Era difícil conseguir descrever tudo que eu estava sentindo... Ver Rodrigo depois de todo aquele tempo despertou-me uma lembrança adormecida de uns cinco ou seis anos atrás quando nossos únicos conflitos envolviam escola e estudos. Por mais que eu tentasse enfiar juízo na cabeça de meu irmão, ele insistia em querer viajar mundo a fora. Não cabia a mim dizer sim ou não, mas de qualquer forma eu sempre lhe disse que estava ao seu lado. E estava.
Uma onda de calor sucumbiu meu coração, pois um sonho que eu julgava completamente impossível acaba de tornar-se realidade bem diante à meus olhos. Corri até Rodrigo e o abracei o mais forte que conseguia... Meu avô tinha finalmente dito a verdade! Mas por que Diabos foi me falar sobre Rodrigo somente agora? Isso seria algo que eu resolveria mais tarde, pois tinha assuntos mais importantes a tratar nesse momento... -Deus... Eu sinto um alívio tão grande no peito... Acho que eu esperava muito por esse abraço... -Nós esperávamos isso, Rodrigo! Por Deus, meu irmão, que saudade...
Rodrigo mais uma vez arriscou-se ao impulsionar seu corpo para frente com o objetivo de abraçar seu irmão mais velho... -Vou deixa-los sozinhos para conversarem._ Disse Bernardo não muito certo de sua ação, pois temia o que Pietro poderia revelar. -Rodrigo, vamos nos sentar... Você está fraco... Rodrigo estava bastante debilitado, eu nunca o tinha visto tão fraco como agora, mas nunca estive tão feliz em poder vê-lo...
-Eu ainda não estou acreditando... Você está vivo! -O médico me falou que não há uma lógica que explique o porquê eu continuo vivo... -Do que você se lembra? -Muito pouco... Não sabia nem quem eu era quando acordei... -Você sabe quem eu sou? Lembra de mim?
-No momento que você entrou pela porta meu coração se apertou, eu soube que não apenas te conhecia, mas que significava algo muito forte para mim... Parece que estava a anos aguardando para poder te dar esse abraço... meu irmão... -Rodrigo... Você não sabe o quanto eu me arrependo do último dia que nos vimos eu não... -Pietro, eu não me lembro... Não sei o que eu fiz da minha vida, não me lembro de quem conheci ou deixei de conhecer... E se é uma lembrança muito dura, eu prefiro deixar para trás, sabe? Esquecer... Marcos, me falou para ir com calma... -Marcos? -Meu medico, por quê? -Esse nome me é familiar... -Bem... O que importa é que você está aqui, meu irmão... E sei que vai me ajudar... -Sempre! -Pietro, faz sentido, cada vez que eu te olho, me vier um piano na cabeça? Eu gostava?
-Você nem faz ideia do quanto...
Aos poucos a sensação de estranheza que sentia ao ver meu irmão bem diante de meus olhos ia passando e apesar das grandes lacunas em sua memória eu podia sentir que o mesmo já confiava em mim da mesma maneira que sempre confiou. Eu podia ver em seus olhos a ânsia por respostas, ao mesmo tempo em que pude perceber ele mesmo convencendo-se a esperar pelas mesmas. Me perguntava se ele tinha noção de quanto tempo passou entre a vida e a morte... Tantas coisas aconteceram nesses cinco meses após o acidente... Enquanto eu conversava com meu irmão, Isabelle estava visitando uma velha amiga: Luana. Fazia algum tempo que ambas não se viam, mas já haviam construído um carinho de irmãs uma pela outra, nos dias em que Luana ainda morava com Isabelle e Irene.
-Isa, minha amiga! Que bom que veio! -Estava com uma saudade sua, Luana... -Eu também estava, garota! Como vão as coisas? E a Irene? Sentem muito a minha falta? -Hahaha, você não faz ideia... Irene está ótima e com muita saudades sua... -Também tenho saudades dela...
-E você? Como está? Conte-me tudo! -Estou bem, a universidade é incrível! Mandei meu currículo para um estágio no Hospital Geral de Riviera, mas ainda não me chamaram... -Essas coisas demoram, mas sei que vão chamar você! -Tomara... -Você está bem mesmo? Está com uma cara...
A conversa que Isabelle teve com Irene havia sido muito importante, pois fez com que a ruiva enxergasse que o fato de se apaixonar novamente não fazia dela uma pessoa ruim, mas um ser humano que estava seguindo em frente. O problema agora era que: Já que tudo estava claro para Isabelle, ela não sabia como dizer a Pietro que estava disposta a seguir em frente ao seu lado definitivamente dali em diante. -Eu preciso de um conselho... -Eu sabia! Conheço essa cara! Vem, vamos entrar, fiz pão de queijo!
