonta... -Sei... -Isabelle... Fique tranquila vai dar tudo certo...
Depois de conversar com minha mãe, fui atrás de meu pai. O avistei alguns metros de mim, percebi que estava conversando com uma moça loira, a qual sua fisionomia não me parecia estranha... Não pude entender o assunto o qual discutiam, pois logo meu pai percebeu que eu me aproximava.
-Pai? -Isabelle... -Eu estava mesmo lhe procurando...
-Você me é familiar... Nós nos conhecemos? -Sim, cursamos o ultimo ano do ensino médio juntas, Isabelle... -Carolina?! Meu deus, é claro... Mas você se mudou...
Lembro de Carolina ter sido minha colega no terceiro ano, ela era uma aluna brilhante, porém sempre tendo um pé atrás com todo mundo. Após o termino do ultimo ano ela simplesmente parecia ter sumido sem deixar pistas..
-A Carolina também cursa medicina, mas na capital... -Jura? Mas de onde vocês se conhecem? -A médica que atende sua mãe é minha tia e eu estou aqui para passar uns tempos com ela. Vai me ajudar a decidir que área quero me especializar... -Mas que ligação vocês tem? -Eu conheci seu pai durante uma consulta com sua mãe, mas isso não importa... A questão é que eu precisava falar com vocês sobre ela...
-O que tem minha mãe? -Eu já dei o recado que precisava dar... Agora eu devo ir. -Isso está muito estranho... -Olha Isabelle, eu já me meti de mais, agora converse você com ela... Com licença, passar bem!
Carolina deu as costas e pedi para meu pai explicar o que estava acontecendo, porém ele disse que precisava conversar com minha mãe antes. Não adiantava pedir nenhuma resposta, pois ele não me daria nenhuma disso eu tinha certeza... -Renata. -Que susto Alex...
-Você mentiu... -Menti? Do que está falando... -Você sabe muito bem do que. Você está com câncer.
-Como você soube? A Isa já sabe? -Não interessa como eu soube... Olha se você não contou é porque é grave... Ainda não sabe, mas precisa... -A medica falou que é terminal... Me deu no máximo seis meses.
-Não é possível... Deve haver algo que possamos fazer. -Não há o que fazer... Em breve eu posso não estar nem mais andando de tanta dor. -Quando você pretendia contar para nós? -Olha eu não sei... Eu não queria que vocês sofressem. -Claro, até por que é infinitamente melhor você simplesmente nos deixar...
"Aquela seria uma das mais longas noites de minha vida... No inicio me recusei a acreditar que isso podia estar mesmo acontecendo, mas estava. Câncer de pulmão naquele estágio era terminal, não precisava ser medica para saber disso... Só me restava permanecer ao lado de minha mãe até a hora chegar... O que aconteceu quatro meses depois daquelas noite. Obviamente não viajei com Rodrigo. Ele ficou ao meu lado todo o tempo me dando forças para aguentar a barra."
Aquela manhã fria de Junho parecia mais cinza do que as outras. Mesmo que me coração já tivesse tido tempo para se acostumar com a ideia de que teria pouco tempo com minha mãe, meu coração se angustiava... Aquele foi o dia em que tudo que eu conhecia e acreditava mudaria para sempre.
Rodrigo me aguardava com uma expressão serena. Ele acabou prorrogando a viagem para ver seu irmão, pois minha mãe poderia morrer a qualquer momento e ele queria permanecer ao meu lado quando acontecesse. O dia finalmente chegou.
Eu não precisei dizer uma só palavra.
Rodrigo se levantou e veio até mim. Me colocou entre seus braços quentes aquecendo meu corpo frio. Não pude segurar as lágrimas desesperadas que meus olhos deixavam escapar. Era simplesmente impossível crer que eu nunca mais sentiria as mãos de minha mãe acariciando meu cabelo em dias de tristeza.
-Vai dar tudo certo meu amor... Eu sei como deve estar se sentindo... Sei também que não existem palavras que eu possa dizer que possam de alguma forma aliviar essa dor, mas acredite em mim quando eu digo que ela te amava... -Eu sei, é só que... Eu não consigo crer...
-Olha... A vida é assim... Coisas acontecem para que outras possam acontecer... -Ela era uma pessoa tão boa, não merecia isso... -Isa...
