"Estava consideravelmente mais magro e com uma pele bastante pálida, mas aquele perfil era inconfundível"... Se havia algo que Alexandre poderia se vangloriar era de sua excelente memória fotográfica. Especialmente se tratando de alguém que foi difícil de aceitar quando surgiu em sua vida... Ele poderia jurar que tinha visto Rodrigo, pois a final ele o viu de fato, mas a notícia de sua morte foi tão divulgada meses atrás que por mais que seus olhos tivessem certeza do que tinham acabado de presenciar, sua mente ainda duvidava...
-Alex, aconteceu alguma coisa?_ Perguntou Carolina preocupada enquanto os olhos dele voltaram-se para a direção da mãe Carolina por alguns segundos, que foram suficientes para que Rodrigo saísse do seu campo de visão. -Eu só...
-...Pensei em ter visto uma pessoa... Mas deve ter sido coisa de minha cabeça._ Sua frase não coincidia com seu pensamento, pois de uma coisa ele tinha certeza: Ele tinha visto uma pessoa cuja a fisionomia era muito parecida com Rodrigo...
No mínimo essa situação havia deixado Alexandre com um pulga atrás da orelha, o mesmo sabia que precisava tirar essa história a limpo ou não teria paz. Ele tinha que ver de perto quem era esse sujeito para se convencer de que não era quem ele pensava que fosse, por mais que de alguma forma, tivesse certeza de que era Rodrigo.
Poucos minutos mais tarde, após ele forçar Carolina a comer alguma coisa, Marcos aparece e pede para conversar com Alexandre. O médico sentou-se ao lado dele com muita ansiedade para dizer o que tinha para ser dito. -Senhor Camerini, eu consegui conversar co Isabelle... -E como ela está? -Me pareceu muito bem... Mas acredito que você verá com seus próprios olhos... -Isso quer dizer que...
-Ela aceitou falar com você... -Céus, eu sabia que ela concordaria... -Sim, mas um adento... Ela estava muito magoada com você quando saiu do hospital.
-Eu realmente não a culpo... Nem eu me perdoaria, mas... -Mas? -...Só de poder ver minha filha de novo... Eu achei que nunca mais a veria... -Entendo Alexandre... Mas eu volto a aconselhar: Não vá com grandes expectativas... -Eu agradeço seu conselho, assim como agradeço por me ajudar. -Tudo bem, é o mínimo que eu poderia fazer... -Doutor tenho uma última pergunta: -Diga. -O que aconteceu com Rodrigo, o rapaz que acidentou com minha filha? O que eu ouvi rumores era que o mesmo não havia sobrevivido, mas agora pouco eu vi um rapaz que... tinha uma incrível semelhança com o meu genro, existe a existe a possibilidade de...? -Eu não posso dar informações sobre os pacientes. Eu já desrespeitei regras demais desse hospital por causa de sua família, eu peço que compreenda.
A noite mal havia começado e minha cabeça já estava atordoada com o dia de amanhã. Pietro ainda não tinha voltado, seja la de onde, quando eu eu saí para respirar um pouco de ar. Minha distração foi tanta que nem percebi que o mesmo se aproximava de minha pessoa. -Bu! -PIETRO! -Nossa, amor você estava longe, hein? -Você me assustou... Sabe que eu odeio quando faz isso! -Aconteceu alguma coisa? -Eu falei com Marcos... -E então? -Amanhã verei meu pai...
Pietro percebeu que eu realmente não estava nem um pouco para brincadeiras, como o susto que ele me deu e que quase parou meu coração... Mas qualquer possibilidade que fosse me levar a ficar zangada com ele foi por água a baixo quando o mesmo levou sua mão ao meu rosto, acariciando-me e dizendo a seguinte frase: -Eu te amo, Isa... Por favor nunca duvide disso... Eu vou com você amanhã, não estará sozinha, meu amor...
-Pietro você foi maior presente que eu poderia ter ganho... Me deu um norte quando eu estava desorientada... Se foi Deus ou o acaso que te colocou no meu caminho eu não sei, mas quero que saiba que sou muito grata por ter você ao meu lado... -Isa... Pode ter sido você que despertou do coma, mas fui eu a pessoa que acordou para ver que a vida vale a pena ser vivida... Tudo por sua causa...
