Aprendendo a Viver | Temporada 2 | Episódio 4
Narrado por Eduarda
Eu não entendia porque tantos adultos tentavam falar comigo ao mesmo tempo. Qualquer tentativa de compreender o que eles diziam era falha, então simples parei de tentar, pelo menos por algum tempo. Uma hora eu estava assistindo televisão com meus pais na sala de estar, e outra hora aquela mesma sala estava repleta de pessoas das quais eu nunca ouvira sequer serem mencionadas por nenhuma das pessoa as quais cegamente acreditava que queriam me proteger, em vez de proteger o que eu representava. Agora eu me encontrava em uma sala onde haviam inúmeros brinquedos e uma mulher estranha que não parava de me olhar frente a ela.
-Olá, eu me chamo Carolina. - Disse aquela estranha mulher sorrindo amigavelmente em minha direção. Eu nada falei, e apenas esbocei um sorriso tímido. - Você sabe porquê está aqui? - Por mais que ela se esforçasse, ou pelo menos parecesse se esforçar, eu simplesmente não conseguia responder a qualquer coisa que ela me perguntasse, então simplesmente a ignorei e sentei próxima a uma gigante casinha de bonecas. Aquela mulher aproximou-se de mim. -Posso me sentar com você? - Eu, mais uma vez não lhe retornei nenhuma resposta, apenas lembro que lancei um rápido olhar como se estivesse consentindo que ela assim fizesse. Na época eu não entendia quem ela era, ou porquê eu estava onde estava, mas Carolina com o tempo me ajudou a conseguir confiança suficiente para voltar a falar. Ela foi muitos anos minha psicóloga, e ouso dizer que uma das poucas pessoas em que eu confiei. Com o tempo eu mesma percebi que cada vez que eu brincava naquela casinha de bonecas, eu recriava as cenas das quais eu presenciava todas as noites em minha casa. Mais especificamente a cena em que tudo aconteceu… O dia em que eu despertei cedo demais para o mundo real.
Ouço um barulho agudo seguido de um grito desesperado de minha mãe.
-Por que você me forçou a fazer isso, amor? Por que?!
-Mamãe? Mamãe, por que ta escorrendo essa tinta vermelha da boca do papai? - Perguntei enquanto ela se ajoelhava perto de mim.
-Duda, as pessoas são ruins meu amor… Elas querem o mal das outras… você precisa estar a frente delas! Você é boa de mais para esse mundo, meu anjo… -De repente ela aponta aquele objeto estranho em minha direção. Era uma arma.
De repente dois homens sai por trás de mim, enquanto minha mãe jogava a arma longe e tentava engolir vários compridos, os quais ela teria conseguido caso não fosse impedida. Depois daquele dia eu passei a morar com Nana. Meu pai foi hospitalizado, e passou meses em coma induzido. “Ele foi um milagre”, os médicos diziam, "Eu era uma menina de sorte”, insistiam em repetir. Não sabia se estavam brincando comigo, ou se eram cegos.
-Por que você me forçou a fazer isso, amor? Por que?!
-Mamãe? Mamãe, por que ta escorrendo essa tinta vermelha da boca do papai? - Perguntei enquanto ela se ajoelhava perto de mim.
-Duda, as pessoas são ruins meu amor… Elas querem o mal das outras… você precisa estar a frente delas! Você é boa de mais para esse mundo, meu anjo… -De repente ela aponta aquele objeto estranho em minha direção. Era uma arma.
De repente dois homens sai por trás de mim, enquanto minha mãe jogava a arma longe e tentava engolir vários compridos, os quais ela teria conseguido caso não fosse impedida. Depois daquele dia eu passei a morar com Nana. Meu pai foi hospitalizado, e passou meses em coma induzido. “Ele foi um milagre”, os médicos diziam, "Eu era uma menina de sorte”, insistiam em repetir. Não sabia se estavam brincando comigo, ou se eram cegos.
Com minha mãe internada, meu pai inconsciente no hospital, passei a viver com Nana, minha avó por parte de pai. Ela era realmente uma pessoa formidável e por muito tempo, havia me esquecido daquele sofrimento todo pelo qual eu estava passando. Certo dia, ela me levou para o local onde costumava trabalhar, e lá, eu o conheci. Joaquim, o garoto que tinha tudo e ao mesmo tempo nada. Lembro, como se fosse ontem. Assim que eu pus meus pés naquela mansão, eu imediatamente invejei aquele garoto. E nos vários dias em que eu acompanhei minha avó em sua rotina de trabalho, me mantive mais quieta, pois para mim era muito mais confortável estar em uma posição de raiva do que permitir que ele entrasse em meu coração para depois me abandonar novamente. Contudo, como era de esperar, eu aos poucos fui deixando de vestir aquela armadura de garota com raiva do mundo, dando lugar ao meu lado mais vulnerável, mas principalmente o lado em que permitia que as pessoas se aproximassem, ou em outras palavras, permiti a mim mesma que aproveitasse o quão bom era ser criança junto a um amigo tão incrível como Joaquim.
