Sol podia nascer da mesma maneira em todos os dias, porém aquela não seria uma manhã comum para Luana. A conversa que tinha tido com Sra. Dapnhé havia a deixado muito apreensiva de fato. Antes que todos do grande hotel levantassem, Luana já estava de pé caminhando pelos jardins da velha casa. Havia muita coisa para ser pensada. A vida de Giovana fazia parte de suas decisões... -Você continua com o mesmo hábito de ir ao lago, Lua... -Só uma pessoa me chama assim...
-...Mauro... Não pode ser... Era como se estivesse ouvindo uma pessoa próxima que a muito tempo tivera falecido. Mauro Surgi-lhe a frente como um de seus fantasmas passados. O pior deles.
-Eu te conheço mais do que você imagina Lua... E pelo visto você continua a mesma pessoa... Esse anos só te fizeram bem... E então...Como está nossa filha?
-Minha filha, Mauro! Minha filha... Giovana já deixou de ser sua filha a muito tempo. -Giovana... Então esse é o nome da nossa menina. -Nossa? Essa palavra nunca existiu Mauro...E nunca vai existir! Eu já te disse um milhão de vezes.
-Luana eu era um moleque, eu não sabia nada da vida! Se existe algo que eu me arrependo de ter feito...
- Nem perca saliva com sua desculpas! Além do mais isso não importa mais... O fato é que o tempo passou e não há nada que você possa dizer que faça o tempo voltar! Não existe mais nada que você possa fazer que cicatrize a imensa ferida que você e sua família me causaram.
-Eu preciso de uma segunda chance Luana... Você acha mesmo que está pensando no melhor para Giovana? Nós dois sabemos que você sempre foi do tipo orgulhosa... Hoje eu percebo o quanto eu fui babaca com com você... Eu não fazia ideia do quão mesquinha era minha família...
-... Olha... Eu não te culpo... Eu sei que infelizmente não existem meios que possam fazer o tempo voltar... Eu sei disso! Mas eu estou aqui agora Luana... Você não está mais sozinha. Eu vi Giovana por poucos minutos e já fiquei encantado. Olha... Não me responda nada por agora... Que tal nós nos falarmos daqui a aluns dias?
Enquanto isso na cidade vizinha Alexandre ficou de levar Júlia a uma consulta com o seu oncologista a fim de ver se a quimioterapia estava fazendo o devido efeito. Porém antes de seguir viagem, ele fez uma parada. Júlia estava com os olhos caídos e desestimulados, pois sabia que depois da consulta com o médico iria em seguida ser medicada pelo tratamento que "roubou" os seus fios escuros como o de Alex. -Onde estamos? -Achei que pudesse gostar desse lugar. Faz anos que não venho aqui.
- Mas nós não vamos nos atrasar? - Temos algum tempo Júlia... - A mamãe não vai brigar com o senhor, por conta disso? - Deixa que com ela eu me entendo! Você precisa de ar puro...
-Você vinha aqui com minha irmã? -... É... Quando ela tinha a sua idade, eu adorava trazer ela para brincar aqui... - Eu vou conhecer ela um dia? Sempre quis uma irmã mais velha... - Eu espero que sim... Isabelle ia amar você assim que te conhecesse. -Por que você não nos apresenta?
-É complicado Ju... Eu fiz algo imperdoável a ela... Eu sei que ela nunca mais vai querer falar comigo, e eu não a culpo nem um pouco...
-Você já tentou pedir desculpa? - Como eu queria que as coisas fossem simples assim... - Talvez sejam, vocês que complicam tudo!
-Você é uma garota bem inteligente Julinha! Ainda vai brilhar muito na vidas das pessoas! - Eu às vezes penso em desistir... Não acho que seja tão forte como vocês dizem... - Você mais forte do que imagina! Façamos uma promessa: Eu prometo que não vou desistir de consertar meus erros da melhor maneira que puder e você me promete que nunca vai desistir de lutar por essa guria incrível que mora dentro de você. Que tal?
