-Pietro? Não esperava encontrar com você aqui. Isabelle está contigo? -Na verdade não.- O coração de Pietro estava quase saltando pela boca, um passo em falso e estaria tudo perdido.- Eu vim visitar um ente querido, pode-se dizer. -Que coincidência, meu jovem, Júlia está internada neste hospital, aliás estava indo mesmo contar a ela que Isabelle vai conhecer-la. Ela vai radiante... -Isa estava fora de si quando agiu daquela forma... -Eu não a culpo.- Alex percebera que o rumo que a conversa estava seguindo deixava Pietro um tanto desconfortável.
-Meu jovem... Você estava lá quando abri meu coração para Isabelle, aliás pelo que conheço minha filha, isso só prova a importância que você tem para ela. A única vez que vi alguém se tornar tão importante para ela, eu me opus, o que roubou talvez alguns meses de felicidade total para minha filha... A questão é que não vou cometer o mesmo erro, Pietro... Eu fico sinceramente muito feliz que ela conseguiu encontrar você. Isa, sempre foi durona, mas passar por o que ela passou, com tudo o que ela estava sentindo... -Eu tenho profunda admiração por ela... Alexandre, Isabelle é o amor de minha vida, eu peço que acredite em mim quando digo que não imagino minha vida sem ela... -Mesmo que você dissesse o contrário, eu saberia disso... Seus olhos não mentem...
O coração de Pietro se dividiu entre alívio e angústia, sentia que estava em cima do muro por tempo demais, mas duvidava se tinha forças para fazer o que é certo, em vez de que seu coração gritava. Era muita coisa em jogo. A cada dia a memória de Rodrigo ficava mais clara, dando mais certeza para o pianista de que seu irmão se recuperaria cem por cento, e em pouquíssimo tempo. -Bem, rapaz, eu vou Julinha e contar as novidades, melhoras para seu amigo... -Obrigada, Alexandre... Meus cumprimentos a Júlia...
-Pensei que não viesse mais. - Disse Rodrigo no exato momento em que Pietro passou porta a dentro. -Desculpe a demora meu irmão, aliás desculpe por hoje mais cedo. -Não tem problema, mas me diz Pietro, posso ou não morar com você?
-Rodrigo, não acredito que vou dizer isso, mas acho melhor você morar com nosso avô. La tem muito mais estrutura para você se recuperar... -O que?! Mas como assim? Eu não podeira Pietro, depois do que ele fez... -Nosso avô fez muita merda, mas cara... Foi ele que manteve você vivo...
Rodrigo estava cada vez mais surpreso com a insistência de seu irmão em perdoar Bernardo. Não era de seu feitio agir dessa forma, principalmente se tratando de seu avô, pessoa que causava fogo nos olhos de seu irmão mais velho. -Você sabe que ta defendendo nosso avô, não sabe? -Sim, eu sei. - Disse Pietro em um suspiro...
-Então você está ai dona Júlia, não a reconheci com esse cabelo novo. -O que você achou, pai? -Você está ainda mais linda, Juju. - Alex esboça um sorriso contagiante para Júlia e ela percebe que boas notícias estão a caminho. -Pai você falou com minha irmã? - Para a surpresa de Alex, Júlia acertou em cheio sobre o que se tratava.
-Sim, eu conversei com ela Júlia... -E então? -Ela está ansiosa para conhece-la... -JURA? Pai, mal posso esperar! Como ela é? - Júlia mal podia conter a felicidade que sua delicada face esbanjava com tanta expectativa.
-Você vai ver, minha pequena guerreira! -Awn, Pai! Mal posso acreditar...
Algumas semanas depois... Rodrigo finalmente começara sua fisioterapia no hospital. Sua garra era tamanha que em apenas alguns dias seus músculos lembravam com facilidade do que sua mente havia esquecido. Se em dias suas pernas começavam a dar pequenos passos, nessas semanas que passaram como um suspiro ele já caminhava sem muita dificuldade. O treinava com toda sua capacidade não apenas por não aguentar mais ficar naquele hospital, mas também que era uma forma de esquecer-se do que mais queria lembrar, que a essa altura já o estava atormentando de uma maneira a qual era quase insuportável... Eu já havia feito os exames de compatibilidade de medula e o resultado era muito satisfatório, infelizmente até o momento eu ainda não tinha conseguido conhecer Júlia, pois tanto a universidade quanto o estágio no hospital tomavam-me todo o tempo. Sinceramente estava tão estressada com tanta coisa me acontecendo que se não fosse por Pietro ao meu lado eu já teria jogado tudo para o alto. Talvez por estar tão ocupada eu não havia percebido que Pietro continua muito distante, só que dessa vez essa distância era acompanhada de uma grande dose de agonia.