Os dias viraram meses, que se transformaram em anos. Meu pai havia despertado do coma e vendido a antiga casa a qual morávamos. Passamos a viver os três juntos: Nana, meu pai e eu. Eu percebia que a cada dia em que me encarava frente ao espelho, haviam algumas mudanças em meu corpo. E os olhares que essas mudanças despertavam por onde eu passava deixavam-me muito insegura com todo aquele universo novo diante aos meus olhos. Eu não queria aqueles peitos, nem aquela bunda, por conta daqueles estranhos que me olhavam maliciosamente. Sem que eu percebesse, acabei me afastando daquele que havia tornado-se uma das pessoas mais importes a mim, pois não queria que ele percebesse que eu estava mudando. Esse afastamento me machucava, pois a ultima coisa que eu queria realmente era ficar longe daquele que me fazia sentir segura. Felizmente eu não consegui ficar muito tempo longe de Quim, pois ele fez o impossível: Me resgatou de mim mesma. Foi na época em que começamos a namorar.
Eu já devia estar acostumada com as reviravoltas que a vida dá, mas sempre terminava surpreendida com o quanto as coisas ainda poderiam mudar.
-Você precisa me deixar falar com ela, Daniel, ela é minha filha!
-Ela deixou de ser sua filha no dia em que você apontou a arma para a cabeça dela, Helena!
-Mãe? O que você está fazendo aqui?
-Duda… você está tão linda minha filha… Eu voltei, meu amor… Voltei por você, por nós!
Eu tinha todos os motivos do mundo para odiar aquela mulher a minha frente, mas eu não consegui evitar correr para seus braços e matar finamente aquela saudade absurda que a falta dela me fazia. Tantas noites eu havia sonhado com o dia em que voltaríamos a ser uma família. Pena isso nunca ter passado de sonho, pois naquele mesmo dia meu pai havia conhecido a mulher que o tiraria de nós para sempre: Luciana! Se ao menos eu tivesse sabido disso naquela época… Se ao menos eu soubesse que por trás daqueles emails trocados fosse surgir a grande admiração que ele sente por ela até hoje…
-Você precisa me deixar falar com ela, Daniel, ela é minha filha!
-Ela deixou de ser sua filha no dia em que você apontou a arma para a cabeça dela, Helena!
-Mãe? O que você está fazendo aqui?
-Duda… você está tão linda minha filha… Eu voltei, meu amor… Voltei por você, por nós!
Eu tinha todos os motivos do mundo para odiar aquela mulher a minha frente, mas eu não consegui evitar correr para seus braços e matar finamente aquela saudade absurda que a falta dela me fazia. Tantas noites eu havia sonhado com o dia em que voltaríamos a ser uma família. Pena isso nunca ter passado de sonho, pois naquele mesmo dia meu pai havia conhecido a mulher que o tiraria de nós para sempre: Luciana! Se ao menos eu tivesse sabido disso naquela época… Se ao menos eu soubesse que por trás daqueles emails trocados fosse surgir a grande admiração que ele sente por ela até hoje…
Aos pouquinhos, minha mãe estava novamente fazendo parte de minha vida, e foi bom pois ela me alertava de coisas que até então eu não havia reparado, como por exemplo que Joaquim estava se tornando aquele galinha, e como eu precisava proteger o que era meu… Minha mãe me ensinou a gostar de mim mesma… Me ensinou a valorizar o meu corpo, pois ele seria capaz de estar sempre um passo a frente de todos. Ela me lembrou do mundo que eu vivia, antes que fosse tarde demais… Eu não era mais aquela garotinha fraca!
Não bastasse eu ter que me preocupar em descobrir quem era a mulherzinha que meu pai tanto falava, tive o desprazer de conhecer a novata que em meses conseguiria arrancar tudo de mim… Aquele ano havia iniciado bem. Eu estava me acertando com Quim, pela primeira vez havia feito amizade com uma garota de minha turma, que apesar de falar bastante besteiras era uma boa companhia para ir ao shopping manter-me linda. Tudo estava se encaminhando. Até minha mãe havia conseguido sossegar um pouco no meio de tantas angustias. Pelo menos até o dia em que aquela garota pôs os pés na escola. De primeira vista ela não parecia ser o que hoje era a grande pedra no meu sapato.
-Coitada ela parece estar bem perdida, não é Duda? Poderíamos chamar ela para fazer o trabalho com a gente o que você acha?
