Follow your dreams and don't forget to smile ;)
Volta e meia, vem alguém e me pergunta a seguinte questão:“Sabina, como tu escolheu a Psicologia?” Honestamente? Gosto de pensar que a Psicologia me escolheu, pois no inicio dessa jornada eu estava completamente confusa, não somente sobre minhas escolhas, mas também sobre meus sentimentos naquele período de final de ano e término de ensino médio. Obtive a inspiração para esse post após minhas aulas sobre a Orientação Vocacional e Profissional, as quais fizeram-me constantemente entrar em contato com a pessoa que eu era antes de me encontrar nesse curso. Lembro-me como se fosse ontem dos muitos anseios e receios que perpetuavam em minha mente e coração durante a transição do status "Adolescente de ensino médio" para "uma jovem adulta universitária", mas para que eu possa contar minha experiência, precisarei voltar alguns meses antes do vestibular, quando eu era apenas uma adolescente de 17 anos com receios sobre o futuro: Era março de 2015, poucos dias após a comemoração do Carnaval quando notei que praticamente todos meus colegas não paravam de falar sobre universidades, cursos e vestibulares. Enquanto alguns demonstraram estar convictos sobre suas escolhas de cursos e instituições, outros, incluindo a mim, não possuíam a menor ideia por onde começar. Fora a preocupação em me sair bem nas matérias do último ano, escolher um tema para a mostra científica que acontecia todos os anos em minha escola, eu ainda tinha de lidar com minhas insegurança cotidianas, muito relacionadas ao meu estado emocional, o qual muitas vezes pode ter me privado de aproveitar um pouco mais o tão esperado “Terceirão”. Contudo, creio que foi mais ou menos nesse época, que a plantinha do amor a Psicologia foi cultivada, pois um dos trabalhos que mais ansiava realizar naquele ano era sobre a Psicanálise nos contos de fadas. - Todos os terceiros anos faziam esse trabalho, o que cultivava em nós uma expectativa enorme - Cada dupla precisava escolher um conto de fadas para poder realizar uma análise do mesmo relacionando a psicanálise com a história. No meu caso, nosso grupo escolheu o conto da Rapunzel e se baseou no livro da Diana e Mario Corso, “Fadas no divã”, para montar o trabalho, e como esperávamos, foi incrível, porém, mesmo depois do trabalho ser apresentado, eu ainda nem considerava o curso de Psicologia… Com o passar dos meses, a pressão de ter que fazer uma escolha ficava cada vez mais intensa, o que refletiu em uma Sabina que se decidia por um curso diferente pelos menos umas três vezes ao dia… Cheguei a cogitar: Gastronomia, Arquitetura, Jornalismo, Publicidade, Medicina, antes de me decidir… E só para constar, se você está achando que eu me decidi pela Psicologia naquele momento, sinto muito te decepcionar, mas eu não tinha olhos para outro curso senão as Artes Cênicas. - No final do meu segundo ano do ensino médio, e nos primeiros meses do meu terceiro ano eu estava inserida em um grupo de atuação, o que creio eu que tivesse influenciado essa escolha - Mesmo eu sendo uma pessoa em um primeiro momento tímida, toda vez que eu pisasse sobre um palco sentia como se fosse àquele lugar que eu pertencesse - Isso eu sei que veio por conta dos anos de Ballet clássico - o que considerando o fato de que tudo o que eu mais queria naquele momento era me sentir acolhida e parte de algo, fazia sentido para mim escolher uma área onde eu poderia expressar, das melhores formas que eu sabia, o modo como eu me sentia perante o mundo. Então lá estava eu, finalmente certa do caminho que eu precisaria trilhar para sentir que tudo ficaria bem, e como eu sempre tive essa ligação forte com a arte, para mim era praticamente certo que em 2016 eu estaria cursando Artes Cênicas na UFRGS. Nesse meio tempo, surgiu uma proposta vinda de uma minhas professoras favoritas na época, de fazermos, em um caderninho distribuído por ela, algo semelhante a um diário, onde deveríamos escrever sobre como nos sentíamos perante a fase a qual nos encontrávamos, o que foi fundamental para eu me manter sã naquela época, considerando que eu ainda não fazia terapia. - Guarde essa informação, porque essa atividade de certa forma me aproximou do universo da Psicologia sem que eu ao menos me desse por conta - Considerando o fato de que eu estava com 17 anos na época, os conflitos referentes as escolhas de curso, não eram nem de longe os únicos dilemas que eu enfrentava naquele período. Na verdade, o ano de 2015 em si, havia sido o que gosto de chamar hoje como: “O ano do combo de grandes emoções”, já que para mim, os sentimentos dentro