Isabelle contou toda a trajetória de sua vida para Luana, explicando sobre Rodrigo e Pietro, mas omitindo sobre seu pai. Luana ficou muito feliz quando Isabelle lhe revelou sobre o significativo beijo de Pietro e ela, lhe dizendo palavras muito semelhantes das de Irene. -O que eu devo dizer? -Isa... Isso é algo você só vai saber na hora... Pensa comigo: Você planeja um discurso perfeito, chega lá e esquece...
-Estou me sentindo uma adolescente... -Hahahahaha... -Pietro é um cara legal... Vai dar tudo certo! -Mas ainda sim... -Mãããããããããããe! Me ajuda, tem uma barata monstro aqui!
-Ish... Super mãe á caminho... Já volto, para continuarmos a conversa! -Tudo bem, Super mãe, vai lá salvar a pátria! -MÃE! -Calma Giovana!
O celular de Isabelle começa a tocar e seu coração, quase que ao mesmo tempo, dispara, já imaginando que pode ser Pietro, entretanto uma outra ligação, não menos importante, é a causadora dessas palpitações assustadas... -Mas, ué? quem será?
-Alô? Sim é ela... O que?! Jura? Não é trote não, né moço? É claro que eu aceito! Quanto? Esse salário é ótimo, quando eu começo? Perfeito! Isabelle foi uma das escolhidas para estagiar no Hospital Geral de Riviera, com o salário que ela receberia conseguiria se mudar em breve para uma casa só dela... Agora mais do que nunca as coisas estavam dando certo e se estabilizando para seu lado.
Isabelle mal conteve a felicidade ao contar para sua amiga as novidades. Conversou com Luana por mais algumas horas até se despedirem, uma estava verdadeiramente feliz pela outra. Luana estava cada dia mais em paz após decidir deixar toda a mágoa e rancor no passado. Não sentia-se fraca por se dar uma nova chance, sentia-se feliz com ela e com o mundo.
Após a saída do hospital, pude sentir um grande peso sair de minhas costas... Por anos eu quis poder abraçar meu irmão de novo... Pois afinal, o acidente pode ter acontecido a cinco meses, mas eu não o via a pelo menos cinco anos, desde a briga que tivemos em setembro de 2011, quando ele decidiu partir para outra cidade a fim de começar a cursar a universidade. Pelas trocas de emails, alguns dias antes do acidente, meu irmão me falou que fez muitas transferências até parar na mesma universidade de Isabelle... Ao lembrar-me de Isabelle, senti uma grande raiva pelo mentiroso que estava ao meu lado então fui bem direto ao perguntar: -Por quê?!
-Por que, o que? Não está feliz com a notícia sobre seu irmão, Pietro? Quer discutir de novo? -Não me venha querer mudar de assunto, você vai me dizer por que mentiu durante todo esse tempo sobre Rodrigo. Por que deixou que eu me envolvesse com Isabelle enquanto ele se recuperava? POR QUE ME DEIXOU PENSAR QUE MEU IRMÃO CAÇULA ESTAVA MORTO?! SÓ ME DIZ O PORQUÊ! SERÁ QUE A MENTIRA SOBRE NOSSOS PAIS NÃO FOI CRUEL SUFICIENTE? -Rodrigo estava praticamente morto, eu apenas não deixei eles desligarem as maquinas, você poderia estar pronto para dizer adeus mas eu...
-VÁ PARA O INFERNO! NÃO ME VEM COM ESSA! "EU?! PRONTO PARA DIZER ADEUS?!" EU NUNCA DESISTIRIA DO MEU IRMÃO, NÃO SOU IGUAL A VOCÊ!!! EU ESTARIA COM ELE, DIA APÓS DIA... VOCÊ... VOCÊ FOI TÃO EGOÍSTA! SÓ PENSOU EM VOCÊ, E NESSA MALDITA CULPA, NESSE MALDITO RANCOR COM O PASSADO, POIS NÓS DOIS SABEMOS O QUE REALMENTE ACONTECEU COM MINHA MÃE E MEU PAI... VOCÊ NÃO ESTAVA PRONTO PARA PERDER OUTRO ENTE QUERIDO, NÃO É MESMO? POR ISSO GUARDOU ESSE SEGREDO... O ACIDENTE DE RODRIGO NÃO FOI SUA CULPA, MAS O DO MEUS PAIS FOI. E NÃO ADIANTA PEDIR PERDÃO, POIS NÃO VAI SER ESSE "PERDÃO" QUE VAI FAZER O TEMPO VOLTAR...
