Follow your dreams and don't forget to smile ;)
Poucos minutos passaram-se desde que Alain havia conversado com Cristina. O diretor, agora sozinho, permanecia olhando em direção a porta de seu quarto, como quem estivesse esperando para que o amor de sua vida reconsiderasse e voltasse para seus braços. Era um absurdo, pensou ele. Em parte, o pai de Priscila sentia-se aliviado após saber pela ex que Gustavo Bruno não fora o responsável pela morte de Júlia Castelo, contudo isso nem de longe era capaz de preencher aquele vazio que as palavras de Cristina haviam lhe incitado. “O amor de Júlia e Danilo era mais forte do que qualquer coisa”
Em meio a seus devaneios, Alain sentiu seu celular vibrar. Era hora da apresentação de Letícia. Quase que no mesmo instante o mesmo foi em direção a seu computador. Talvez as palavras daquela instigante mulher fossem capazes de amenizar um pouco da angústia sentida por ele, refletiu. -Doutora Letícia... – Falou intrigado. – Dado os últimos acontecimento, eu já não duvido de mais nada... Diversos pensamentos perpetuaram à mente, durante a fala de Letícia. Havia algo naquela mulher que, por mais que ele odiasse admitir, lhe gerava curiosidade. Contudo, talvez por não encontrar as palavras certas, Alain relutou em escrever a Psicóloga como já havia feito tempos atrás. Cerca de alguns minutos após a finalização da apresentação de Letícia, Alain tentou, sem sucesso, esquecer um pouco de suas angústias, mas após constatar que àquela altura já havia perdido completamente o sono, o diretor resolveu caminhar um pouco pelas ruas já vazias de Rosa Branca. Enquanto este caminhava entre as antigas construções, Alain recordou do dia em que ele e Cris chegaram à cidade. Como poderia ele imaginar que em tão pouco tempo a vida como ele conhecia, poderia simplesmente virar de cabeça para baixo? Não havia como prever, essa era a verdade. De repente o silencio das ruas escuras de Rosa Branca deu lugar a um suave som. O cineasta, intrigado, tentou buscar a origem daquele som, caminhando com um pouco mais de pressa. -Não... Não Pode ser... – Disse o diretor ao parar frente ao antigo casarão da família Castelo. O som, agora muito mais claro, trazia consigo uma série de boas memórias que envolviam Vicente. Mas como isso seria possível, pensava Alain, considerando que há quase um ano seu avô havia falecido. Ainda indeciso sobre o que fazer, o pai de Priscila sentiu algo muito forte, o que nem mesmo ele saberia descrever, o chamando para dentro da casa. Já no casarão, Alain, que utilizava a lanterna de seu celular para auxiliá-lo, caminhava em passos lentos até o cômodo de onde som se originava, contudo dentre todas as pessoas que ele poderia imaginar encontrar por ali, nenhuma delas chegava perto do que seus olhos presenciaram. Era Vicente. -Vô? – Indagou Alain, que aquela altura questionava sua própria sanidade. Vicente parou de tocar aquela nostálgica melodia, e quase que no mesmo instante retribuiu a fala do neto com um doce sorriso. Após ser tranquilizado pelo avô quanto aquela experiência estar de fato acontecendo, Alain questionou o porquê do destino ter tirado o amor de sua vida dessa forma. Vicente abraçou o neto e com paciência explicou que ele e Cristina eram almas afins, e que seu resgate envolvia unir a mulher a quem ele tanto amava com sua alma Gêmea. Antes que o neto de Vicente pudesse responder a fala do avô, as imagens de seu passado passaram a ser cada vez mais intensas. De repente era como se Alain estivesse acompanhando cada escolha, sentindo cada emoção que Gustavo Bruno havia sentido. A culpa e a angústia que o sofrimento que sua última reencarnação havia provocado, também foi sentida por Alain. O olhar vazio de Júlia após seu último sopro de vida atormentou o marques de Torga pelo resto de sua vida, e mesmo que o orgulho lhe impedisse de