Aprendendo a Viver | Temporada 1 | Episódio 9
Narrado por Joaquim
Pela primeira vez senti-me desconfortável com a forma pejorativa com a qual Billy referia-se aquela garota. Não sei porquê, mas a insegurança no olhar dela fez com quem eu me recordasse de mim mesmo em algum lugar de meu passado. Honestamente não achava que ela era um “três”, como Billy falou tão debochadamente, mas antes que tivesse a oportunidade de emitir qualquer resposta, ele usou a sua habilidade com as palavras contra mim, falando aquilo que sempre me tirava do sério:
-O que foi? Quer dar para trás? Amarelou é?
-Não é nada disso, mas eu só acho que ela não é uma “três"…
-E daí? Que seja! Vai acovardar? Sabia que a Eduarda, tá de trova com um amigo meu?
-Quem?!
-Isso não vem ao caso… Você quer ser o típico corno manso? Ou vai dar uma lição nessa vadia, e mostrar para ela quem é que manda?
-Pode ir reservando minha grana! Porque eu vou ganhar essa aposta!
-O que foi? Quer dar para trás? Amarelou é?
-Não é nada disso, mas eu só acho que ela não é uma “três"…
-E daí? Que seja! Vai acovardar? Sabia que a Eduarda, tá de trova com um amigo meu?
-Quem?!
-Isso não vem ao caso… Você quer ser o típico corno manso? Ou vai dar uma lição nessa vadia, e mostrar para ela quem é que manda?
-Pode ir reservando minha grana! Porque eu vou ganhar essa aposta!
Mal conseguia pensar no que o professor dizia durante a aula, pois tudo o que vinha a minha mente era formas de eu de eu provar que não era “corno manso”, como Billy fazia questão de jogar na minha cara. A final de contas, me dava mais raiva pensar em como minha reputação estaria após as puladas de cerca de Eduarda, do que o fato dela ter pulado… Hoje eu penso, se eu ao menos tivesse tido a capacidade de refletir sobre como me sentia de fato, talvez não tivesse cometido todos os erros causados pelo meu ego frágil… Dirigindo-me a saída, ainda tive de escutar reclamações de meu pai sobre minhas escolhas de cursos. Realmente, me sentir um prejuízo na vida dele não era a melhor sensação do mundo de se sentir, especialmente após a conversa tensa com Billy… De repente, com quem eu me esbarro novamente? Aquela garota. Após algumas rápidas e atrapalhadas conversas, descobri que seu nome era Mariana e que também ela era dona de um senso de humor bem agradável.
Na entrada de casa, fui surpreendido por ninguém menos do que Eduarda, que possuía um semblante bem impaciente de quem estava há pelo menos meia hora esperando. Por alguns instantes senti uma sensação nostálgica, causada pela lembrança de quando havia conhecido Duda, naquela época ela era tão diferente… Nós éramos tão diferentes… O que será que tinha acontecido? Por que não poderíamos simplesmente voltar a ser aquelas duas crianças brincando na piscina enquanto esperávamos pelos cookies de Nana, os quais eram os melhores cookies do mundo… Conversamos por algumas horas, e percebi que Eduarda estava contagiada pela mesma nostalgia que eu, o que no meio de tantas lembranças gerou um um beijo entre nós. Havíamos feito as pazes e tentaríamos lutar por aquelas crianças do passado, a quem tínhamos a mais clara certeza de que estaria em algum lugar bem profundo dentro de nós mesmos.
Após me despedir de Eduarda me dirigi até meu quarto, mas antes que eu concluísse minha rota, uma tampinha de um metro e meio surgiu me abraçando: Melissa.
-Mano, que bom que você chegou! Vamos brincar?
-Auto lá mocinha, você já fez seu dever de casa?
-Ai Quim, mas é muito difícil…
-E só por isso você não vai nem tentar?
-Mas eu quero brincar, Quim…
-Já sei o que podemos fazer… Eu também preciso fazer meus deveres para semana, que tal fazermos juntos? Assim que terminarmos eu te ensino uma brincadeira nova, pode ser?
-Oba! Sendo assim eu topo! Quim?
-Fala, tampinha!
-Eu te amo, você é meu irmão favorito!
-Hahahah, o fato de eu ser o único faz me sentir bem importante! também te amo pirralha…
-Mano, que bom que você chegou! Vamos brincar?
-Auto lá mocinha, você já fez seu dever de casa?
-Ai Quim, mas é muito difícil…
-E só por isso você não vai nem tentar?
-Mas eu quero brincar, Quim…
-Já sei o que podemos fazer… Eu também preciso fazer meus deveres para semana, que tal fazermos juntos? Assim que terminarmos eu te ensino uma brincadeira nova, pode ser?
-Oba! Sendo assim eu topo! Quim?
-Fala, tampinha!
-Eu te amo, você é meu irmão favorito!