de mim praticamente esmagavam-me desde do instante em que eu acordava até a hora que eu ia dormir. É claro que, diferente daquela época, hoje eu entendo que um dos motivos que me mantinham com a constante sensação de “sobrecarga”, resumia-se a eu simplesmente não falar sobre minhas dores e apreensões com outras pessoas, pois sempre deduzia que elas não importavam-se. - Isso por si só, daria um outro assunto bem interessante de ser abordado aqui no blog, mas como o foco é sobre o curso, não me deterei a esse contexto - O ponto é que não havia como eu pensar com clareza sobre possibilidades, escolhas e caminhos a serem seguidos no futuro, com o aglomerado de conflitos internos, dos quais eu tentava dar conta - Era muito teimosa na época, dificilmente daria ouvidos se alguém dissesse para eu dar atenção a como eu me sentia, quem dirá procurar olhar com compaixão para a Sabina do passado - Em outras palavras, como diz um velho ditado, optei por “tampar o sol com a peneira”, já que acreditava que a única solução seria cavar um buraco do tamanho do mundo e enterrar minhas angustias lá, já que não queria lidar com os fatos. Como consequência dessa minha decisão, agarrarei-me ao que parecia ser a única saída para dar fim a meu sofrimento: fazer o vestibular da UFRGS, e torcer para que a correnteza dos ventos da vida me levasse na “direção certa”. Quando você é criança e lhe perguntam o que quer ser quando crescer, geralmente você responde algo que acredita que irá lhe “fazer feliz”, no entanto por mais que não prestemos atenção a esses detalhes, a própria noção do que é felicidade é algo aprendemos durante o nosso desenvolvimento nessa fase. No meu caso, eu desde sempre me considerei como uma criança que entendeu o significado de “ser feliz” partindo de suas próprias fantasias. Não era como se eu vivesse em um universo paralelo em meu 7 anos de idade, mas desde muito cedo atribuí “Felicidade” a tudo aquilo que eu pudesse de alguma forma controlar. - Não quer dizer que eu era (ou seja atualmente) o tipo de pessoa que gosta de controlar os outros a minha volta. Longe disso! Essa necessidade de ter controle se dava porque toda vez que eu não tivesse a mínima ideia do que pudesse acontecer no futuro, sentia-me completamente perdida e sem rumo, ou seja, eu possuía a falsa ideia de que "controle" significasse que eu poderia prever possíveis acontecimentos e assim me previnir de lidar com acasos - Por exemplo, quando eu era criança, minhas brincadeiras favoritas sempre envolviam um contexto de "faz de conta" que propiciavam a mim um lugar eu poderia decidir ser quem eu quisesse ser. - Mesmo que isso quebrasse um pouco da lógica de algumas crianças na época, pois eu adorava ser a "príncipA" que salvava o "princesO", como eu gostava de me referir - Da mesma forma acontecia com meus desenhos, já que neles sempre existia a possibilidade de eu apagar com uma borracha algum erro que eu cometesse, e por consequências mudar o resultado final de seja lá o que eu estivesse desenhado. Tá mas o que eu quero dizer com isso? Simples. Desde minha infância eu vinha me desenvolvendo como alguém que para se sentir segura, precisava sentir que estava no controle das situações do dia a dia. - Seja dos acontecimentos ou de minhas próprias emoções - Todavia, eu já não estava mais com 7 anos, tampouco acreditava que possuía algum controle sobre as consequências de minhas ações, o que refletia em tamanha angústia por não saber o que iria acontecer comigo no próximo ano. Tudo que eu sabia resumia-se ao fato de que eu nunca mais iria conviver com as mesmas pessoas que convivi durante anos, ou seja, para a Sabina de 17 anos, além do futuro significar a maior incógnita que ela iria passar, também estaria completamente sozinha no início dessa longa jornada… As semanas viraram meses, e quando dei por mim, o dia havia chegado: eu estava a apenas alguns minutos da temida prova prática - por conta do curso que eu escolhi, era necessário que eu fizesse essa primeira prova, para descobrir se eu estaria apta - aguardando minha vez chegar. Enquanto esperava, comecei a tentar me visualizar um dia freqüentando aquele lugar, vivendo e aprendendo dentro do curso, mas para minha surpresa o que senti não foi exatamente o que eu pensei que sentiria quando estivesse “no lugar aonde eu deveria estar”… Sim eu estava um pouco ansiosa pelo fato de que seria avaliada, mas ao mesmo tempo percebi que existiam mais coisas por de baixo dessa ansiedade do que eu pudesse imaginar. Todavia, em vez de tentar dar um passo em direção a compreensão destes outros anseios, eu simplesmente