Não contive meus olhos depois das lindas palavras que Pietro direcionou a mim. Ele me deu forças para lutar, um norte para me direcionar e um futuro para planejar. Se meu coração estava frio, era só eu estar ao seu lado que o mesmo se aquecia com sua ternura e cumplicidade. Mesmo que eu tenha passado por tudo que passei, eu me considerava a pessoa mais sortuda desse mundo pelo simples fato dele olhar no fundo de meus olhos, enxergar quem eu era de verdade, e dizer com toda a sinceridade do mundo que me amava.
-Eu te amo, Pietro, com todo meu coração...
Enquanto isso no hospital, se havia um sentimento que pudesse descrever Júlia naquele momento era o quanto a mesma estava impaciente por se sentir presa em hospital. Por algum motivo sua mente achou que a melhor coisa a se fazer seria tentar fugir daquilo tudo: O Hospital. Os medicamentos que ainda faziam algum efeito. As pessoas.
Para a sua surpresa ela não esperava que assim que fosse colocar o primeiro passo para fora de seu quarto, a mesma iria dar de cara com Rodrigo que logo percebeu os planos de Júlia.
-Bolas! Estava tão perto...
-A senhorita está pretendendo fugir? -Eu não aguento ficar presa no meu quarto, não tente me impedir! -Hahaha meio difícil na minha atual situação... -Ah! Desculpe eu não... -Tudo bem, eu também não me acostumei com essa cadeira...
-Eu me chamo Rodrigo. Como é seu nome garotinha? -Meu nome é Júlia. -E por que está querendo fugir do hospital, Júlia? -Por que não tenho ninguém para conversar... Eu não tenho amigo nenhum... -Bem... Temos isso em comum, eu também não tenho ninguém para conversar. Sei que não posso caminhar por ai como você, mas se quiser um amigo... -Eu quero! Me conta sobre você, Rodrigo! Por que está no hospital?
-Até onde eu sei... Eu estive dormindo por vários meses e acordei há alguns dias, estou na cadeira de rodas por que ainda não recuperei todos os meus movimentos, mas o medico prevê que é uma questão de tempo para que eu volte a andar como antes... E quanto a você?
-Como minha cabeça denuncia, tenho leucemia... Mas o tratamento quimioterápico começou a perder o efeito, por conta de um cromossomo que eu tenho... Então preciso de uma nova medula... -O que aconteceu para você ter entrado em coma?
Essa era uma pergunta que atormentava a mente de Rodrigo desde que o mesmo acordou. Disseram-lhe que houve um acidente, o qual ele não se lembrava de absolutamente nada. Por alguns segundos Rodrigo permaneceu em silêncio a espera de que por algum milagre um flash de lembrança fosse surgir em sua mente, a qual ele comparava a uma estrada cheia de buracos. Sem sucesso ele simplesmente respondeu: -Essa pergunta me atormenta todos os dias desde que eu acordei, pequena Júlia... No inicio eu não queria me lembrar, por pressentir que tal lembrança fosse me trazer muita tristeza, mas hoje eu vejo que nunca vou conseguir recomeçar minha vida se não souber de meu passado.
-Eu sinto muito por você, Rodrigo... Queria conseguir te ajudar de alguma forma...
-Você pode! Um pouco de companhia e amizade pode fazer milagres... -Acredita mesmo? -Com todo meu coração. -Então eu lhe farei companhia! Não irei mais fugir... -Eu fico muito grato, minha mais nova amiga...
-Acho melhor eu voltar para o quarto antes minha mãe veja que sumi... Nos veremos amanhã? -Claro que sim! -Então, boa noite Rodrigo! -Boa noite Júlia!
No decorrer daquela madrugada Irene não conseguia dormir, pois depois que a mesma conversou com Bernardo, no menor esforço que a mesma fazia lembrar de algo, sua mente era levada para uma época antes de tudo acontecer. Um passado tão distante que foi muito bem escondido no subconsciente de Irene.
-Como a vida pode dar tantas voltas? Irene passou pela porta cozinha com uma triste expressão em sua face. Bernardo não era o único que tinha cometido erros no passado. Quando o mesmo começou a desabafar com Irene, não trouxe a tona apenas suas lembranças, mas a dela também. Era dona de um segredo, o qual protegeu por anos, mas que era igualmente poderoso para mudar uma vida, caso fosse revelado.
-Fala Bernardo! -Irene? Isso é hora de criança estar acordada? -Não sou criança! Tenho 12 anos já! -Pra mim é criança... Mas fala, conheço essa cara, o que houve?