-Hahahah, o fato de eu ser o único faz me sentir bem importante! também te amo pirralha…
Melissa era a pessoa que eu mais amava nesse mundo. Ela tinha um mundinho próprio, onde ela adorava estar, pois assim se desligava das tensões diárias aqui dentro de casa. Tinha vezes em que eu a invejava por conseguir fazer isso, pois eu acabava sendo saco de pancadas de meus pais, coisa que valia a pena se fosse para protejer minha irmã. Contudo, admito que aquela noite foi punk. Estávamos no meio da lição de matemática de Mel, quando ouvimos os primeiros afrontamentos de meu pai para minha mãe…
-Por que os adultos sigam tanto, Quim? -Perguntou Mel, surpreendendo-me.
-Por que ser adulto é difícil, maninha…
-Sabe Joaquim, eu não quero nunca me tornar adulta… - Nem eu, Melissa, nem eu… Pensei…
-Mel, tenta fazer essas duas questões que eu vou lá em baixo acabar com esses barulhos!
-Por que os adultos sigam tanto, Quim? -Perguntou Mel, surpreendendo-me.
-Por que ser adulto é difícil, maninha…
-Sabe Joaquim, eu não quero nunca me tornar adulta… - Nem eu, Melissa, nem eu… Pensei…
-Mel, tenta fazer essas duas questões que eu vou lá em baixo acabar com esses barulhos!
Ao chegar ao mesmo ambiente que meus pais, quase fui atingido por um vaso voador jogado por minha mãe que estava tendo um ataque histérico quando eu cheguei. Eu nunca havia visto ela tão transtornada antes, e olha que já vi muita coisa da parte dela, especialmente envolvimento meu pai…
-Você é um porco Estevão! UM MALDITO PORCO!
-Olha quem falando… Já deu para quantos esse mês?
-Como ousa falar comigo assim depois da cena lamentável que eu vi você participar? Como pode ser tão sujo? Quem era aquela loira peituda?
-Há me da um tempo, Silvia… Você não me satisfaz como deve e ainda reclama se eu vou procurar em outro lugar?
-Você é um porco Estevão! UM MALDITO PORCO!
-Olha quem falando… Já deu para quantos esse mês?
-Como ousa falar comigo assim depois da cena lamentável que eu vi você participar? Como pode ser tão sujo? Quem era aquela loira peituda?
-Há me da um tempo, Silvia… Você não me satisfaz como deve e ainda reclama se eu vou procurar em outro lugar?
-Querem os dois calarem a boca?! Eu estou farto de vocês brigando assim todo santo dia, vocês não pensam em Melissa? Ela não é surda e está cada vez mais afetada com a postura de ambos!
-Quem é você para falar de postura, Joaquim? Seu pirralho de merda!
-Não fala com MEU filho assim seu monstro!
-Isso mesmo, Silvia, SEU filho! Já aturei demais a presença desse bastardo ingrato aqui dentro de casa!
-CALA A BOCA! CALA A BOCA!!!! - Meu pai avançou em direção a minha mãe quando eu me meti entre os dois e recebi todo o impacto. Não havia absorvido as duras palavras de meu pai, pois nesse instante me vi na mesma cena em que estive anos atrás quando era criança e a imagem de Nana veio me na cabeça dizendo que eu era corajoso. Nesse momento senti como se tivesse dado um click em minha consciência. Eu havia despertado de uma realidade para outra, não sabia como, mas algo muito forte passou em minha mente e coração ao mesmo tempo, enquanto tudo parecia mover-se em câmera lenta. Eu havia me dado por conta de que não queria me tornar aquele homem cheio de ódio no coração, capaz de ferir a própria mulher a quem jurou protejer a amar nos laços do matrimônio. Meu pai de coração ou de sangue, já não fazia diferença para mim, pois eu não seria igual a ele.
-Quem é você para falar de postura, Joaquim? Seu pirralho de merda!
-Não fala com MEU filho assim seu monstro!
-Isso mesmo, Silvia, SEU filho! Já aturei demais a presença desse bastardo ingrato aqui dentro de casa!
-CALA A BOCA! CALA A BOCA!!!! - Meu pai avançou em direção a minha mãe quando eu me meti entre os dois e recebi todo o impacto. Não havia absorvido as duras palavras de meu pai, pois nesse instante me vi na mesma cena em que estive anos atrás quando era criança e a imagem de Nana veio me na cabeça dizendo que eu era corajoso. Nesse momento senti como se tivesse dado um click em minha consciência. Eu havia despertado de uma realidade para outra, não sabia como, mas algo muito forte passou em minha mente e coração ao mesmo tempo, enquanto tudo parecia mover-se em câmera lenta. Eu havia me dado por conta de que não queria me tornar aquele homem cheio de ódio no coração, capaz de ferir a própria mulher a quem jurou protejer a amar nos laços do matrimônio. Meu pai de coração ou de sangue, já não fazia diferença para mim, pois eu não seria igual a ele.