-Eu prometo papai... Obrigada...
-Ótimo! Agora vá brincar e quero que você se divirta ao máximo está bem?
Júlia foi diagnosticada com leucemia logo nos primeiros meses de vida. Carolina quando descobriu do estado debilitado de sua filha foi em busca da ajuda dos melhores oncologistas do país para ajudá-la. Porém isso levou à falência, pois os custos eram altíssimos. Isso não a deixou com outra escolha se não ir atrás do homem que por muitos anos ela negou, por vergonha, ter se envolvido. Alexandre.
Júlia era doce. Com uma grande imaginação, alguns minutos em cima do submarino de madeira e com o timão esverdeado em suas mãos foras suficientes para seus pequeninos olhos e sua grande mente se visualizar a bordo do Pérola Negra ao lado do capitão Jack Sparrow.
- Ai meu Deus! Mata, Mata, Mata! É Davy Jones!
Esse momentos com Alex trouxeram cor a vida de Júlia novamente, como a muito tempo não havia...
Uma bela luz irradiava do fundo de seus olhos e iluminada todos que a rondavam. Júlia possuía um brilho único e só dela. Tão nova e já conseguia fazer diferença na vida de tanta gente... Seu sorriso coseguiu resgatar um sorriso que há muito já estava escondido. O de seu pai.
Não são todos os dias que chances como essas são dadas para que as pessoas possam se redimir. Júlia era como um dessas chances para Alex... era seu recomeço... -Então é assim que se pesca?
-Você está indo bem... - EU CONSEGUI!!! Peguei um!
-Muito bem Juju... Você é uma excelente pescadora! -Obrigada papai...
Pietro se apressava quando esbarrou com aquele velho conhecido na saída do hotel. Já fazia alguns anos que aquele rosto não era visto, mas mesmo com um olhar mais maduro, Pietro o reconheceria. -Mauro? Nossa... -Pietro? Realmente faz anos...
-Você sumiu... A última vez que tive noticias tuas, Rodrigo ainda morava comigo e nosso avô. -Eu tive bons motivos Pietro... Mas agora estou de volta, quero consertar tudo. -Entendo... Mas acho que vai compreender se eu te disser que muita coisa mudou nesses últimos 10 anos... -Eu sei que não tem como mudar o passado Pietro. Aliás, é a segunda vez que eu digo isso hoje, acredite ou não. Mas a questão é... Eu não aguento mais viver com o peso da culpa do meu passado. Eu preciso arrumar a vida das pessoas que eu baguncei... Não é justo com elas...
-Eu entendo o que você está dizendo... Bem... como posso ajudar? -Pode me dizer onde está Rodrigo. Preciso me desculpar muito com seu irmão. -Ah...Você não está sabendo então... -O que aconteceu?
-Um acidente. Ele infelizmente não resistiu... -O que?!
-Quando foi isso? Não consigo acreditar... -É um tanto recente. Pouco mais de um mês... -Não posso acreditar, Pietro...
-Estamos todos chocados com a fatalidade... Não é fácil seguir em frente, mas estamos tentando. -Eu vou estar em Riviera por tempo indeterminado, Pietro. Se eu puder ajudar de alguma maneira... -Eu agradeço, Mauro...Serio mesmo. Meu avô vai gostar de saber que está bem. Eu me lembro que ele tinha muito estima por você. -É verdade. Sr. Perini era como um avô que eu nunca tive. Vai ser bom poder vê-lo.
-Bem, Mauro, eu continuo morando no mesmo endereço, caso queira estrar em contato. Porém agora eu tenho um compromisso cara, por isso não posso ficar conversando contigo por muito mais tempo.
-Ta tranquilo, Pietro... Eu estou por aqui agora... A gente se esbarra qualquer hora dessas...
Estava começando o entardecer quando avistei Pietro na entrada do velho hotel.
-É bom vê-lo, Pietro!
-Digo-lhe o mesmo!
-Acredito que você vá gostar do lugar onde vamos. -Acredito que vou sim! -Rodrigo e eu adorávamos ir lá quando crianças. -Está tudo bem? Você parece um pouco distante...