-Você está cada dia melhor, Rodrigo, mas vá com calma rapaz! - Disse Marcos com muita satisfação e orgulho de seu paciente.
-Sinto que em breve poderei correr uma maratona. -Nesse ritmo não me admiraria se ganhar essa maratona, ma ouça o que eu digo, você não deve forçar demais, senão acabará voltando a cadeira de rodas rapaz!
Apesar dos apesares... Por mais que passasse a maior parte de seu tempo concentrando-se em sua recuperação, sua mente vacilava e o levava para bem longe de tudo. Não saber quando se tratava de uma lembrança ou apenas de sua imaginação era algo que mexia com seus sentimentos e seu humor, o que resultava em alguém bastante resmungão na maior parte do tempo.
Rodrigo havia seguido o conselho de seu irmão e preferiu não comprar uma briga com aquele que o manteve vivo durante todo esse tempo. Entretanto, seu relacionamento com Bernardo não estava nem perto de ser como o de um neto afetuoso com seu avô preferido. Parecia mais um relacionamento de duas pessoas que mal se conheciam, onde uma não ia com a cara da outra. Tanto que Bernardo mal tinha coragem para visitar Rodrigo, pois ao olhar dentro de seus olhos, começava a ficar claro que em suas ações havia muito mais mal do que bem... Olhar para o nada em sua varanda para pensar na vida havia virado seu hobbie preferido nos últimos tempos. Estava tão distraído que nem percebera que Marcos direcionava-se para onde Bernardo se encontrava.
-Bernardo? -Marcos! Já estou velho, se chegar assim de mansinho vai me causar um infarto! -Eu sou médico. Tudo, resolvido! -O que te trás aqui, rapaz?
-O senhor não aparece há algum tempo no hospital para ver Rodrigo, então vim verificar se há algo de errado. -Quer dizer que se importa comigo agora? - Bernardo falou em tom sarcástico. - Me poupe... -Olha, você pode se surpreender com isso, mas algumas pessoas realmente se importam com você. Minha Tia, e sim, até eu, seu velho resmungão! - Você não era tão desaforado, Marcos... -Desculpa Bernardo, mas minha paciência tem limite e eu não tenho sangue de barata, também!
-Eu não me sinto mais bem vindo quando Rodrigo me vê. -Acha que ele sabe de tudo? -Eu duvido, mas é questão de tempo... -Bernardo, por que você não fala toda a verdade de uma vez? -"Toda a verdade"... Tem verdades que se eu revelar, vão trazer tanto sofrimento e cicatrizes à tona, o próprio ato de revelar algo desse tipo é tão cruel quanto ter feito... Ah, Marcos, você não sabe da missa metade...
-Olhe... Minha tia tem um grande apreço pelo senhor Bernardo, eu nunca entendi muito, pois ela não me fala nada há um bom tempo, mas eu confio em minha tia, e se ela tem tanto carinho pelo senhor, eu creio que haja um motivo... -Irene é uma grande mulher, Marcos... Aliás há algum tempo que não à vejo... Você alguma notícia dela?
-"Para ser sincero, eu a última vez com que troquei algumas palavras com minha tia, ela me pareceu diferente" -"Diferente de que maneira?"
-"Como se estivesse um pouco deprimida." -"Conversarei com Irene, ela é como uma irmã para minha pessoa."
-Lembro-me da mãe dela, ela trabalhava em nossa casa, era uma mulher muito gentil com todos... -Isso ela me contou, mas nunca me falou de seu pai... -É porque ela nunca o conheceu... -A mãe dela já estava gravida quando veio trabalhar conosco. Era uma época muito difícil Marcos... Principalmente quando esse tipo de coisa acontecia...
-Minha tia não me fala essas coisas... -Marcos, você melhor do que ninguém sabe que Irene é a pessoa que nunca vê o copo meio vazio, ela gosta de se lembrar das coisas boas... Se você a perturbar com essas coisas te dou um sopapo com essa mão aqui! -Você tem razão, Bernardo, mas como você disse, minha tia nunca vê o copo meio vazio, ela sempre é alguém contagiante com seu bom humor, ou seja se ela está assim, é porque há algo de errado. -Você me convenceu, vou falar com ela...