-Para mim tanto faz, Mila, você sabe que eu não tenho essa alma caridosa que você tem…
-Deixa disso, Duda, ela parece ser querida…
-Credo, ela é muito esquisita, Mila…
-Coitada ela parece estar bem perdida, não é Duda? Poderíamos chamar ela para fazer o trabalho com a gente o que você acha?
-Para mim tanto faz, Mila, você sabe que eu não tenho essa alma caridosa que você tem…
-Deixa disso, Duda, ela parece ser querida…
-Credo, ela é muito esquisita, Mila…
Posteriormente, Camila não havia sido a única pessoa que havia visto simpatizar com a novata… Joaquim, também parecia estar bastante pensativo quando eu o questionei sobre seu silêncio. Senão me engano estávamos dando um tempo de nosso relacionamento quando ele me falou sobre Mariana, mas mesmo assim, a forma como ele se referiu a aquela garota, não havia me agradado nem um pouco. Eu já conhecia Joaquim de trás para frente, sabia que ele havia se encantado por ela muito antes de eu saber da aposta… Fato que não demorou muito para eu ficar sabendo pois soube muito bem como arrancar a resposta de Billy naquela mesma tarde… Sem mencionar aquele estranho bilhete que apareceu do nada em minha mochila.
-Você é mesmo uma safada, Eduarda! Mas me diz uma coisa, você tem alguma ideia de quem pode ter colocado esse bilhete na sua mochila?
-Quem colocou pouco me importa, o que importa é que agora eu sei de tudo, e além do mais... Você pode me chamar do que quiser, meu caro, só não pode dizer que eu não sei como ser generosa com quem me fala aquilo que eu quero…
-Safada… Vai me dizer que não gostou?
-Eu preciso mesmo dizer se gostei, Billy? O que eu gritei no seu ouvido enquanto transamos não te convenceu?
-Por que você ainda fica com aquele babaca?
-Porque eu amo ele, Billy, ele é meu!
-Ah é? E eu sou o que?
-Você é um brinquedinho, bem gostoso por sinal!
-Você é mesmo uma safada, Eduarda! Mas me diz uma coisa, você tem alguma ideia de quem pode ter colocado esse bilhete na sua mochila?
-Quem colocou pouco me importa, o que importa é que agora eu sei de tudo, e além do mais... Você pode me chamar do que quiser, meu caro, só não pode dizer que eu não sei como ser generosa com quem me fala aquilo que eu quero…
-Safada… Vai me dizer que não gostou?
-Eu preciso mesmo dizer se gostei, Billy? O que eu gritei no seu ouvido enquanto transamos não te convenceu?
-Por que você ainda fica com aquele babaca?
-Porque eu amo ele, Billy, ele é meu!
-Ah é? E eu sou o que?
-Você é um brinquedinho, bem gostoso por sinal!
-Um primor Mariana, não é Duda? Ela por acaso não é colega sua?
-É pai… Infelizmente…
Aquela desgraçada iria me pagar! Primeiro, Joaquim, depois minha única amiga e agora meu pai? Na volta para a casa após aquele primeiro jantar, tive de aguentar meu pai vomitar elogios a respeito a Mariana e o jeito dela. Nem eu acreditava que havia ficado com pena dela na hora que o irmão dela havia dito aquelas coisas… Eu deveria era ter rido da cara de sonsa dela… Eu preferi ficar neutra, até pensar em como iria lidar com toda aquela situação.
-É pai… Infelizmente…
Aquela desgraçada iria me pagar! Primeiro, Joaquim, depois minha única amiga e agora meu pai? Na volta para a casa após aquele primeiro jantar, tive de aguentar meu pai vomitar elogios a respeito a Mariana e o jeito dela. Nem eu acreditava que havia ficado com pena dela na hora que o irmão dela havia dito aquelas coisas… Eu deveria era ter rido da cara de sonsa dela… Eu preferi ficar neutra, até pensar em como iria lidar com toda aquela situação.
Mariana e Camila estavam viajando, enquanto me restava a ficar mais uma vez sozinha em Windenburg. Pelo menos até meu pai me obrigar a viajar com ele e Luciana na lua de mel deles. Era o fundo do poço, estar na posição onde eu estava. A viagem havia durado poucos dias, pois meu pai precisava voltar ao trabalho. Sobrava apenas Luciana para me fazer companhia. A mulher que eu mais deveria odiar foi a única que havia se importado comigo naqueles dias intermináveis das ferias de verão… Por mais que eu me esforçasse para continuar odiando aquela mulher, a cada dia mais me sentia acolhida e querida por ela. Esse sentimento me fazia sentir como se tivesse traindo a minha própria mãe, mas mesmo assim, não consegui manter aquela armadura de garota fria por muito tempo. Luciana de fato parecia ser uma boa pessoa, por mais que eu abominasse admitir.