-Não é nada... Apenas vi alguém que a anos eu não via...
-Entendo... Bem, podemos falar sobre isso enquanto estamos a caminho desse lugar, se você concordar, é claro...
ENQUANTO ISSO NO HOSPITAL... Marcos estava cuidando o máximo que podia de Rodrigo, arriscando sua licença medica por contas das inúmeras mentiras que fora obrigado a dizer.
-Como ele está, Marcos? -É difícil dizer, Bernardo. Estamos fazendo todo o possível para sua melhora... Hora estabiliza, hora melhora ou piora... Eu já lhe disse... Pessoas no estado dele, dificilmente sobrevivem...
-Eu não vou desistir do meu garoto.
Bernardo e Marcos saíram do quarto de Rodrigo com muita aflição. Marcos não dizia uma palavra, apenas olhava apreensivo para Bernado. Por mais que as ordens do mesmo soassem diretas e rudes, tudo que Marcos conseguia sentir era pena, pois de acordo com sua experiencia medica, Rodrigo não possuía chances.
-Marcos... Custe o que custar, quero que me prometa. Faça o impossível para trazer ele de volta. Por tudo que eu já lhe fiz. -Eu já lhe dei a minha palavra, Bernardo. Não precisa me lembrar de algo que desperta comigo em todas as manhãs...
Era tudo uma questão de tempo. Apenas o tempo diria se Rodrigo ganharia uma segunda chance... Era um mistério saber onde seu subconsciente se encontrava. Bernardo sentia uma grande culpa em seus ombros, pois no fundo julgava-se o grande culpado de toda desgraça que atingira sua família. O passado o tornara o homem amargo deste presente.
Passamos mais ou menos uma hora andando de carro. Pietro pouco havia me revelado sobre a visita desse amigo que claramente o deixou bastante apreensivo. Porém quando chegamos ao lugar que ele tanto me falou, qualquer sentimento ruim que poderia estar sentido sumira... A energia daquela natureza me trazia a mesma energia de Rodrigo. Era como se estivesse dentro do meu sonho. -Aqui é simplesmente... Incrível...
-Você acreditaría se eu dissesse que esse lugar parece não ter sofrido as mudanças do tempo? É realmente incrível, parece que a qualquer momento vou me vivar e encontrar com meu irmão ainda criança...
A tarde havia sido maravilhosa. Nem percebemos que o sol ia se escondendo entre as montanhas ao mesmo tempo que levava consigo a agradável temperatura. Passamos a maior parte do tempo conversando sobre o passado, pois trazia reconforto a nós dois...
-É tão bom poder voltar aqui... -Eu fico muito feliz por você ter me trazido aqui... Acho que desde que me entendo por gente gosto desse contato com a natureza, sabe? -Eu sei como é... Eu também era assim... Sou ainda, eu acho... -Então la vai a pergunta de um milhão... Por que você nunca mais voltou aqui? -Porque, basicamente, foi aqui em que eu vi Rodrigo pela ultima vez...
-Pietro... -Não, tudo bem... Eu só queria que Rodrigo soubesse o quanto eu me arrependo de cada palavra que disse para ele aquele dia... Ele sempre teve uma maneira bem diferente da minha ver as pessoas... Eu sempre julguei o que mais tinha de especial nele. Enquanto ele se fascinava pelo peculiar e fora do padrão e sempre o repreendi... Acho que agora, analisando o passado de meu irmão, percebo que um de seus maiores talentos era mostrar as pessoas o quanto elas são especias pelo que são... -Acredito que foi nesse momento em que eu descobri que estava apaixonada por ele... Ele conseguiu resgatar em mim alguém que nem eu sabia que existia... Eu estava me afogando entre os livros de medicina, e ele surgiu como uma boia para me mostrar que a vida é bem mais que aquilo... -Eu confesso que imaginei isso quando soube quem era... -Havia algo de errado comigo? -Errado? Não! Mas havia algo... Algo diferente... Algo que com certeza o deixaria fascinado.