recuei e decidi ignorar. - Eu ainda não estava pronta para lidar com a verdade que eu queria ignorar, mas sem que eu soubesse, já havia dado o primeiro passo em direção a essa verdade no mesmo instante em que senti que ela existia! Resumo da ópera: fui lá e fiz o teste, porém, enquanto voltava para casa, tudo o que eu conseguia sentir praticamente resumia-se a um profundo sentimento de vazio interior. O que era irônico, Já que a arte de um modo geral, sempre foi como meu segundo oxigênio, pois era através dela eu que conseguia ser o mais sincera e autentica que eu pudesse ser comigo mesmo e com os outros no que diz respeito aos meus sentimentos. Não era a toa que muito daquilo que eu vinha sentindo durante o decorrer do ano, eu só conseguia “botar para fora”, e sentir algum alívio, após expressar-me através da arte, seja pintando, desenhando, atuando, dançando ou cantando. - Meus sentimentos eram confusos, caóticos e pareciam gritar, pela minha atenção, todos ao mesmo tempo dentro da minha cabeça, o que em alguns momentos me fazia ter a impressão de que eu estivesse maluca, e em outros deixavam-me com muita raiva, já que isso impossibilitava que eu tivesse qualquer noção aprofundada sobre a pessoa que eu era - Entretanto, quando me posicionei frente aos avaliadores, senti como se todos esses sentimentos e emoções confusas desaparecessem, não restando nada além de um perturbador silêncio. Foi então que percebi que tudo aquilo que eu tinha de barulhento e caótico na minha mente, fazia parte de mim, e uma vez em que aquilo não estivesse mais comigo, me dava a sensação de eu não estivesse lá. - ...Era confuso, caótico e barulhento, mas ainda era a parte mais importante de mim, pois fazia de mim ser quem eu realmente era... - Foi então que, por um breve segundo eu realmente me questionei se eu de fato queria estar lá, afinal o que significava para mim passar em Artes Cênicas? - Mesmo que eu pela primeira vez tivesse entrado em contato com essa dúvida, eu ainda sim demorei um tempo até começar procurar por sua origem... Do dia do teste até eu saber sobre resultados, muitos outros dilemas perpetuaram sobre minha mente, sendo os mais frequentes deles os constantes questionamento sobre quem era aquela pessoa de olhar cabisbaixo que me olhava de volta no espelho, assim como para onde a vida dela estaria caminhando. Mais uma vez, perdida em meus devaneios eu me encontrava escrevendo distraída em meu caderno de pensamentos, quando minha amiga na época me avisou que havia saído a lista dos aprovados na primeira etapa… E meu nome não estava la… Cheguei em casa naquele dia, simplesmente aos prantos, parecia que não tinha escapatória senão lidar com os fatos de que eu, não apenas não havia passado, mas também não possuía a mínima ideia sobre o que fazer perante aquela situação. - A falta de controle sobre meu futuro me deixou em pânico - Naquela época, em meio a constante estresse, eu possuía a cruel convicção sobre mim mesma de que eu era uma fracassada, e como vocês podem imaginar, o meu nome não estar na lista não ajudou muito na crença distorcida sobre esses fatos. - Adolescentes podem ser muito cruéis, especialmente com eles mesmos quando se existe conflitos dos quais a maioria deles decide ignorar, o que tende a resultar em uma bola de neve ainda mais complexa de ser resolvida - Após chorar minha frustração aos meus pais e consequentemente sentir-me mais calma, chegamos juntos a uma conclusão: já que para mim, não era uma opção "ficar a deriva" no próximo ano - Enfatizando que em nossas ações sempre atribuímos um significado sobre suas possíveis consequências, ou seja para a Sabina de 2015, a ultima coisa que ela gostaria que acontecesse era ela ficar o ano de 2016 sem entrar em uma universidade - decidi que iria me inscrever em outro curso, e em uma outra universidade - Que no caso é a que estou até hoje - Mesmo mais calma, eu ainda estava sentida e desapontada comigo mesma por ter “falhado”, e então, sem pensar muito sobre os outros cursos apenas consenti com as sugestões dadas por meus pais. E assim, nos últimos minutos do último dia de inscrição para o vestibular da Universidade FEEVALE, eu fiz minha inscrição para concorrer aos cursos de PSICOLOGIA e ESTÉTICA. Tenho aqui o registro do que eu escrevi em meu diário naquele dia, momentos após eu ter feito a escolha que mudou a minha vida completamente: “Meus pensamentos estão confusos. Parece que minha vida virou de ponta cabeça. Num momento estou certa que cursaria o curso de meus sonhos, teatro, e no outro estou prestes a fazer vestibular para Psicologia e Estética… Parece