... Eu ainda estava um pouco cansada, mas nem isso me impedia de ir onde eu estava indo. Marcos sugeriu que eu permanecesse mais tempo no hospital, mas eu não suportaria ficar deitada olhando para o "nada" enquanto minha mente continuava processando o "tudo", ou pelo menos tentando. Eu enlouqueceria. Passei pelo menos uma meia hora tentando encontrar o túmulo de minha mãe. Por conta dos acontecimentos eu não pudera estar presente em seu enterro.
-Eu queria que tudo fosse um sonho ruim... Me desculpa mãe... Eu não podia continuar na mesma casa que aquele homem. Eu não podia... Oh Deus! como eu queria que você estivesse aqui, mãe! Eu estou tão sozinha...
Meu coração estava em pedaços, mas eu sabia que teria que ser forte para superar isso... A vontade era de simplesmente sumir, mas eu não podia... minha mãe daria tudo por uma chance de viver. Eu continuaria forte. Por ela. Eu quero que ela se orgulhe de mim onde estiver...
Eu estava lutando com todas as minhas forças, mas também queria muito que Rodrigo estivesse comigo... Se ao menos houvesse um túmulo para visitar, porém seu corpo era como as cinzas da madeira queimada pela lareira acesa no inverno. Não tinha sobrado nada... Apenas lembranças...
Tudo estava tão silencioso... Marcos tinha me emprestado um pouco de dinheiro para ajudar com a minha viagem, uma completa estranha. Essa seria uma dívida que eu jamais podeira pagar.
Minha mente estava explodindo, pois não tinha a menor ideia de como começar essa busca por Pietro. A cidade natal de Rodrigo tinha o nome de Riviera, que por sua vez era gigantesca. Era um grande desafio encontrar uma unica pessoa.
Porém pouco antes de eu deixar o hospital, Marcos me dera uma boa dica para começar minha busca...
-... E então? O que achou? Confesso que sempre tive um desejo secreto de ser ruiva... Cortar meu cabelo foi um pouco mais complicado, eu tive ter muito cuidado para não cortar demasiado.
-... No minimo bastante diferente... Eu não lhe reconheci, mas em fim... Você já sabe minha opinião em relação ao hospital. Ainda acho que você devia passar pelo menos uma semana se recuperando. -Eu estou bem Doutor... Eu preciso mesmo ter que partir. Você sabe... -Eu compreendo. Você sabe ao menos por onde começar? -Não muito. O que eu sei da cidade é que é bem grande.
-Bem... Pelo o que você me contou o tal Rapaz é pianista... Isso já reduz bastante o numero. Eu conheço um hotel que você pode ficar. É de uma parente minha, ela cobra pouco e se você contar 5% da sua história é capaz de ela te deixa ficar de graça em Riviera. -Serio? Meu Deus! Juro que não consigo crer... Eu prometo que um dia vou pagar cada centavo... Marcos você tem sido mais que um medico para mim, mas por que me ajuda tanto? Não estou reclamando só estou curiosa.
-Eu apenas acredito que todos merecem uma segunda chance.
-Eu sempre acreditei nisso... Mas hoje acho que depende o que as pessoas fazem... -Isabelle vou lhe dar um conselho: Evite guardar rancor na sua vida. Isso pode ser como a maça podre em um cesto de frutas. -Eu agradeço o conselho, Marcos... Mas não sei se sou capaz de perdoar o que meu pai fez... -Bem... Então eu acho que só me resta desejar-lhe boa sorte Isabelle. Faça o que tem que ser feito.
-Obrigada mais uma vez por tudo Marcos... Vai dar tudo certo...
-"Vai dar tudo certo"... Nossa me sinto como uma atriz representando para todos que é alguém forte e destemida... Mas agora...
-Eu diria algo como: "minha vontade" é de fazer alguma coisa... Porem acho que essas palavras perderam o significado no meu dicionario...
Demorei, mas cheguei. O quarto que a Sra. Daphné conseguiu para mim era mais que bom. A medida que a noite avançava o inverno ficava mais rigoroso. O máximo que eu pude fazer por mim era tomar um banho revigorante para limpar meu corpo e renovar minha alma.
Porém eu permanecia sem sono, então comecei a mexer no computador para começar a procurar por Pietro.