Bernardo e Irene foram criados como irmãos. Ela era filha da cozinheira da casa de Bernardo. Quando sua mãe faleceu o pai de Bernardo ficou com pena dela, pois Teodora era muito querida por todos da casa, e então a adotou... "Era o que ele dizia a todos". Todavia, a verdade que Teodora havia contado a sua única filha era um pouco diferente: Irene não tinha apenas sido criada como irmã de Bernardo. Ela era de fato irmã de Bernardo. Entretanto Teodora fez Irene jurar que jamais ia revelar a verdade para seu pai, pois essa era a única garantia que a mesma conseguiria estudar e ter um futuro.
Esse segredo marcou o início de uma vida omitindo verdades...
Era uma noite de verão como outra qualquer, Bernardo lia um exemplar de sonhos de uma noite de verão de Shakespeare, sentado à mesa, bem distraído, quando Irene se aproximou com um sorriso encabulado. -Podemos conversar? Por favor...
-O que você não me pede chorando que eu não faço sorrindo? -Hahaha eu nem estou chorando, seu mala! -É maneira de falar, tampinha... Mas diga: Como posso te ajudar?
-Tem um garoto que eu gosto... -Você não é meio nova para essas coisas? -Ta parecendo seu avô. - Hahaha, não seja cruel... Mas prossiga: -Você que é homem poderia me dar umas dicas de como me aproximar? -Isso quem deveria fazer não é o tal garoto? -Bernardo, estamos em pleno século XX, e você me fala uma coisa dessas...
-Ok, ok... Peço desculpas. Bem em posso tentar, mas primeiro você precisa me dizer quem é o felizardo: -Não dá para só me dizer o que fazer? -Irene, uma dica não vale para todos os homens...
-É um pouco complicado... -Qual é, fala logo... -Ele já está no segundo grau. O nome dele é Eliseu. -Eliseu?! Meu colega?! -O próprio... -Ele é tão... Na dele... -Eu sei... -O que te fez gostar dele. -Ele me deu uma rosa e me convidou para o baile dançante da cidade. Nenhuma garota da minha sala foi convidada, apenas eu... - Nossa eu nem sei o que te dizer...
-Diga um conselho para minha pessoa. -Bem, eu acho que o melhor conselho que eu posso te dar é pedir para você ser você mesma, se ele gostou de você assim, você não tem que tentar ser ninguém além de si mesma.
Foi o conselho certo dado para eu usar na pessoa errada...
O dia chegou... Dia em que eu veria meu pai cara a cara. Meu coração quase saía pela boca durante meu primeiro dia de trabalho. Como Daniel não é bobo nem nada, ele foi obrigado a questionar-me sobre minha agitação estranha toda vez que eu olhava para algum relógio.
-Você está bem Isabelle? -Estou só um pouco ansiosa, Daniel, eu vou ter que ter uma conversa difícil com meu pai hoje e eu nem sei por onde começar... -Tente não pensar nisso agora, eu digo isso por experiencia própria, use o trabalho para não ter que pensar..
-Farei isso! Desculpe minha distração, Daniel... -Não tem problema, Isa, mas eu preciso de você atenta agora, Vamos a ala infantil agora.
Daniel estava certo. Eu não podia me dar ao luxo de me distrair em meu local de trabalho, principalmente tratando-se de um hospital, onde um erro podia significar uma vida.
Após terminar meu turno no hospital encontrei-me com Pietro, pois como ele havia me prometido, iria estar comigo nessa hora. Não sei se teria coragem de encarar meu pai ,depois de tudo o que ele fez, caso tivesse sozinha. Eu tinha sorte de ter Pietro ao meu lado. Ao avista-lo a primeira coisa que eu fiz foi abraça-lo. Ele percebeu o quanto eu estava aflita com a situação e colocou sua mão em meu rosto acariciando-me e acalmando-me os nervos um pouco.
-Como você está? -Com medo. -Isa, vai dar tudo certo, acredite.
Eu entrei no tal lugar onde havia combinado de encontrar com meu pai e logo que passei pelas portas de entrada eu o avistei... Uma sensação horrível me subiu na boca do estômago. Misturava rancor, tristeza e, por mais que eu não quisesse admitir, saudade. Ele a principio não me reconheceu, pois não tinha me visto ainda com os cabelos mais curtos e completamente ruivos. Mas essa era eu agora.
-Isabelle? -Oi pai..
-Você está diferente, mais bonita... Olhei para você agora e por um momento jurei que era sua avó, Hanna...
-Deve ser por isso que sempre gostei de cabelos ruivos...Bem... Eu estou aqui agora. Você disse que queria conversar... Estou pronta para ouvir o que você tem a me dizer... Continua...