No dia seguinte... Era aniversário de Giovana. Mauro e Luana combinaram de inaugurar a grelha que há muito tinha sido comprada. Enquanto o mesmo tentava acertar o ponto da carne, Luana e Giovana riam com cumplicidade. A paz e o sentimento de união entre essa família predominava. Parecia que sempre havia sido dessa forma.
-E então Gi, como está se sentindo minha aniversariante? Me conta, tem algum namoradinho? -Mãe! -O que foi? Não posso saber? -Para sua informação, a única coisa que eu tenho no momento, é fome...
-Então somos duas. Querido, o cheiro está nos torturando, já está pronto? -Mauro, estou com o estômago nas costas já...
-Cozinhar é uma arte, meninas! Não se cobra rapidez para algo que precisa estar no ponto perfeito. - Uma risada tomou conta de mãe e filha, após esse comentário.
Ao anoitecer, Luana trazia consigo um bolo bastante caprichado de chocolate. Normalmente, festas de aniversários são comemoradas com muitas pessoas, sejam da própria família ou amigos, mas Giovana preferira festejar apenas com sua mãe e com aquele que considerava seu pai, sem fazer a menor ideia que ele realmente ara.
-Meu bolo preferido! -Faça um pedido, minha princesa. - Disse Mauro, posicionando-se para tirar uma fotografia. -E não esqueça de fechar os olhos e desejar com vontade, Gi!
Em um piscar de olhos, a pequena Giovana tornou-se uma linda adolescente.
Os olhos de Luana encheram de lágrimas de orgulho ao olhar para a linda moça que sua garotinha havia se tornado. Mauro percebera a emoção começar a escapar pelos olhos de sua amada, então aproximou-se e sussurrou em seu ouvido: -Ela me lembra você. - Os dois olharam profundamente nos olhos do outro e selaram aquele momento com um beijo terno.
-Algumas coisas não mudam, ainda não me sinto confortável com essas demonstrações excessivas de carinho. - Disse Giovana ironicamente. - Devo dar licença aos pombinhos? -Desculpe-me minha filha. - Disse Luana um pouco vermelha. -Tudo bem, mãe... Eu vou mesmo ter de dar licença a vocês...Vou dar uma saída. -Okay, mas não volte muito tarde, tudo bem? -Okay!
-Mauro, eu nunca pensei que pudesse ser tão feliz quanto estou sendo nesses últimos tempos... -Amor, eu já lhe disse uma vez e torno a repetir, você que trouxe essa felicidade para nós...
Alguns momentos mais tarde... -Acho que nós dois merecemos descansar após essa louça monstruosa que tivemos de lavar
-Concordo minha vida. - Mauro silenciou-se por alguns segundos com uma mudança repentina em sua expressão. -O que houve? Aconteceu alguma coisa? - Perguntou Luana preocupada enquanto Mauro sentava-se à cama.
-Luana... Eu te amo, sempre te amei, mas nós nunca conversamos sobre o que houve conosco no passado. -Mauro, eu acho que não vale a pena entrarmos nesse assunto agora. -Por favor Luana, eu só peço que me escute... Você mais do que ninguém precisa saber disso. -Tudo bem... -Você provavelmente deve se lembrar do dia em que terminamos, antes de Giovana nascer... -Não uma das minhas lembranças preferidas. -Meus pais, naquela época, me colocaram contra a parede, quando disseram que se eu continuasse a ficar com você, eles dariam um jeito de fazer você sumir... -Mauro eu... -Minha família não era nem um pouco amorosa. Era interesseira e você sabe disso. Eu era como eles, pelo menos até te conhecer. Você mudou minha vida! Lhe disse isso no passado, torno a dizer no presente, e sempre direi no futuro, pois é a mais pura verdade e sinto enorme gratidão por isso. Entretanto, eu nunca mais consegui dormir direito sem me lembrar o quanto te magoei. Luana eu menti para você... Menti quando disse naquele dia, que você tinha sido uma aventura, menti quando disse que não sentia ciúme de você, menti olhando no fundo de seus olhos, pois preferi ver você sofrer e saber que ficaria bem, do que correr o risco de alguma coisa te acontecer... Eu tinha certeza que você não faria aquilo que pedi para você fazer na última vez que nos vimos... Eu não podia deixar minha família saber de Giovana, era perigoso demais. -Perigoso? - Perguntou Luana incrédula. - Você tem noção da dor e desamparo que você me causou? Alguma vez você pensou em me contar a verdade? -Perdi a conta de quantas vezes... Mas graças a Deus, Irene surgiu em meu caminho. -Irene?! O que Irene tem haver com isso?! Ela sabia disso?! -Sabia... Não culpe ela, Luana... Era a única maneira de eu saber que você e nossa filha estavam bem. -Foi ela que falou para você onde eu e Giovana estávamos? -Ela não precisou, pois eu sempre soube... Eu tive que manter esse personagem, o qual por anos de assombrou, para proteger, vocês de minha família. -MAS QUE MERDA, MAURO! POR QUE VOCÊ NUNCA ME FALOU? Por que resolveu falar agora? -Hoje de manhã recebi uma ligação: Era meu pai. Minha mãe faleceu. -Ah Mauro... Eu sinto muito... -Ele me pediu perdão. E eu percebi que não podia passar mais um dia sem te falar disso... Você me perdoa? -Mauro... Quando eu vim morar aqui com Giovana, em minha mente eu pensava que fazia isso somente por ela... Mas em meu coração eu fazia isso por mim... De algum modo meu coração sabia que tinha algo de errado. Eu perdoei você no mesmo momento que pus meus pés nessa casa, mas eu só me dei conta disso, quando nos beijamos depois de todo esse tempo...