Para minha surpresa apareceram mais de 67 lugares na cidade com locais que tinham piano ao vido... Era melhor do que sair batendo de porta em porta procurando por alguém cuja nem foto eu tinha...
Minha madrugada foi bastante agitada, pois estava decidida a encontrar Pietro e por esse motivo, passei a noite inteira anotando endereços desses locais para no dia seguinte conseguir encontra-lo.
Não muito longe dali a noite também ameaçava ser bastante agitada...
-Carla? Pensei que já tivesse ido para casa. Pelo o que eu sei você não tem plantão hoje. -Na verdade doutor... Eu precisava conversar com o senhor. É a respeito do caso da paciente que recebeu alta... -Hum... Tudo bem eu até imagino...
-Eu odeio me intrometer em casos como esse, mas percebi que o senhor esteve bastante ligado com a situação da garota. Eu gostaria de entender porque concordou em ajudar tanto ela? Tem algo haver com o paciente que a acompanhava no acidente. -Carla sente-se, vou preciso lhe confessar algo...
-Olhe a coisas que eu não posso lhe contar,pois isso significaria perder minha licença media. Mas eu peço que confie em mim quando digo que nem todas as decisões que temos que tomar são fáceis. E a pior parte é estar em busca de uma razão "certa" para tomar essas decisões, onde o "certo" é basicamente invisível. -Doutor eu não estou compreendendo. O senhor fala por enigmas...
-Houve sim um motivo a mais para querer ajudar a paciente?
-Digamos que eu me sentia em débito... Ainda me sinto...
-Mas se você se sente assim, tem certeza que tomou a decisão certa? Isso não deveria te trazer paz? Marcos... Eu me dirijo agora como sua amiga... Você tem certeza que não quer me falar? Você está tão aflito...
-Ah minha querida Carla... Eu agradeço por se preocupar comigo... Mas realmente é melhor esquecermos esse assunto. O que esta feito...Está feito... -Saiba que pode contar comigo.
O dia amanheceu mais rápido do que eu imagina. Hoje eu começaria minha busca por Pietro. Admito que estava bastante ansiosa para conhece-lo. Imaginava que talvez fosse parecido com Rodrigo e isso me deixava com um pouco mais de ânimo para seguir com a busca.
Decidi por segurança manter o motivo de minha vinda a cidade, em volta de meu pescoço por precaução. Me senti como se um pedaço significativo de Rodrigo estivesse comigo dando-me sorte para seguir.
O primeiro local que eu fui visitar tinha o nome de Jazz club. Era bem famoso pelo que eu havia lido na noite passada
Era sem duvida um lugar bonito. A entrada dele me lembrou um pouco os filmes antigos de velho oeste. Parecia estar um pouco vazio, o que não era estranho sendo que o relógio marcava exatamente 9h quando cheguei.
-Olá? Alguém por aqui? Assim que pus meus pés naquele local percebi que era impossível alguém não perceber que uma pessoa entrava no estabelecimento, pois o ruído do chão de madeira antiga denuncia qualquer passo que alguém precisasse dar.
-Oi! Aqui garota! O que posso ajuda-la?
Uma mulher que aparentava ter seus 35 anos de idade respondeu-me. Tinha um sorriso simpático, mas um olhar cansado, como se tivesse trabalhado a noite inteira.
-Primeiro um copo da água por favor. -Não é daqui certo? -O que me denunciou? -Sotaque. E a educação. As pessoas daqui não são lá um exemplo de etiqueta. Como se chama?
Exitei um pouco em dizer meu nome. Pois tive medo de meu pai procurar por mim. Mas decidi falar.
-Meu nome é Isabelle. -O que te trás aqui? -Percebi que tem um piano por aqui. Eu procuro uma pessoa que toca piano. Você conhece um pianista com o nome de Pietro?
-Vish... Trabalho aqui a alguns anos. Se eu te disser que esse nome me é estranho, vou estar mentindo, porque me é familiar, mas agora de onde... Não vou conseguir lembrar... Se alguém chamado Pietro tocou piano por aqui, faz uns 5 anos no mínimo... Desculpa não posso ajudar...
-Tudo bem moça.. -Eliane. -Obrigada Eliane..