Um aperto de saudade surgiu-me no peito. Entretanto outro aperto ecoou mais alto do que eu planejara no meu estômago, distraindo-me da saudade. -Parece que você está com fome. -Faz algumas horas que eu não como, na verdade. -Pelo o que eu me recordo, aqui perto tinha um mercado. Eles tinham um ótimo cachorro-quente que da para ser grelhado aqui. -Você sabe cozinhar? -O que te faz pensar que não? -Não sei, só... Nunca imaginei...
-Antes que eu me esqueça. Você disse que estava estudando medicina? Porque parou? -Com o lance do acidente, e da minha família, eu ainda não tive muito tempo para pensar no assunto, mas, sim. Eu quero voltar. -Hum... Você não fala muito sobre sua família... -Eu prefiro não entrar no assunto, Pietro... -Tudo bem, eu respeito, mas se quiser conversar um dia... -Eu fico grata. De coração... Mas por que perguntou? -Aqui em Riviera tem uma boa universidade de Medicina... Eu pensei, já que está procurando um local para recomeçar...
-Pietro é muita gentileza sua querer me ajudar... Eu prometo que irei pensar a respeito -Eu posso te ajudar com o que precisar. -É um pouco engraçado... A dois dias você não queria me ver nem pintada de ouro e agora... -...Eu percebi que você é a única pessoa que consegue manter a memória de Rodrigo viva... É difícil de se explicar... -Tudo bem... Posso te fazer uma pergunta? -Claro, faça! -Será que eu um dia vou ter a honra de ouvir o professor do meu amado tocar piano para mim? Seria a sua maneira de manter a memória dele vivo... -Eu não sei se vou conseguir tocar de novo... Rodrigo sempre esteve ao meu lado apoiando-me... Agora que ele se foi, acredito que ele levou consigo o pedaço de mim que se alegrava ao tocar... Sabe... Eu até hoje carrego uma foto antiga que eu escanei, de quando eu e meu irmão éramos duas crianças... mas desde aquela época a música fazia parte da nossa vida.Veja.
Aproximei meu corpo do de Pietro e nossas mãos se tocaram acidentalmente, porém para minha surpresa aquilo não me causou desconforto como eu achei que causaria. O que eu senti estava mais para uma sensação de proteção.
O primeiro rosto que vi logo identifiquei suas feições. Eram Rodrigo sorrido com seus lábios despreocupados em primeiro plano e Pietro logo atrás sentado no piano, claramente bastante concentrado em qualquer que seja a musica que estivesse tocando.
Pietro estava certo. De fato havia um mercado onde compramos os tais cachorros quentes que meu estômago reclamava para eu comer. -Você sabe o que está fazendo? Se eu desmaiar de fome, você vai ter que me carregar e eu já aviso que peso 67 quilos.
-Você nunca ouviu a frase, quem tem pressa come cru? -Já. Da mesma pessoa que disse que se você não olhar o que está fazendo vai queimar nossa janta...
-Tem certeza que não quer ajuda? -NÃO! -Nossa ta! Só perguntei hahahaha!
-Cachorro quente é minha especialidade! -Hahaha, logo logo a gente descobre isso...
-Pelo cheiro, está muito bom... -Pietro, estou morrendo de fome... Seria grata se me deixasse comer logo.
-Está uma delícia Pietro! -Eu sabia que ira gostar...
-Isabelle... Voltando ao assunto... Eu gostaria que pensasse com carinho sobre a possibilidade de recomeçar os estudos aqui... -Eu prometo que pensarei...
Eu tinha uma escolha nas mãos... A companhia de Pietro estava me fazendo um bem que não poderia imaginar que pudesse fazer... Eu podeira ficar na cidade e deixar essa amizade crescer, porém essa decisão manteria o passado cujo os erros de meu pai que tanto trouxeram sofrimento, e que eu tanto queria esquecer, estariam ligado em mim permanentemente... Não seria fácil, mas eu teria que escolher...