-Eu te amo, Luana, nunca passei um dia sem lembrar de você... De nós... -Eu também te amo, Mauro... Desde o dia que começamos a estudar juntos...
Depois de todos os esclarecimentos, Mauro e Luana tiveram uma noite de amor como aquela a qual conceberam Giovana. Mauro fugira daquilo que mais amava, com o fim de evitar que seus pais acabassem com a vida daquela que tinha salvo a sua no passado. Mas agora podiam em fim viver conforme seu coração mandava...
-Bom dia, vida... -Bom dia, amor... Acordou sorridente hoje. - Disse Luana com um sorriso largo em seus lábios. -É por que tenho um presente a você...
-Um presente? Mas não é meu aniversário nem nada, homem...
Mauro caminhou cuidadosamente na direção de Luana. Quando parou diante de sua pessoa, lhe acariciou a face e ajoelhou-se diante da mulher de sua vida. -Mauro... - Disse Luana demonstrando surpresa, seguida de um olhar doce e emocionado em direção de um pequeno pacote nas mãos de Mauro. -Chega de pensar no que não pudemos ter vivido. Vamos pensar no que vamos viver daqui para frente, topa? Luana Fernandes, aceita ser casar-se comigo, e me fazer o homem mais feliz do mundo?
-Aceito! É CLARO QUE ACEITO!
Mauro levantou-se e Luana emocionada o beijou com todo o amor que possuía.
Mauro a segurou entre seus braços e começou a gira-la, compartilhando de uma contagiante risada. - Meu Deus como eu sonhei com isso! - Disse Mauro sorrindo apaixonadamente para o rosto de Luana. - Compartilhamos do mesmo sonho, então...
Não demorou muito e naquele mesmo dia fiquei sabendo das novidades de Luana. Eu, mais do que ninguém, desejava a felicidade de minha amiga. Desde que a conheci eu desejava profundamente que ela fosse muito feliz, e que as coisas se acertassem para que ela não precisasse mais fugir... E falando em fugir, eu finalmente havia conseguido uma brecha no hospital em que trabalhava para finalmente conhecer minha irmã. Primeiro mandei uma mensagem a meu pai para confirmar se poderia ir, e em alguns minutos tive minha confirmação. Por sorte, desde que tinha saído de casa, meu pai permanecera com o mesmo número, então não tive dificuldade de entrar em contato.
-Avisarei Pietro também, pois é provável que eu chegue em casa mais tarde hoje...
Fazia algum tempo que Pietro não ia a academia como antes, e hoje ele retornava aos velhos hábitos. Eu ficava muito feliz por ele estar ocupando a cabeça com outras coisas. Sentia que ele estava se esgotando demais com algo, e eu deduzia que fosse a universidade a qual ele dava aula, então eu incentivava bastante a volta a esse hábito.
-Uma mensagem de Isabelle. - Disse Pietro surpreso. - "Amor, irei até o hospital conhecer minha irmã, voltarei mais tarde, beijos, te amo <3 "
O coração de Pietro gelou.
-DEUS! Isabelle vai até o hospital onde Rodrigo está! Droga, Pietro, chega de mentir, isso já está indo longe demais! Eu não suporto mais mentir para a mulher da minha vida, e nem para meu irmão!