Passei por mais 6 estabelecimentos e nada de encontrar Pietro. No final do dia eu estava muito cansada, sendo que eu ainda estava me recuperando do coma e não era para nem sequer eu ter saído do hospital. Ao chegar no meu quarto nem tive tempo para descaçar, pois um barulho do lado de fora de meu quarto chamara minha atenção.
Saí as pressas e com muita curiosidade sobre o que estava acontecendo. Avistei uma mulher de cabelos escuros e traços orientais extremamente inconformada e com uma expressão de quem estava prestes a chorar. -Moça você está bem? -Perdão se lhe causei algum incomodo com o ruido que fiz...
Ela realmente parecia estar como uma bomba prestes a explodir. Se ao menos a maioria das pessoas sobressem o valor que um pouco de atenção e compaixão tivesse. Muitas palavras ditas em momento de ódio não seriam ditas de fato. -Eu sou Luana... Como você se chama? -Isabelle... Sei que não me conhece, mas eu percebo que está precisando de alguém para conversar. Eu acabei de me mudar então...
-Vou perder minha filha... O pai dela queria que eu tivesse abortado ela quando descobri que estava grávida, mas eu não abortei, eu fugi. Entretanto tive a infelicidade de esbarrar com ele à duas semanas quando buscava Giovana na Escola... Ele está fazendo da minha vida um inferno... Eu não sei se vou aguentar...
-Ele não pode fazer isso... -Ele pode fazer tudo que quiser, ele é rico...
-Mas ele sabe que você está aqui? -NÃO! Eu me mudei para esse hotel agora mesmo... Ele não pode sonhar que eu estou aqui. Quero que ele pense que eu sumi da cidade... Mas e você Isabelle? O que te trás a Riviera? -Recomeço... Minha mãe faleceu a pouco... Porém antes de recomeçar de fato tenho que fazer um ultimo favor a um amigo que também faleceu... -Eu realmente sinto muito.
Conversamos bastante do lado de fora do quarto, mas então decidi acompanhar Luana para ver se sua filha estava bem. Acho que pelo menos teria uma amiga para conversar enquanto estivesse na cidade.
Luana contou-me que tinha recém terminado o ensino médio quando descobrira sua gravidez, realmente tinha tido uma vida bem dura e para piorar ela corria perigo de perder a guarda de sua unica filha...
Ela me contara que disse para Giovana que seu pai tinha falecido em um acidente de carro, porque não merecia saber o que de fato havia acontecido... -Mãe? Alguém está ai?
-Meu amor... Desculpa ter-lhe acordado minha florzinha amada... Eu estava conversando com uma tia... -Você está bem, mãe? -Estou... Agora estou. Antes eu estava preocupada com uns assuntos, mas está tudo bem...
-Luana pode contar comigo quando precisar conversar... Falo serio... -Eu sou grata Isabelle... Muito grata mesmo...
De longe eu observava o grande amor que Luana tinha por sua filha e cheguei a conclusão que esse era o amor mais sincero a absoluto que existia... Como era bom presenciar o melhor lado do ser humano: O que cuida. O que se importa...
Isso me trazia uma nostalgia tão boa... Meus olhos se fechavam e canalizavam um passado distante, onde eu sentia esse mesmo sentimento... Como é bom poder guardar as pessoas que eu amo em meu coração e memória.
-Ahhhh! Mãe vem aqui!
"Eu deveria ter uns 6 anos..."
-Amor, o que houve? Outro pesadelo? Já estou aqui... -Mãe eu to com medo... A Samara vai me pagar mãe... -Filha... Por isso que eu não deixo você assistir certos filmes...
-Desculpa... Mas e agora como vou dormir? -Eu fico com você até o sono vir está bem? -Tá... -Hum... Vejamos... O que você acha de eu contar uma história bem legal?
-Conta aquele que você contou ontem... -Hahahaha, mas de novo? -É minha preferida...
E assim era a maioria de minhas noites... Abraçada com minha mãe ouvindo suas histórias sobre princesas guerreiras que não tinham medo de correr atras de seus sonhos, ou depender de príncipes...
-Mãe? -Fala meu amor... -Eu te amo. -Também te amo minha vida...
Trazer a tona essas lembranças, fizeram meus olhos libertarem algumas lágrimas... Tentei sair do quarto sem que percebessem, com fracasso, para não atrapalhar esse momento.