demonstrar o quão infeliz este se encontrava, Alain enquanto Gustavo, pegava-se constantemente lamentando por sua esposa, Dora, não se assemelhar em nada com sua falecida irmã. -Isso é horrível vô... – Lamentou o diretor. – Como pude ter chegado tão longe... Como vou conseguir conviver comigo mesmo depois do que descobri sobre meu passado? Como que eu lido com essa raiva de Daniel, que é a última pessoa que eu posso me dar ao luxo de odiar após ele ter salvado minha filha? -Letícia. - Disse Vicente surpreendendo Alain por sua tranquilidade. -Como é? -Assim como Cristina, você e Letícia possuem algo a ser resgatado, meu neto. Gustavo Bruno nutria uma paixão platônica por uma mulher chamada Maristela. -Você está querendo dizer... -Exato, meu neto. Abra seu coração, Alain. Você pode se surpreender com o quanto é capaz de aprender... Após conversar com Vicente, Alain escutou alguns passos atrás dele e deparou-se com Margot, que lhe olhava com carinho e afeto. O neto de Vicente abraçou a viúva de seu avô, pedindo-lhe perdão por tudo o que ele havia dito e feito, gerando um largo sorriso no espírito que os observava de longe. Alain ao chegar em casa, mal conseguia acreditar na experiência vivida por ela há alguns minutos. Eram muitas informações a serem processadas pelo cineasta. Todavia, já com o coração mais leve, Alain não teve dificuldades em adormecer. No dia seguinte, havia muito a ser feito. Alain ficou surpreso por acordar um pouco mais tarde do que estava habituado, contudo não teve grandes dificuldades em arrumar-se para dar início as gravações, recuperando assim o tempo que havia extrapolado. Todavia, ao descer com certa rapidez pelas escadas da casa de Margot, o diretor fora surpreendido ao deparar-se com até antão, seu rival, Daniel que o aguardava um pouco ansioso. -Daniel. -Alain... -Eu confesso que ainda não me acostumei... -É... Eu imagino... Eu e a Cris... – Precipitou-se. -Na verdade eu ainda estava me referindo a você ser o neto de Margot, mas já que você tocou no assunto... Sim, ainda estou digerindo isso, Daniel... -Alain, eu queria que você soubesse que... -Daniel – Interrompeu – Eu sei o que você vai dizer... E sim, eu estaria mentindo se dissesse que não estou com muita raiva de você agora, mas... Daniel levantou uma das sobrancelhas enquanto ouvia atentamente. -Mas? – Indagou. -Mas... – Alain colocou a mão sobre o ombro do neto de Margot – Você sempre vai ser o cara que salvou a vida da pessoa mais importante de minha vida, e por isso eu vou ser grato até o fim de meus dias. – Completou finalmente. Daniel sorriu um pouco sem jeito, assentindo cada palavra do ex rival. Alain, surpreendeu a si mesmo por dizer aquela frase. De repente era como se a ferida em seu coração tivesse obtido uma grande melhora da noite para o dia. Mesmo que as lembranças de Cris ainda lhe causassem um pouco de mágoa, já não estava mais tão insuportável quanto na noite anterior. ... Após atualizar o elenco sobre as mudanças acerca do filme, Alain flagrou a si mesmo observando o cenário da próxima gravação: a morte de Júlia Castelo. Como poderia ele não ficar mexido após a experiência da noite passada? De fato, quando Cris lhe revelou sobre o verdadeiro assassino de sua última reencarnação, o cineasta sentiu um peso se esvair de suas costas. Contudo, isso não mudava o fato de que o mesmo havia estado lá. Alain lembrava cada detalhe daquela tragédia como se a mesma tivesse acontecido no dia anterior. E quanto a essa Maristela? o que a doutora Letícia tem a ver com ela? Inicialmente, Alain pensou inicialmente que o conselho de seu avô a respeito da terapeuta, relacionava-se com o fato de que a mesma poderia ajuda-lo com uma sessão de regressão, e assim o mesmo poderia descobrir quem seria essa tal Maristela por quem era apaixonado. -Alain? O pensamento do diretor foi interrompido após