Permanecemos algumas horas sentados conversando. Rodrigo era muito espirituoso, me fez lembrar dos melhores momentos que eu havia passado ao lado dela. -Quando eu era criança, ela costumava contar histórias de terror para eu dormir. -Isso é possível? Quer dizer... e as histórias de princesas indefesas sendo salvas por um príncipe em um cavalo branco. -Eu acho que ela queria que eu me tornar-se uma mulher independente e forte. -Ela conseguiu... foi por isso que me apaixonei por você.
Rodrigo me envolveu em um abraço muito apertado. Pude até mesmo ouvir seu coração batendo bem forte. Senti o calor de seu corpo aquecendo o meu naquele começo de inverno.
O silêncio tomou o lugar de nossas vozes. Só era possível ouvir e sentir as rajadas de vento frio batendo contra as folhas secas das arvores ao nosso redor. Em breve anoiteceria e eu teria de ir para casa. Rodrigo me distraia para tentar empurrar essa dor para longe de mim. Me contou que entre suas coisas ele achara um antigo colar de seu irmão Pietro e que gostaria muito de devolvê-lo.
-Eu devo ir... -Você que quer que eu vá com você? -Não precisa Ro... Eu acho que meu pai vai querer minha companhia hoje. -Eu entendo... É muito difícil para ele também. -No final das contas eu nunca mais perguntei para você... Como anda as coisas com seu irmão? -Estamos nos falando... Na verdade eu ia mesmo falar com você. Amanhã pela manhã eu vou de carro até a casa dele. Vai dar algumas horas de viagem, mas creio que a noite estarei de volta. Eu encontrei algo que pertence a ele, um velho colar. Quero entrega-lo.
-Jura? Fico feliz por vocês, amor... Serio mesmo. -Eu adoraria que você fosse. -E eu adoraria poder ir mas meu pai precisa de mim... Ele ficou em choque, não disse nenhuma palavra. -Você precisa mesmo ficar ao lado dele... uma hora ele vai chorar e quando isso acontecer vai precisar ainda mais de ti. -Pois é... -Mas olha me liga a noite, ou qualquer hora mesmo. Eu vou estar sempre contigo...
Depois de me despedir de Rodrigo, fui caminhando até em casa. Uma brisa fria era assoprada pelo vento contra meu rosto .Eu estava desolada, apenas imaginando o que se passava na mente do meu pai. Ele sempre foi um homem forte, mas mesmo assim me preocupava com sua saúde e seu coração... Faltavam apenas alguns passos... Passos esses que mudariam a rota de minha vida para sempre. Como eu queria dizer que cheguei em casa e encontrei meu pai aos prantos no chão e eu me atirei abraçando-o com saudade e tristeza. Pelo menos era o que eu imaginava que faríamos assim que pusesse meus pés em casa. Mas infelizmente eu estava enganada...
-Foi melhor assim... -Ela era sua esposa, vocês foram casados por anos. -Você sabe muito bem que eu nunca amei a Renata. Eu amo você.
-Pai? Onde você está? Eu tava pensando, por que você não tira uma folga... Pai?
"Criticamos muito os pesadelos, porém quando estamos em um sonho, temos a opção de acordar e toda essa dor passar. Eu daria tudo para que o que meus olhos acabaram de presenciar fosse uma ilusão de minha cabeça, um mero pesadelo, onde eu logo acordaria com minha mãe me acalmando ao meu lado." -Eu não posso acreditar...
-COMO PODE?!
-Isabelle, você tem que me deixar explicar. -CALA A BOCA! VOCÊ... VOCÊS! Vocês são nojentos! -Carolina, vá embora, depois falamos...
-EU SOU UMA IDIOTA! -Filha eu... -NÃO ME CHAMA DE FILHA! -Isabelle me deixa falar!
-NÃO! CHEGA! QUEM VAI ME OUVIR É VOCÊ! A QUANTO TEMPO? -A primeira vez foi a 5 anos... Passamos um tempo separados e depois...
-CALA A SUA BOCA! -NÃO FALA COMIGO ASSIM, EU SOU O SEU PAI! -PAI?! QUE MERDA DE PAI PORRA NENHUMA! Presta atenção no que vou lhe dizer... Eu nunca mais quero olhar na sua cara Alexandre... Eu acabo de me tornar órfão. EU TENHO NOJO de você. Nojo!