-Pietro meu passado é cheio de erros, mas eu sempre amei minha família, sempre coloquei você e Rodrigo a cima de qualquer erro de sua mãe... -DOBRE A LÍNGUA PARA FALAR DELA... Ela não teve culpa do que aconteceu... Olha... ESQUEÇA! Rodrigo não precisa saber que nossos pais não tiveram o relacionamento que ele imagina que tiveram... Não tem porque mexer nisso agora... Mas eu só queria entender uma última coisa... Por que tanto ódio de Isabelle?
-Ora, Pietro, Ela foi a grande... -Não me venha com essa! Tem mais alguma coisa que o senhor não quer falar... -Pense o que quiser... Meu pensamento sobre ele nunca mudará...
-Eu desisto! Vou embora dessa casa!
Enquanto isso na casa de Luana... -Giovana finalmente pegou no sono... -Jura? Menos mal, ela está nervosa por conta da prova de amanhã... -Sim, está sim...
-O que está vendo de bom na televisão? -Nada de mais, a novela está chata ultimamente... -Novela? Não sabia que você gostava de uma novela... -Até gosto, é bom para desestressar, sabe? -Sim...
-Espera. -O que? -Estamos sozinhos? -Ah... sim, por quê? -Você não consegue ler meus pensamentos? O que dois adultos maduros fazem para se divertir em uma sexta feira de noite quando a filha está dormindo? -Essa é fácil...
=COMEM CHOCOLATE!!!
Ao som de Eletric Light Orchestra, ouvíamos Mr Blue Sky enquanto Luana e Mauro aproveitavam a madrugada para preparar um prato de bronwie com mais chocolate do que alguém já pudera ter visto...
Nem parecia que o tempo havia passado, pois eles tinham esse mesmo hábito de comer de madrugada, porém as circunstâncias eram outras... O tempo era outro, assim como eles também, mais velhos e maduros...
-Isso me trás tão boas lembranças... -A noite vai ficar ainda mais nostálgica Lua... -Por que diz isso?
Mauro levantou-se e puxou Luana para perto dele, fazendo com que ela começasse a mexer seu corpo na tentativa de dançar.
-Mauro, você sabe que eu não levo jeito para isso! -É só curtir a música... Feche os olhos, você consegue lembrar dessa música?
Luana nem precisou fechar os olhos para poder recordar-se da musica que tocava era Fix you de Coldplay, essa música tocou no exato momento em que Mauro e Luana se beijaram pela primeira vez.
Luana caminhou até a cozinha e Mauro foi atrás pedindo desculpa. Para sua surpresa Luana virou e o abraçou... -Como eu queria poder voltar no tempo... Como eu queria não fosse tarde demais... - E quem disse que é? - O que? - Eu te amo, como nunca pensei que pudesse amar mais do já amava...
Mauro e Luana não resistiram aquele momento e beijaram-se de novo ao som clássico de Coldplay...
Pela primeira vez Isabelle foi até a mansão Perini, com esperança de conseguir falar com Pietro. Seu coração palpitava com ansiedade para encontra-lo, e se não fosse por questões de minutos, assim teria sido. Entretanto, Pietro já saíra de casa, deixando seu avô na porta da grande casa, olhando para o nada, enquanto Isabelle se aproximava... -Poxa vida, a casa de Pietro tem o mesmo tamanho do hotel de Irene...
-Que inferno, Pietro! Por que você tem de ser tão teimoso? Por que não pode enxergar o meu lado uma vez para variar?
Isabelle, pela primeira vez vê Bernardo Perini bem a sua frente e fica apreensiva, pois o avô de Pietro nunca dera oportunidade para ambos conversarem. Para provar a si mesma que não tinha que ter medo ou sentir culpa, Isabelle decide se anunciar: -Com licença? Sr. Perini?
-Não pode ser...- Bernardo sussurrou para si - Eu só posso estar ficando louco...
Aquele rosto era mais familiar do que qualquer um podia supor... O coração de Bernardo se apertou e ele foi forçado a lembrar da pessoa que o mesmo mais queria conseguir esquecer... A verdadeira origem do ódio por Isabelle tinha surgido muito antes do acidente de Rodrigo, ou do acidente de seu filho, pai de Pietro... Com uma pessoa que, para Bernardo, parecia ter voltado dos mortos...