Era duro, mas eu precisava me afastar, pelo menos naquele momento. Meses haviam passado-se, mas minha conexão com Rodrigo parecia estar ainda mais forte e intensa. E isso estava me trazendo culpa. Culpa essa que pela lógica eu sabia que não deveria sentir, mas que mesmo assim sentia gritando dentro de meu coração.
-Isabelle? Está tudo bem? Você ficou quieta de repente. O que Houve?
-Você morreu, Rodrigo... Foi isso que houve. -Olha... Eu não sei se você prestou bem a atenção, mas eu estou bem vivo aqui. -Eu sei, Rodrigo... Você não tem ideia do quanto eu desejei ter morrido... E se não fosse pela sua vontade de reencontrar seu irmão... Eu sinceramente, não sei o que teria feito... -Nem fala algo assim, Isabelle! Nunca. -Rodrigo, sua morte foi para mim como se tivessem me arrancado do mundo e me jogado no vácuo do espaço. Eu me sentia mais morta do que viva. -Mas você conseguiu recomeçar, mulher.
-Rodrigo... Você não compreende... -Acho que quem não está me compreendendo é você, Isa.- Disse com firmeza, mas sem parecer rude. Rodrigo levantou-se e veio em minha direção. Provavelmente o rítmico de seus passos estava normal, porém aos meus olhos ele parecia se mover em câmera lenta.
Não pude conter ás lágrimas que meus olhos, falhos, deixaram escapar, pois quando me virei em direção a Rodrigo o mesmo sem pensar segurou minha mão. Era a primeira vez no meio dessa confusão toda que consegui definir o que estava sentindo: Saudade. -Isabelle, eu não sou nem louco de cogitar que você largue tudo que conquistou nesses últimos meses para tentar recomeçarmos do ponto em que paramos. Estou bem ciente de tudo que aconteceu em sua vida enquanto eu estive ˜morto˜. Eu não vou negar também que o que eu sinto por você está mais forte do que nunca. Entretanto, estou aqui diante de você para te fazer uma promessa , independente do que você escolha fazer agora, eu irei compreender e procurarei me adaptar a essa nova realidade.
As palavras de Rodrigo trouxeram-me um conforto inexplicável. Mesmo eu me sentindo completamente diferente do que eu era antes daquele acidente, ele conseguiu dizer exatamente o que eu estava precisando ouvir naquele momento. Já que estava escurecendo resolvi convida-lo jantar em minha casa, e ao colocar os pés dentro de la me deparo com Júlia me olhando com uma cara de quem estava aprontando. Para minha feliz surpresa, minha irmã havia recebido alta mais cedo do que esperávamos. -Júlia? Fofinha nem creio que você está aqui, já parece melhor!
-Estou feliz por estar em casa também, aquela comida do hospital estava me deixando mais enjoada do que a quimioterapia. Ué você trouxe alguém com vo...?
-Rodrigo?! Não posso acreditar! -Ué, digo eu... Vocês se conhecem?
-Sim, Isabelle! Ele foi meu melhor amigo la no hospital!
O brilho nos olhos de Julia, ao ver Rodrigo passando pela porta, foi algo simplesmente encantador. O sorriso que acompanhava este olhar, era algo que eu jamais tinha visto antes.
Enquanto eu, Júlia e Rodrigo conversávamos animados, a situação era bem diferente na casa de Marcos... Como todos os últimos acontecimentos eram bastantes recentes, Marcos andava bastante preocupado com a possível perda de licença para exercer a medicina. Tudo dependia de Rodrigo denunciar ou não as mentiras. Todavia, o que Marcos não suspeitava, era que suas preocupações estavam apenas começando... -Tia, você sabe onde...
-Tia!!! Marcos encontrou Irene jogada no chão frio de seu quarto, revelando um provável desmaio. O segredo de Irene estava perto de ser descoberto.
-Carla, chame a ambulancia! Minha tia desmaiou!
Mais tarde no hospital... -Marcos, como você está? - Perguntou Carla com preocupação. -Como você acha que estou, Ca? Eles não me deixam chegar perto dela! -Ela está sendo examinada, por um dos melhores médicos do hospital, tenha calma, está bem? Se exaltar não ajuda você e muito menos sua tia!
Marcos sabia que tudo aquilo que Carla lhe dizia era a mais pura verdade, mas mesmo assim, sentia seu coração se apertar e uma imensa angústia tomar conta de cada centímetro de seu corpo. Sem qualquer tentativa de evitar, Marcos rendeu-se as lágrimas que a tempo pediam para sair. Carla se aproximou no mesmo instante e o abraçou bem forte. -Vai ficar tudo bem... Estou aqui com você, não vou sair do seu lado, viu?
-Eu não sei o que fazer... Ela é tudo o que eu tenho... -Agora só nos resta esperar, querido... -Eu preciso avisar... -Deixa que eu faço isso, você precisa estar aqui quando ela puder receber visitas.
-Eu não sei o que faria sem você, Carla...
Momentos mais tarde... -Irene, minha amiga, como você está? -Me sinto tão fraca, Bernardo... -Você vai sair dessa! -Ah meu velho amigo... Você sabe que não... -Você precisa falar com Marcos, você deve isso a ele.
-Você já foi ver sua tia? Fiquei sabendo que ela acordou, já. -Ainda não... Eu não sei o porquê, mas estou com um pressentimento ruim. -Bobagem, Marcos, ela é sua tia! -Eu sei... Eu já irei... -A propósito, ja liguei para todos os mais próximos dela. Aquele seu amigo, já chegou inclusive.