"É impossível descrever a dor que estava sentindo. A unica coisa que eu conseguia pensar era de sair daquele lugar com Rodrigo, para nunca mais voltar... O tempo escurecia e era possível ouvir os primeiros raios da chuva pesada que se encaminhava." -Atende Rodrigo, pelo amor de Deus...
-Alô? -Rodrigo... -Amor, o que houve, está chorando! -Eu te imploro amor faz as malas e me busca agora! Me tira daqui!
-Calma... Estou te ouvindo, mas me fala o que aconteceu. -Depois eu falo, eu preciso te ver... Me ajuda, amor... Me tira desse inferno, eu te imploro... -Minhas malas estão prontas! Em quinze minutos estarei ai...
"Se ao menos eu pudesse prever que aquela seria a ultima vez que eu veria seus olhos brilhando perto dos meus..."
-Amor o que houve? -Rodrigo... Meu pai é um monstro... Ele não é mais meu pai... Ele...
As palavras sangravam em meu coração e pesavam em meus lábios. A dor e decepção não permitiam que eu falasse com clareza aquilo que meus olhos gravaram na memória. Chorava lagrimas pesadas, de rancor e ódio, Não havia alívio apenas mais dor.
-Tudo bem amor, respire... Eu estou aqui e não vou deixar que você sofra mais. Eu te amo. Confia em mim? -Confio com a minha vida... -Eu nunca vou te abandonar... Nunca!
-Está me ouvindo? Nunca...
-Eu te amo tanto Rodrigo... -Eu te juro que sempre vou te amar, não importa o que aconteça... Eu prometo...
"Depois disso começou a cair uma chuva que eu jamais tinha visto antes. Ele perguntou se podíamos esperar ela passar e eu disse para sairmos de la o quanto antes... A culpa foi minha... Eu deveria ter ido no lugar dele e não ele! O resto da história o senhor já sabe."
-Eu me lembro de tudo... Eu nem... Pude ir ao enterro de minha mãe ou dele. Eu não sei o que vou fazer agora...
Marcos ouvia atentamente cada palavra que eu buscava de minha memória. Levantou-se permanecendo em silêncio por alguns breves segundos. Deduzi que estava absorvendo minha história da mesma maneira que eu me convencia de que tudo aquilo era um grande fato.
-Isabelle... Eu não sei o que te dizer... Agora que confirmei sua identidade deveria procurar seu pai... -Por favor não faça isso. -Nós temos uma política a seguir. -Eu lhe imploro... É melhor para todos que ele pense que eu estou morta. -Eu não posso fazer isso.
-Marcos, você pode dizer que eu perdi a memória... Eu não vou suportar olhar para a cara desse homem de novo. -Eu posso perder o meu emprego por isso... Espero que eu não me arrependa Isabelle. -Eu juro que um dia eu ainda vou te recompensar por isso. Posso te pedir mais um favor? -Desde que não seja perigoso... -Não é. Você sabe me dizer onde tem uma farmácia aqui no hospital? -No primeiro andar, mas você não pode comprar medicamentos sem receita medica -Eu sei. -Acredito que entre seus pertences resgatados tenha sobrado uma quantia de dinheiro. -Eu imaginei... Obrigada por ter me avisado. -Acho que nos veremos dentro de algumas horas, quando eu lhe der alta. -Até lá então.
Para minha surpresa uma das coisas que estava entre meus pertences era o colar que Rodrigo queria entregar pessoalmente a seu irmão. Eu percebi então que tinha um dever a cumprir com meu amado.
Passei um mês em coma. Mesmo medicada contra dor física, nada seria capaz de diminuir minha dor psíquica. No meio daquela noite eu caminhei até a farmácia que Marcos comentara mais cedo. Comprei algo que me ajudaria a esconder os fantasmas de meu passado e dessa forma eu poderia recomeçar do zero. Porém antes eu tinha que fazer uma ultimo favor a Rodrigo: Entregar o antigo colar que o mesmo havia pegado escondido de seu irmão na infância e devolvê-lo a seu verdadeiro dono. -Posso te ajudar moça?