Foi duro, mas aqueles dois se acalmaram e enquanto eu colocava minha irmãzinha para dormir tudo que eu sentia era a necessidade de desabafar, mas no dia seguinte Duda mal havia dado me espaço para assim fazer. Frans havia me convidado para almoçar com ele e sua irmã mais nova após a escola, e ao chegar no local combinado percebo que mais uma pessoa iria com a gente: Mariana. A medida em que conversamos, percebi que que aquela garota era muito especial, pois tinha uma ingenuidade em seu olhar a qual mais uma vez fez com que eu recordasse de um Joaquim sem tanta raiva. Eu estava sentindo uma paz que há muito tempo não sentia. Era como se eu pudesse contar qualquer coisa àquela garota sem que ela me julgasse. Mariana demonstrava ter um grande coração, e isso estava me dando ainda mais confiança em sua pessoa. Quando eu poderia supor que ela em questões de alguns dias se tornasse minha melhor amiga? Eu não podia fazer aquilo com ela… Iria cancelar aquela aposta sem sentido o mais rápido que eu pudesse, mas antes iria abri meu coração a ela e revelar o quão imbecil eu estava sendo com ela até o momento. Comecei a digitar uma mensagem para marcarmos de nos encontrar para que eu enfim pudesse lhe falar tudo o que precisava ser dito, quando meus pais começaram, mais uma vez a discutirem. Por sorte Melissa estava na casa de uma amiga e não presenciou aquela cena deprimente…
-Pela milésima vez, Estevão, Joaquim é seu filho, sim!
-Eu não acredito em você, Silvia, Aliás eu não aguento mais você!
-Vocês começaram ainda mais cedo hoje…
-Ora, ora… E você não devia estar em uma biblioteca estudando pro Nem seu, inútil? É bom você passar em uma federal porque eu não pretendo ficar sustentando vagabundo!
-JÁ BASTA! EU NÃO AGUENTO MAIS UMA PALAVRA DE SUA BOCA! Só para vocês saberem, Melissa não vai dormir em casa hoje, ela está na casa de uma colega!
-Quim, filho onde você vai?
-Dar um tempo de vocês dois, mãe! Não esperem por mim…
-Eu não acredito em você, Silvia, Aliás eu não aguento mais você!
-Vocês começaram ainda mais cedo hoje…
-Ora, ora… E você não devia estar em uma biblioteca estudando pro Nem seu, inútil? É bom você passar em uma federal porque eu não pretendo ficar sustentando vagabundo!
-JÁ BASTA! EU NÃO AGUENTO MAIS UMA PALAVRA DE SUA BOCA! Só para vocês saberem, Melissa não vai dormir em casa hoje, ela está na casa de uma colega!
-Quim, filho onde você vai?
-Dar um tempo de vocês dois, mãe! Não esperem por mim…
Eu mal conseguia ficar de pé, sai quase que correndo de minha casa quando, duas quadras depois cruzei com Eduarda. Mal pude prestar atenção no que ela dizia, mas uma coisa outra eu capitei do que ela dizia. Duda reclamava sem parar. Falava que eu deveria me afastar de Mariana, falava que eu devia me impor mais, mas a gota da água foi ela falar que eu estava cada vez parecido com meu pai. Eu naquela altura, apenas consegui olhar bem fundo nos seus olhos e cuspir aquelas palavras amargas em sua direção: “Para mim já basta Eduarda. Acabou, e agora é para sempre! “. Percebi que ela que ela se apavorou com minha forma de falar, que foi bem ríspida, admito, mas eu não pedi desculpas, apenas segui meu caminho… Só tinha uma pessoa que eu senti que podia acalmar essa explosão de emoções dentro de mim: Mariana…
Eu queria contar toda a verdade, juro que queria, mas não estava conseguindo nem pensar direito. Me sentia um lixo humano. Sentia vontade sumir e nunca mais voltar. Comecei a pensar por alguns segundos como seria se eu tivesse mais aqui e quase que no mesmo momento a imagem de Melissa surgiu em minha mente e imediatamente senti um remorso gigantesco me corroer por dentro pelo simples fato de cogitar ver minha irmãzinha sofrendo sozinha. Eu nunca iria abandona-la. Nunca. Nesse momento percebo que Mari se aproxima, e nem penso duas vezes e a recebo com um abraço apertado, como se a presença preenchesse aquele vazio de meu coração. Conversamos muito, sobre diversas coisas, e quando dei por mim o sorriso dela por si só dava-me vontade de sorrir. De repente, parecia não existir mais nada ao nosso redor: nem problemas com meus pais, ou Eduarda, nem cobranças de meu futuro, nem sequer a a escola. Nada daquilo existia mais enquanto eu mergulhava em seu olhar sereno. Quando dei por mim, só havia uma coisa que eu não conseguia parar de pensar: O desejo incontável de beijar aqueles delicados lábios de Mariana… E assim eu despertei totalmente do que estava sendo um terrível pesadelo em minha vida. Aquele beijo tinha me trazido para uma outra realidade: A realidade em que as coisas poderiam dar certo, e principalmente, uma realidade em que eu Joaquim, estava completamente e perdidamente apaixonado por aquela garota, a quem Billy havia batizado de numero três, dias atrás, mas que para mim agora não haviam números suficientes que pudessem classificar o quanto eu gostava dela!