-Meu Deus... é incrivel poder voltar aqui... E ao mesmo tempo tão estranho pisar de novo nesse lugar. A sensação é de que faz pelo menos uma vida desde que estive aqui pela última vez, e se parar para pensar, pode-se dizer que sim... O Rodrigo que esteve aqui antes era tão diferente de mim. Ele tinha tantas outras coisas em mente... A busca de um rumo... Uma briga... A decisão de uma faculdade... Ah mas esse recomeço...
Rodrigo sentou-se à cama com os olhos fechados, porém conseguia nesse momento ter uma imagem mais clara de flashes de seu passado. Após ter finalmente revisto o rosto de Isabelle, suas lembranças iam voltando agora com uma maior frequênciaa. Ele lembrava-se do exato momento do acidente, instantes antes dele perder a consciência seus olhos presenciaram os de Isabelle se fecharem. Mesmo com todo acidente acontecendo bem diante de seus olhos foi Isabelle que o fez entrar em desespero, ou melhor dizendo, foi a hipótese de ela nunca mais abrir seus olhos que o deixou completamento tomado pelo medo...
De repente seus pensamentos foram interrompidos pelo som da porta se abrindo. Era Bernardo! -Rodrigo? Está tudo bem? -Está sim Vô... Eu só estou me lembrando... -Lembrar faz bem... -É doloroso, mas é melhor do que viver no breu. -E o que você achou do seu quarto? -Eu gostei, mas é estranho... Não me refiro a decoração, mas a situação... Acho que é como uma sensação de dejavú, mas ao mesmo tempo como se eu fosse outra pessoa...
-Hum... -Eu sei que é confuso... -Tudo bem Rodrigo, eu creio que intendi... -Mas vô, mudando de assunto... Onde está Pietro? -Eu creio que ele vira mais tarde. -Preciso conversar com ele, pois preciso de sua ajuda. -Será que você não pode contar ao seu avô?
-Vô eu me lembrei... Eu não estava só naquela fatídica noite, eu estava com Isabelle... E foi ela que me ajudou a recordar de tudo... Na verdade eu apenas vi ela... Foi o suficiente para mim... Aliás vô... Quando você soube do acidente... Por que você não foi atrás dela? Ou você foi? Me conte como... Apenas diga isso... -Rodrigo... O acidente foi... O pior momento de minha vida... Quando fiquei sabendo que seu coração, por mais fraco que seja, ainda batia dentro de seu peito, eu jurei por tudo de mais sagrado que não desistiria de você... Nunca... Eu fiquei sabendo do acidente momentos depois de eu ter terminado com algumas folhas no escritório... Rodrigo eu mal conseguia dirigir, por nao parar de pensar em você... Sua vida estava tão fragil que eu nem sequer fui atras daquela mulher... -Então você sabia que eu não estava só, e mesmo assim não me falou!
-Rodrigo você acabou de chegar... Eu não quero brigar... -Tudo bem... Mas vô... Essa conversa não terminou... EU QUERO A VERDADE... Sua e de Pietro.
Hoje era o dia... A operação de Júlia havia finalmente chegado e não sei quem estava mais nervosa, eu ou ela... É incrível como podemos nos apegar tão facilmente as pessoas que possuem um brilho tão puro quanto a essa garotinha. E o mais incrível ainda é saber que as pessoas tem vergonha de se apegar. Eu me questiono o "Por quê" dessa insegurança de amar tão puramente. Ok, eu sei que antes eu também fazia parte desse clube de medrosos... Mas é justamente por isso que eu digo que não vale apena sentir esse medo.,. pois perdemos tantas oportunidades de simplesmente amar e em troca ser amado...
-Ansiosa mocinha? -Na verdade, estou... E se der alguma coisa errada? -Sabe é normal sentir medo... -Você tem medo? -Mesmo cursando medicina, eu confesso que tenho sim. -Sério? E como você faz para vencer esse medo?
-O segredo para vencer esse, como qualquer ouro medo, é enfrentar. Mostra para esse medo que quem manda é você. -Mas eu sou criança... -Nada a ver... Eu confio em você, sei que é capaz de vencer esse medo! -Está bem... Eu vou tentar... -That's my girl!
Estavamos tão entreitidas em nossa conversa que nem haviamos percebido que nosso pai estava bem diante de nós... Ainda era estranho dizer a palavra "Nosso"... Eu não havia percebido o quanto estava pálido e com uma expressão cansada em sua face. Todavia, antes mesmo que eu pudesse dizer algo, Júlia se adiantou: -Pai? Você stá bem? -Estou sim, meu amor, apenas gostaria de conversar com sua irmã... -Comigo? -Por favor, Isabelle... É importante... -Tudo bem, Pai...