-Isabelle? Está tudo bem? -Está sim... É que eu lembrei da minha mãe... -Meu Deus... Eu sinto muito, minha família costumava acreditar que quando um ente querido partia virava uma estrela que nos observava e nos ilumina em total momento de escuridão... -É uma crença linda Luana... Obrigada por me contar, eu precisava mesmo ouvir tais palavras...
-Eu conto para Giovana essa lenda toda fez que ela me questiona sobre seu pai. -Ela parece ser uma doçura de garota. -Ela é... Claro, como toda boa pré-adolescente ela as vezes é dramática... -Sabemos como é... Já tivemos a idade dela... -Mas mudando de assunto... Tem alguma maneira de te ajudar com sua procura?
-Eu procuro por um cara chamado Pietro, eu só sei que ele é Pianista e que trabalha com isso aqui nessa cidade... -Olha... Eu... Espere! Eu conheço um Pietro... Mas ele... -O que? -Não pode ser... Pietro Perini? Você não vai achar ele em nenhum clube dessa cidade.
-Você está me dizendo que conhece Pietro perini? Pianista? -Ex pianista na verdade, desde que seu irmão faleceu ele nunca mais tocou... Mas quando tocava ele odiava os cubes de Reviera e por isso preferiu uma cidade menor... -Eu não acredito! Foi destino ter te conhecido, só pode...
Não podia acreditar na sorte que eu tive... Luana me explicou que se eu corresse pegaria o ultimo ônibus para a cidade ao lado. Ela falou que Pietro tinha um gênio bastante forte... Mas isso não importava... Eu não podia acreditar que conseguiria cumprir meu objetivo... Era a primeira vez que eu me sentia feliz de novo depois de tantas tragedias...
Cheguei na cidade vizinha pela manhã e o estabelecimento já estava aberto. Obviamente não havia ninguém e eu teria mais tempo para conversar com a dona do lugar para me dar o contato do Irmão de Rodrigo...
Mal pude conter meus pés que corriam na mesma velocidade que meu coração palpitava de ansiedade...
Cheguei ao local um pouco agitada de mais... Tanto que a mulher um pouco robusta de cabelo castanho a cima das orelhas olhou-me de cima a baixo e sorriu... -Que pressa é essa forasteira? Posso te ajudar? -Desculpa moça... É que eu preciso muito encontrar uma pessoa que trabalhava aqui. -Hahahaha, acho que antes me deixa servir um drinque... Você está merecendo . Já que inverno não existe nessa cidade eu tenho que lidar com clientes, sede e calor... -Obrigada... -E então ruiva? Como posso ajuda-la?
Eu estava com uma sensação no peito... Parecia que ia explodir... Eu queria ter essa conversa a sós com a mulher, mas não poderia imaginar que um cara fosse se sentar ao me lado. Isso me intimidou um pouco admito, mas quem sabe ele pudesse me ajudar, também...
-Moça?
-Eu estou procurando um um homem com o nome de Pietro, eu sei que ele trabalhou aqui como pianista então imagino que a senhora deva conhece-lo.
-Antes de eu responder a sua pergunta... Por que precisa falar com ele?
Não me senti confortável para contar toda minha história então preferi resumir o máximo possível... -Eu preciso entregar algo que pertence ele. -Hum... O que exatamente?
-Sem ofensa mas é algo pessoal...
-Ah... Tudo bem eu não ia poder te ajudar igual... -Por que queria saber? -Por que eu adoro escutar história de vida dos outros...
Droga! E assim eu voltava a estaca zero... Pelo menos havia uma cidade a minha volta onde eu poderia começar a procurar... Aquela mulher claramente escondia alguma coisa, porém eu acabaria sendo expulsa do local se resolvesse discutir com a mulher... O homem ao meu lado não disse uma palavra, mas eu percebi que o mesmo me olhava de canto e isso começou a me irritar um pouco. Foi mais um motivo para eu querer me retirar do local...
Ao me dirigir a saída, mal poderia imaginar que as coisas estariam prestes a mudar de novo.
-Hey! Espera!
-Pois não? -Espera ai, vou descer...
-Você me deixou curioso... O que quer com Pietro? -Eu tenho que entregar uma coisa que pertence a ele... -E ai que eu não entendo, como algo que pertence a ele pode estar com alguém que ele nunca viu antes? -Você conhece ele? Sabe onde eu posso encontra-lo? -Sim e sei... -Onde está ele?