Depois da difícil conversa que Alexandre teve com Isabelle, o mesmo sentia-se completamente sem esperanças. Vagando pela cidade, sem qualquer tipo de rumo ou coragem para voltar ao hospital, Alex entrou em um bar antigo, com uma ambientação rústica, e sentou-se frente a moça que preparava as bebidas. Nada lhe restava, senão afogar as mágoas em puro desespero alcoólico. Por uma grande ironia do destino, naquela mesma hora, naquele mesmo bar, Bernardo, que se encontrava tão perdido quanto Alex, entrou porta a dentro daquele mesmo estabelecimento.
-O que vai ser? -Me vê uma dose generosa de Whisky -Uma dose generosa saindo.
Bernardo sentou-se ao lado de Alex e no exato momento em que parou nesta posição, sentiu que aquele que jazia em seu lado, possuía uma estranha semelhança com alguém de seu passado. Então, como se estivesse reencontrado um velho amigo, ele, e para sua surpresa, inicia um diálogo com aquele estranho.
-Dia difícil? -O senhor nem faz ideia... - Acredite meu jovem, eu faço, mais do que você pode imaginar... -"Meu jovem"... Há muito não me chamam disso... Eu bem queria ser um jovem, com certeza faria tudo diferente... -É uma pena que não possamos voltar no tempo, também cometi meus erros, mas diferente de você, eu não tenho como corrigi-los mais.
-Até ontem eu tinha esperança de conseguir corrigir meus erros, mas eles foram graves demais para que eu consiga fazer alguma coisa sobre o assunto. -Há sempre algo que pode ser feito sobre para ao menos tentar corrigir nossos erros. -Se o que você diz é verdade, saiba que isso também vale para você.
-Como eu queria que isso fosse verdade, mas existe um impedimento no meu caso, maior do que qualquer coisa... A morte.
Ainda quando estava no hospital, Pietro ficara completamente desconfortável com a pergunta que mais parecia uma afirmação, feita por Rodrigo. A única atitude que foi capaz de tomar foi a de dizer que mais tarde ambos conversariam sobre o assunto com mais calma. Ao chegar em casa, deparou-se comigo saindo do banho. Ter sonhado com minha mãe definitivamente havia lavado minha alma. Lembro-me de ao ver sua expressão aflita, meu coração ter certeza que algo estava acontecendo. Muitas coisas podiam ter passado por minha cabeça, mas nunca que eu poderia adivinhar do que se tratava de fato.
-Como você está, meu amor? -Estou me sentindo muito melhor, meu bem... E falando em "estar", onde você foi? Fiquei preocupada... -Nada de importante, coisas da universidade... -Você geralmente fica animado com as suas aulas, aconteceu algo? -Não aconteceu nada Isa, serio... -Tem certeza? Essa cara ai... -Eu só estou preocupado... -Preocupado com o que? -Contigo...
-Eu estou bem melhor, te juro... Tive um sonho muito bom, pude pensar na situação como um todo... E refletindo de cabeça fria, percebi que deixei escapar de meu peito tudo aquilo que eu guardei com tanto sofrimento por todo esse tempo... Vou ligar para Marcos, dizer que eu aceito doar minha medula para minha irmã... Ela não tem culpa do passado. Pelo que eu entendi ela é uma criança, tem a vida toda pela frente... Eu não posso acreditar nem por um segundo que chegou a passar pela minha cabeça não fazer tudo que estivesse ao meu alcance para salvar uma vida, quanto mais uma que está liga a minha...
-Me orgulho tanto de ouvir você falando assim... Do fundo de meu coração, como eu amo te amar... Pietro as vezes me surpreendia com essas declarações inesperadas. Eras tão sinceras e intensas, ele não hesitava nem por um mísero segundo, me encarando com aqueles lindos olhos azuis. Não consegui desviar meus olhos dos dele, eram tão penetrantes que às vezes duvidava se ele não conseguia enxergar minha alma... Pietro aproximou-se de mim, segurando em minha cintura, trazendo-me para perto de si, eu correspondi um beijo...