Seja lá o que fosse eu apenas tinha certeza de uma coisa... Eu não queria mais brigar, eu não queria mais guardar tanta dor dentro de mim... E nem queria que ele guardasse.
-Você queria falar comigo... -Sim... -Bem estamos aqui... -Sua expressão estava começando a me assustar...
-Isabelle... Antes de falar o que eu tenho para falar, você precisa entender que eu estou tentando de tudo para consertar meus erros com você. E no fim eu sei que não posso mudar o curso dos acontecimentos... -Eu sei pai... Sei de tudo isso, eu ja me decidi... Não quero sentir tanta dor de novo, não quero nutrir ódio por ninguém, muito menos... Por você... -Filha...
-Mas o que você queria me dizer? -Ah claro... Antes eu preciso te pergutar... O que houve com Rodrigo naquela noite? Essa perguta tocou em um lado adormecido em meu coração. De todos os assuntos que imaginei que ele poderia querer falar esse era o último que eu poderia imaginar. Tocar no nome de Rodrigo me fazia voltar no tempo em questões de instantes. Meu Deus, ja estava me esquecendo o quanto me dói lembrar de tudo que poderia ter vivido ao seu lado... E como me sentir assim me trazia culpa a meu coração... Culpa por estar completamente apaixonada por seu irmão... -Pai... Pelo o que me disseram.... Rodrigo se foi no mesmo instante em que o carro bateu... Eu... - Meus olhos enxeram-se de lágrimas - Eu nem pude me despedir...
-Filha perdão por tocar nesse assunto... -Ta... Ta tudo bem Pai... Mas por que você me perguntou? -Isabelle quem te disse que sobre Rodrigo? -Foi Marcos... Depois Pietro... Pai me diga onde você está querendo chegar? -Isabelle, filha, preste bem atenção no que eu vou te dizer... Não confie em Marcos. O que eu vou te falar, vai te abalar, Isabelle, mas eu não falaria se não fosse importante... -Você está me assustando... -Eu acho que Rodrigo não morreu naquele acidente. -O que você está dizendo, pai? -Isabelle, há alguns dias, nesse mesmo hospital, eu tenho certeza que o vi. Estava mais magro, em uma cadeira de rodas, mas era ele! -Pai não pode ser... Marcos não mentiria para mim desse jeito, muito menos Pietro! Ele não faria essa coisa monstruosa... Rodrigo não ia passar todos esses meses sem ir atrás e mim, impossível...
-Mas e se ele não se lembrar... Sabe-se lá o que pode ter acontecido... Sobre Marcos, Isabelle, durante seu coma eu visitei você sempre que podia, eu nunca havia abandonado você, mas eu sabia que quando você dispertar-se do coma, eu seria a última pessoa que você ira querer ver seria eu, então eu paguei para ele sempre ter notícias suas... -Irene... -Ela não sabe de nada, mas Isabelle, não se deixe enganar por Marcos, ele não é o que parece... -Pai eu não sei o que pensar... Tudo isso é doloroso demais para mim... Eu acho que você se equivocou sobre Rodrigo... Por mais doloroso que seja, eu ja aceitei que ele se foi... E nada pode mudar isso, acreditar que não foi assim, só vai me fazer sentir mais dor e angústia.
-Isabelle... Seja lá o que realmente tenha acontecido, eu só quero que você saiba que ainda tem um pai. Que nunca deixou de pensar em você um dia sequer da vida dele, e que, mesmo errando, daria a vida dele por você se precisasse. Eu te amo minha menininha...
Se antes eu estava com lágrimas de tristeza, essas foram substituidas por lágrimas de alegria. Meu coração estava tão tocado com as palavras de meu pai, que impediu minha mente de pensar em uma resposta a altura. A única coisa que fui capaz de fazer, foi a de correr em seus braços, da mesma forma que eu fazia quando tinha a idade de Júlia...
-Pai, eu te amo... Nada no mundo vai mudar isso!
-Meu Deus, você não sabe o quanto eu tive medo de nunca mais ouvir isso de você... -Nenhum ódio no mundo vence o amor de um filho pelo pai...
Naquela mesma tarde Luana, acompanhada de Giovana, fora até a casa de Irene, pois já fazia um bom tempo que ela não mandava notícias. Ao chegar no local , Irene estava à frente do casarão regando as flores que tanto gostava, porém sentia-se completamente perdida em seus pensamentos que não percebeu a aproximação das duas ex inquilinas.
-Irene! -Luana! Minha filha quanto tempo... -É o que eu diga... Você não apareceu na festa de aniversário da Gigi..