-Quem, o Bernardo? -Esse mesmo! -Nossa Carla eu não sei por onde começar a agradecer... -Você sabe que não precisa... -Preciso sim. Você sempre esteve lá. Sempre. Em todos os bons e maus momentos. É mais do que minha melhor amiga. -Marcos, o que você... -Estou apaixonado, Carla, por você! E não é de hoje. Antes de toda essa confusão acontecer, eu estava planejando dizer isso, mas com tudo isso... -Marcos eu... Eu... te amo.
Não muito mais tarde... -Alô? -Alô, boa tarde! Luana está? -Ela está no banho agora, talvez se ligar daqui a pouco... -Nós ligamos para informa-la de que Irene Daphné está hospitalizada e temos esse numero como contato de emergência. -Meu Deus... Obrigada pelo aviso! Pode deixar que falarei com ela.
Mauro sentiu uma angústia enorme, pois sabia o quanto Luana sofreria quando soubesse que Irene, que lhe era como uma mãe, estava hospitalizada. Todavia, havia prometido para si mesmo que sempre seria franco, não apenas consigo mesmo, mas com todas as pessoas que lhe são importantes.
-Eu ouvi o telefone tocar. Era alguma coisa importante? -Luana... -Ai meu Deus... Pela sua expressão.... O que houve Mauro?
-Meu amor... Não há maneira fácil de falar isso, mas parece que Irene está realmente doente... Ela está hospitalizada no Revieira Hospital... -Meu Deus! Mas o que ela tem? Eu sabia que tinha alguma coisa de errado com ela... A quanto tempo ela está hospitalizada? -Lu, eu realmente não sei... -Meu Deus do céu... Irene...
Mauro abraçou-a confortando e compartilhando de sua preocupação com Irene... Ter o controle da vida, não passa de uma mera ilusão, pois se num minuto tudo parece bem, no outro tudo o que estamos habituados pode se dissolver em cinzas, virando nosso mundo de cabeça para baixo.
-Eu preciso avisar Isabelle...
... -Quer dizer que vocês já se conheciam? -Sim, Jú... - Respondi não segurando um sorriso para Rodrigo. -Mas a quanto tempo? - Questionou Júlia, curiosa. -Tudo era tão diferente que parece que foi em outra vida... - Falou Rodrigo sorrindo para Júlia, que estava tentando compreender o que ele havia dito.
-Como assim? -Sua irmã tinha um cabelo longo e Loiro escuro... Sempre estudando... Foi num dia assim que a conheci... -Você tinha irritado algum professor, não tinha? -Ai eu já não me lembro... Acho que perdi essa memória. - Disse Rodrigo rindo para mim. -Que coisa feia, ficar mentindo! Pensa que não te conheço? -Okay... Okay... Eu me lembro desse fato.
Todos rimos da falha tentativa de Rodrigo.
Enquanto conversávamos, percebi que havia quatro chamadas perdidas de Luana e uma mensagem da mesma. O que me deixou surpresa, pois Luana nunca ligava tantas vezes consecutivas.
"Isa, por favor me liga! Irene foi hospitalizada, e creio que seja grave! Ela está no Revieira Hospital, e eu estou indo para la nesse exato momento! Beijos. Luana."
-Meu Deus...
-Isa? -Precisamos ir ao hospital! Irene está mal!
-Calma, o que houve? O que ela tem?
-Eu não sei... Só me disseram que ela está mal... Preciso ir... -Calma, não vou deixar você ir sozinha nesse estado! Júlia você avisa seus pais que eu e a Isa fomos ao hospital? -Sim, Rodrigo, pode deixa comigo! -Obrigado tampinha.
Quase que simultaneamente, enquanto Pietro havia acabado de reservar sua passagem, seu celular toca. Por coincidência era Mauro, justamente a pessoa que Pietro planejava contatar naquele momento. -Fala cara! Eu estava justamente pensando em te ligar. É oficial: Dentro de sete dias viajarei. -Pietro, isso é ótimo cara! Serio, fico muito feliz por você! -Seu tom de voz está meio estranho, aconteceu algo? -Pietro, você se recorda de Irene? -Sim, é claro, foi ela que acolheu a Isabelle, quando ela se mudou para ca... O que tem ela? -Pietro ela está muito mal... Pelo o que o hospital falou ela n tem muito tempo de vida...
Imediatamente, Pietro pensou em Isabelle... No quanto ela estaria mal... Quase como num reflexo, ele imediatamente se encaminhou até o hospital, pois sabia que encontraria ela lá... Jamais poderia suportar ela estar passando por isso sozinha...
Longe dali... -Isa, você precisa ser forte... -Ai Rodrigo... Eu não aguento mais perdas em minha vida... -Ei... Isa me escuta com atenção, sim?
-Sim... -Isa, eu estou aqui, está me entendendo? Eu estou aqui é não irei sair daqui do seu lado! Eu não vou te abandonar... Nunca!
Os olhos de Isa inundaram-se de lágrimas desesperadas... Passamos a vida tentando ser fortes e inabaláveis o tempo todo, que as vezes esquecemos que permitir fragilizar-se é tão importante quanto superar os problemas, e que isso não te faz ser mais fraco, e sim mais humano. Permitir-se sentir e deixar escapar através de lágrimas, é dar o primeiro passo para o alívio da angustia e dor que o sofrimento nos trás...