Cada pessoa possui um mundo inteiro dentro de si, e o mais comum de se ver nos dias de hoje, são pessoas tentando entrar no mundo uma das outras, e por consequência, decepcionarem-se por não serem retribuídas da maneira que esperam. Estar com Pietro era como se eu estivesse dentro de um terceiro mundo onde só existíssemos nós dois, em outras palavras, era como se fossemos um só...
Rodrigo passou o dia apreensivo pensando em Pietro, refletindo sobre o que poderia estar acontecendo com seu irmão. Rodrigo estava louco para começar a fisioterapia, a cada dia que passava suas pernas ficavam mais seguras para das os tão esperados passos... Distraído em seus mais profundos pensamentos, Rodrigo quase não percebera a batida ansiosa do lado de fora de seu quarto seguida pela voz doce de Júlia: -Rodrigo, vou entrar! Antes que ele pudesse responder, a menina já passava pelas portas do quarto de seu mais novo amigo.
-Olá Rodrigo, como você está? -No geral estou bem, tampinha, e você? -Eu sei que você ta tampinha, mas relaxa, quando sair dessa cadeira de rodas, vai ficar gigante de novo... -Eu chamei você de tampinha, só para constar... -Mas que rude, você, só porque eu ainda tenho que crescer... -Hahahah, você está inspirada, hoje...
-Sempre! Mal posso esperar para conhecer minha irmã... -Tenho certeza que ela vai amar você... -Será? Eu espero que sim... Falei com a enfermeira Carla e ela me perguntou se eu não gostaria de um peruca, e eu disse que sim! Quero ficar bonita quando minha irmã vier. -Você não precisa de peruca para ficar bonita, Julinha...
-Eu sei é que... Sabe, eu faço quimioterapia desde que me entendo por gente, e não tenho lembranças de como é ter cabelo... Eu gostaria muito de me ver como eu estaria hoje se tivesse um cabelo bem bonito... Ela combinou de levar no meu quarto umas perucas para eu escolher, você não quer vir comigo?
-Nem precisa perguntar duas vezes, Ju... Rodrigo adorava a amizade que estava criando com Júlia, pois a menina demonstrava ter um brilho nos olhos que revelava o quanto sua alma era pura.
Não muito depois no quarto de Júlia... -E então...? Como eu fiquei? -Está uma verdadeira princesa, Júlia - Disse Carla. -Você já é uma princesa Júlia, mas ficou linda com esse cabelo!
-Espero que minha irmã goste de mim... -Não tem como não gostar Juju, você é adorável...
A hora finalmente chegara. Alexandre teria que criar coragem e dizer para Carolina que as notícias que ele trazia não era as que ela esperava. Seu coração estava apertado, como que se a qualquer momento fosse chorar em desespero. Culpava-se por cada palavra de rancor e ódio que ouvira de sua filha mais velha. A Isabelle que ele conhecia jamais se negaria a ajudar alguém que precisasse, e Alex não podia evitar pensar a cada instante que era culpa dele tudo que estava acontecendo.
-Alex, o que está acontecendo? Você foi falar com Isabelle e sumiu. O que ela disse?
-Ela despejou toda sua raiva em cima de mim, e o pior de tudo é que ela tem razão... Eu fui um canalha, o pior dos canalhas... -Tanta coisa acontecendo, não precisamos voltar ao passado e relembrar dos nossos erros. É tortura, pois é impossível voltar no tempo e fazer tudo diferente... Mas e quanto a Júlia? -Meu amor... O telefone de Alex toca:
-Alô? Marcos! O que? Eu sabia que ela voltaria atrás! Muito obrigada mesmo! -O que está havendo Alex?