-Eu sei Lua... Eu sinto muito... Mas é que.... Espere um pouco... Essa moça linda é a Giovana?
Irene aparentava estar com uma aparência exausta e terrivelmente esgotada, o que deixou Luana ainda mais apreensiva com sua velha amiga.
-Hahahah sou eu Tia Irene... -Como você espichou... Está tão linda...
O rosto de Irene se iluminou, ver Giovana crescida, bonita e feliz, bem a sua frente a deixou radiante, pois como ela poderia esquecer do dia em que a viu pela primeira vez... Tão frágil e sem entender porque a mãe vivia fugindo com ela...
-Sou eu mesma Tia Irene... Estava com muitas saudades... De você e de sua comida... -Giovana!
-Está tudo bem, Luana... Gi tem um bolo quentinho de chocolate la na cozinha, pode ir la...
-Nem precisa falar duas vezes...
-Irene... Que saudade sua... -Oh minha filha...
De repente Irene demosnrou uma gritante fraqueza em seu corpo.
-IRENE?!
-O que está acontecendo Irene? Você está estranha... Seja lá o que for, me diga eu lhe pesso... Você me ajudou tanto, deixe-me ajuda-la... -Minha menina... Você não pode me ajudar... -Irene o que você... -Eu estou com os dias contados... Eu vou morrer em pouco tempo, Luana...
-Não pode ser verdade...
Já era o final do entardecer quando Pietro surgiu na casa de Bernardo. Tinha ciência de que a noite seria muito difícil, pois agora que Rodrigo lembrara de Isabelle, não poderia esconder-lhe mais nada.
Bernardo mais uma vez meditava sentado ao piano quando Pietro atravessou a porta da sala de jantar onde seu avô se encontrava. O coração do velhor Senhor Perini palpitava de uma maneira estranha como se prevese que algo de muito grave iria acontecer. -Olá vovô... -Pietro, não lhe ouvi chegar.
-Depois dos últimos acontecimentos, não conseguimos conversar como antigamente. -Vô eu vou falar toda a verdade... -Eu imaginei que você fosse fazer isso, Pietro, você sabe que Rodrigo nunca vai te perdoar... -Eu sei, só que depois do que aaconteceu, não vou passar mais um dia sequer sem que ele saiba de toda a verdade. Inclusive daquela que nos separou anos atrás... -Você não pode estar falando serio... Pietro, não mexa com isso. Você não tem esse direito!
-Ah?! Eu não tenho esse direito? Me poupe! Quem nunca teve esse direito é você! Aliás se tem algo de que eu me arrependo é de ter escondido isso de meu irmão. -Você quis poupar ele! -E do que isso adiantou? Eu digo do que adiantou: De nada!
-Pietro de nada adianta tocarmos nessa ferida do passado! -De nada adianta?! Pelo amor de Deus, vô... Você não acha que Meu irmão não tem direito de saber de toda verdade? Você não acha que ele merece saber que ele é SEU FILHO?! -Fale baixo, Pietro!
Enquanto isso no andar de cima.... -Pelos gritos não tenho a menor dúvidade de que é meu irmão discutindo com meu avô la em baixo... É... certas coisas não mudam mesmo...
-Pelo visto o assunto sou eu... Mas por que será que brigam tanto, meu Deus? Mal da para entender...
-Você é o último exemplo do que é ser honesto, Pietro. E você sabe muito bem do que eu estou falando.
-Eu sei disso! Você acha que não me passa pela cabeça todas as noites antes de dormir o quanto eu sou um verme? Mas eu reconheço isso... Mas você nem para assumir as cagadas que faz, assume! Mais de vinte anos escondendo de todos que Rodrigo foi fruto de uma traição... -Me diga Pietro, o que revelar isso vai ajudar agora? -Ajudar em tudo! Ajudar que a vida de nossos pais não foi perfeita como ele imagina, ajudar a saber que a mentira nasce de onde ele menos pode esperar...
-Pietro, você não acha que eu não penso em meus erros cada miseravel dia de minha vida? Acha que eu não me arrependo de minhas escolhas? Você não crê que eu queria que tudo tivesse sido completamente diferente? Desde a primeira vez que segurei Rodrigo em meus braços, quando ainda mal havia nascido, eu me orgulhei por saber que ele era meu filho... -Então por que não o assumiu? -Eu não pude! Não seria justo com seu pai... -Não toque no nome dele! Você sabe que foi sua culpa o que aconteceu com meus pais... E eu sei que Rodrigo vai sofrer, mas não é justo com ele esconder que é SEU FILHO...
-Meu Deus Pietro, o que você quer de mim? -Quero que seja sincero pelo menos a porra de uma vez na sua vida...