que caí no mar e estou sendo engolida pela água violenta e escura. Não há botes salva-vidas, nem sequer pessoas tentando me puxar… Eu não sei se nado contra a correnteza, tento seguir as ondas desse mar e vejo onde vai dar, ou simplesmente desisto e escolho afundar nesse oceano de angústias” - 18 de novembro de 2015 Como vocês podem perceber, com o tempo eu acabei escolhendo a segunda opção. Mas confesso, como eu queria tanto acreditar que existia um curso certo para mim, passei ainda alguns meses, após meu ingresso na faculdade, referindo-me ao teatro como o "curso de meus sonhos", entretanto, pouco a pouco fui me dando por conta de que toda vez que eu me deparava com os "e se" da vida, era como se eu enxergasse através de um filtro cor de rosa, o qual me fazia acreditar numa distorcida ideia do que realmente tratava-se o primeiro curso que almejei. - Afinal aquilo que a gente não conhece de fato, tendemos a idealizar ou pré-julgar - Quando se está nesse período de transição, é perfeitamente normal desejarmos efetuar todas as escolhas corretas para que o mais cedo possível possamos "começar a viver bem e sem arrependimentos", contudo, por mais que pareça repetitivo isso que irei falar, a verdade é que não existe e nem nunca existiu uma forma correta de se efetuar escolhas, quanto mais um fórmula para se viver a vida. Somos tão diferentes uns dos outros, que é primeiramente egoísmo com nós mesmos tentar seguir um roteiro para nossa vida, baseado na história de outros, principalmente considerando que é nos "inesperados acasos e desconhecidos" que realmente temos a oportunidade de crescer e amadurecer, por mais assustador que isso possa aparecer em um primeiro momento. Todavia, é claro que por estarmos falando sobre a transição da adolescência para a jovem adultez, é esperado que no inicio desse processo nos espelhemos em outros exemplos para que não nos sintamos desamparados, no entanto, é vital que após aprendermos como a caminhar nesse novo, maravilhoso e ao mesmo tempo assustador caminho da vida adulta, decidamos tomar as rédeas de nossa história - É nesse momento que nos tornamos tanto o autor quanto o protagonista de nossas histórias... Quando o dia do vestibular da Feevale chegou, lembro-me de sentir perpetuar em meu coração um sentimento de tranquilidade, já de início bem diferente da experiência anterior. Como eu pude escolher a forma como gostaria de ser avaliada quando efetuei minha inscrição, optei por aquilo que mais se aproximava de minhas habilidades: uma redação! Escrever era um dos hobbies que eu mais me orgulhava de praticar, e assim como me ajudava a entender a mim mesma, também aproveitava para praticar escrita argumentativa requerida pelas universidades. - Dos 1000 pontos que valia a redação, eu tirei 920 e passando em 5o lugar de um dos três mais concorridos cursos da Universidade na época: PSICOLOGIA! - Desde o instante em que eu me deparei com o tema da redação, até esse exato momento em que relato minha experiência aqui, me pego refletindo sobre como algumas coisas na vida simplesmente parece que são para acontecer - Quando soube do resultado, eu mal pude conter minha felicidade. - Mesmo que isso não mudasse o fato de que teria que enfrentar minhas incógnitas em um futuro não muito distante, eu pelo menos senti como se tivesse avistado terra firme, após meses perdida em auto mar, e estivesse ansiosa para desbravar essas terras misteriosas. - Mal sabia eu que quanto mais próxima eu estivesse do centro desse desconhecido, menos dúvidas eu passaria a ter sobre a pessoa que gostaria de me tornar. O que eu gostaria de deixar registrado, é que por mais que nos sintamos acoados perante a grandes mudanças, nós nunca estamos sozinhos, pois há sempre pessoas que estão dispostas a te ajudar a levantar quando você tropeçar, mas para que seja possível sabermos quem são e onde estão essas pessoas, precisamos permitir antes de mais nada que elas se aproximem...
Então em meio a dúvidas, apreensões e esperança eu tomei as rédeas de meus sentimentos e decidi encarar aquela futura experiência de coração aberto… E foi assim que tudo começou… |
Sobre mim:Meu nome é Sabina Maria Stedile, tenho 22 anos e estou cursando o 6◦ semestre de Psicologia na Universidade Feevale, Novo Hamburgo - RS. Gaúcha e fã de um chimarrão, independentemente da estação. Gosto de pensar em mim como uma desbravadora da vida! Amo escrever, e almejo um dia publicar meus livros. Em outras palavras, sou apenas uma garota do sul em busca de seu verdadeiro norte. Histórico
Fevereiro 2020
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