-Ela topou Carol! Nossa filha vai ficar bem! -Ai meu Deus, que alívio, Alex! -Vai ficar tudo bem... Um grande alívio tomou conta do coração de Alex, não só por causa de Júlia, mas também porque, pela primeira vez, ele sentiu que havia chance das coisas melhorarem entre ele e Isabelle: "Tudo ia vai ficar bem", essa certeza crescia cada vem mais no coração dele.
Alex pretendia contar imediatamente para Júlia que ela iria conhecer a irmã em breve, mas um golpe do destino, ou uma incrível coincidência cruzaria o caminho dele com o de alguém o qual recentemente tivera um primeiro contato: Pietro! Mas o que Pietro fazia no hospital àquela hora? Será que Isabelle estaria com ele? Eram tantas as perguntas que lhe tomavam o controle da mente que nem se lembrara de que alguns dias atrás, o mesmo podia jurar ter visto Rodrigo; -Pietro?!
No inicio do dia, Pietro havia estado no hospital com seu irmão, mas acabou por não ficar muito tempo em sua companhia, pois Rodrigo havia lhe pedido algo que no dado momento era impossível de ser respondido. Pietro então prometeu a Rodrigo que voltaria mais tarde. Entretanto, Pietro ainda não sabia o que responder a seu irmão e, ao chegar perto de seu quarto, pensou que fosse melhor voltar em uma outra hora, então deu meia volta e enquanto caminhava de volta ao seu carro, deparou-se com a última pessoa que ele esperaria encontrar: Alexandre.
-Er... Olá Alexandre...
Pietro estava muito estranho... Eu sabia que tinha algo de errado. Naquela mesma noite, combinei de tomar um café com Luana, fazia tempo que não conversávamos, e eu sem sombra de dúvida precisava desabafar sobre tudo que estava me acontecendo...
-Fiquei contente com seu convite Isabelle, mas pela sua cara, você está com problemas... -Você acertou... Quer dizer... Não são exatamente problemas, ou sim... Há não sei de mais nada... -Me atualiza então... O que houve? -Resumindo: Em questões de dias, minha vida girou completamente... Meu pai veio me procurar... -Céus! Como ele te achou? -É uma longa história, mas o fato é que eu descobri que tenho uma irmã que precisa da doação de medula óssea. -Meu Deus! -Eu sei... Eu me encontrei com meu pai, tivemos uma briga feia... Mas eu decidi que farei essa doação.
-Até por que, sua irmã não tem nava a ver com os problemas de seu pai com você... -Pois é... -Tem mais, não tem? -Realmente não consigo esconder nada de você, não é mesmo? -Nem tente! -Pois bem... Pietro anda muito estranho utimamente... -Por que você acha isso? - Eu sei que ele está escondendo alguma coisa de mim, algo que o atormenta... Há alguns dias que eu percebo isso. Anda tão pensativo, apreensivo. Desde que estamos juntos... -Você acha que ele está te traindo? -O que? Não! Com certeza não... -Vai ver é só estresse com o trabalho... Acho que é coisa de sua cabeça... -Espero que seja...
-Mas e quanto a você? Como vão as coisas? -Melhores impossíveis... Cada dia que passa eu me sinto tão em paz... Nunca pensei que pudesse me sentir assim de novo... -Não só pode como deve! -É tão louco, como tudo parece estar onde deveria estar... -A vida é tão engraçada, não é mesmo? -É... Eu sei. Vive nos surpreendendo, nos dando novas chances de recomeçar... Só que nem sempre nos damos por conta...
Luana tinha dito uma frase que definitivamente me faria começar a olhar a vida com outros olhos a partir daquele dia. Ela nem percebera que quando disse sobre "As oportunidades que a vida dá para recomeçarmos", estava não só se referindo a sua vida, como a minha... Por que somos tão teimosos em preferir o orgulho, o ódio e o rancor, que só nos trazem mais tristeza a nossa vida, do que o amor, a compreensão e até mesmo o perdão, que nos limpam a alma, além de tornar a nossa vida mais maravilhosa? Espero que eu consiga responder essa pergunta...