-Pietro, eu amo Rodrigo tanto quanto amo você... Mesmo que ele seja meu filho biológico, eu sempre o vi como meu neto. Desde que era uma criança recém nascida. Eu o imediatamente o vi como meu neto... O que houve com sua mãe... foi um momento de fraqueza...
-Não é para mim que você tem que falar isso, é para SEU FILHO!
-Eu creio que já ouvi o suficiente... A voz de Rodrigo surgira fraca no meio da discussão de Pietro com Bernardo. Avô e neto discutiam com tanto fervor que nem sequer haviam percebido que ele estava bem diante deles.
-Rodrigo... Eu... -Quanto tempo? -Perdão? -Ha quanto tempo você sabia? -Muito tempo. A espressão que pairava no rosto de Rodrigo era uma mistura de decepção com a nostalgia de seu passado, tentava absorver aquilo que Pietro dizia sem muito jeito, mas não conseguia acreditar, pois se assim fizesse seria a mesma coisa que admitir que todo seu passado fora uma grande mentira, o que irônicamente falando não deixa de ser uma triste verdade.
-Espera um pouco... Era isso que você queria me dizer na última vez que nos vimos anos atrás? -Era... -Você não podia ter escondido isso de mim Pietro! Cara eu nunca vou conseguir te perdoar, você não tinha esse direito! -Eu fui um covarde está bem? Um covarde... Você tinha me magoado quando decidiu ir embora de Riviera. -Isso não justifica! Meu Deus todos esses anos... E o idiota aqui achando que a vida era linda...
-Meu Deus eu não sei o que pensar... Eu só queria que Isabelle estivesse aqui... Ela foi a única coisa verdadeira na minha vida... Quero dizer... Ela é... Espere um pouco. Pietro, você sabia que eu não estava sozinho, mais ainda, você sabia que eu estava apaixonado por ela, eu ja havia falado sobre ela a você antes do acidente... É impossivel você não ter sabido de que eu não estava só naquela fatidica noite...
-Antes de eu falar o que eu tenho para te falar, meu irmão, você não pode dúvidar do quanto eu te amo cara... Do quanto me culpei pelo ocorrido... -Pietro onde você está querendo chegar? -Você está certo. Não tinha como eu não saber da existência dela, eu sabia sim, e a culpava cegamente pelo o que aconteceu, mesmo que, até aquele momento, o que eu sabia sobre ela era que estava com a vida por um fio... Quando eu achei que tinha perdido meu irmão caçula para sempre, eu decidi que não queria saber mais daquela mulher. Para minha surpresa, Isabelle é a mulher mais forte que eu já conheci, porque ela não deixou-se entregar a morte, disperando do coma. Os olhos de Pietro começaram a deixar pequenas lágrimas escorrerem por seu rosto ao lembrar-se dos primeiros momentos com Isabelle, e por alguns instantes a única coisa que preenchia sua mente era o beijo que eles haviam trocado naquela tarde, ao lado do lindo piano branco. Todavia esse breve momento de paz nas lembranças de Pietro fora interrompido pelas palavras ríspidas de Rodrigo.
-Pietro, você você pode? Você sabe muito bem que ela não teve culpa de nada. Isabelle foi uma mera vítima de tudo... -Eu percebi isso na segunda vez com que falamos com você... -Segunda vez?! -Sim... Eu e ela tínhamos uma dor muito grande em comum... Ambos nos culpavamos pelo o corrido. -Espera um pouco Pietro, o que você está dizendo?! -Com o tempo eu fui percebendo o quão maravilhosa era ela, fui compreendendo tudo aquilo que você escrevia nos emails que me mandava... -Pietro ela sabe que eu estou vivo? Você contou a ela que eu estou vivo? -Rodrigo... Eu... -Você... Você não... - Rodrigo via a respostava bem clara nos olhos de seu irmão bem a sua frente, mas simplesmente não conseguia crer... - Rodrigo, fala de uma vez, quero ouvir de sua boca! -Não... -PIETRO, COMO VOCÊ PODE?! MEU DEUS, EU... EU PODIA QUEBRAR A SUA CARA... MEU DEUS, VOCÊ FALA DO HOMEM QUE CHAMEI DE AVÔ POR ANOS, MAS VOCÊ É AINDA PIOR DO QUE ELE! MUITO PIOR! E VOCÊ QUER ME DIZER POR QUE NÃO FEZ ISSO? POR QUE NÃO FALOU A MULHER QUE EU AMO E QUE ME AMA QUE EU ESTOU VIVO?!
-Por que eu não tive coragem de perder a mulher que eu amei mais ardentemente na minha vida... E que eu sempre irei amar, não importa o que aconteça...