ouvir seu nome através de uma voz familiar. -Cris! Desculpa eu não vi você entrar... -É... Eu percebi... Você estava longe.. Cris, sorrindo, aproximou-se de Alain como quem tentava decifrar seus pensamentos, e quase que imediatamente percebeu que algo o atormentava. Contudo, após sua ultima conversa, a atriz hesitou ao questiona-lo sobre o que poderia a ele estar afligindo. -Cris eu... Quero parabenizá-la. Você hoje foi fantástica na reunião. O nosso filme vai ser um sucesso. Cristina sorriu. -Disso eu não tenho a menor dúvida – falou calmamente. – Alain eu conversei com Margot e ela me contou sobre ontem a noite, você quer falar sobre isso? Alain ficou feliz com o interesse de Cristina em ajuda-lo a compreender sua experiência. Mesmo que durante sua estadia em rosa branca, o diretor tivesse aprendido a lidar melhor com seu orgulho, nem sempre o mesmo conseguia simplesmente passar por cima de seu ego e pedir por conselho. -Na verdade... eu quero sim, Cris... – Assentiu sem graça. -Do que você se lembrou de sua vida passada? Alain e Cristina conversaram por cerca de uma hora. O diretor, ao falar sobre todo o mal que havia feito quando este era Gustavo Bruno, não conteve suas lágrimas. E pedir perdão por suas atitudes, tanto como Marques de Torga, quanto como Alain, fez o mesmo sentir-se um pouco mais aliviado quando Cristina lhe garantiu que a muito já havia lhe perdoado. Cris, que aquela altura encontrava-se emocionada pelos insights do diretor, pegou-se surpreendida após a última pergunta de Alain. “Quem havia sido Maristela?”, indagou Alain Curioso. Cristina sorriu amigavelmente. -Eu havia me esquecido de comentar sobre ela, quando nos falamos ontem... Alain permaneceu em silêncio, prestando atenção em cada palavra dita pela atriz. -Uma das maiores frustrações do coronel Eugênio, havia sido o fato de não ter tido nenhum filho homem, e em muitos momentos eu mesma pude presenciar ele culpando Piedade por isso. -Que canalha! -Com o tempo eu passei a observar que meu pai recebia algumas cartas misteriosas, e foi quando eu, ao tentar descobrir de quem eram aquelas cartas, vi esse nome pela primeira vez. “Maristela”. Poucos dias depois fui até a casa dela e a vi com Danilo... Imediatamente pensei que ele estivesse me engando... Pensei que ele tivesse uma outra família, pois os vi com um menino... -Mas o filho não era de Danilo... – Pontuou Alain sem saber se sua fala havia sido uma simples dedução, ou o mesmo se lembrara de algo... -O filho era do Coronel... Ele havia tido um caso com Maristela, que resultou no tão esperado barão que ele sonhava... Chegou a persuadir ela a dar o menino para o Coronel adotar... Esse era o plano até Danilo a convencer de não fazer isso... -Meu Deus... -Mais tarde, soube por Piedade, que em vários momentos Gustavo havia ajudado Maristela. -Ajudado de que forma? -O coronel tentou assassiná-la, uma vez que ela se recusava a dar Henrique a ele... Gustavo não apenas salvou a vida dela, como também a ajudou Maristela a fugir de Rosa Branca com o menino... Alain ficou pasmo com aquelas informações. Mesmo com a familiaridade da história, o mesmo não conseguia recordar do rosto daquela mulher. Alguns minutos depois, Cris e Alain despediram-se como velhos amigos. De repente era como se não houvesse mais mágoas entre eles. Nada além de uma profunda gratidão e carinho um pelo o outro. Cris havia comentado que Daniel queria lhe apresentar a pessoa que havia lhe convencido a fazer as sessões de regressão em Portugal, e Alain, ao presumir que se tratava de Letícia, quase que imediatamente sentiu vontade de convidar a doutora para um jantar. Mas optou por fazer isso após buscar Priscila na escola. ... Após Alain despedir-se de Priscila, flagrou a si mesmo sorrindo ao dar-se por conta da sorte que tinha por ter essa menina em sua vida. Alain jamais imaginou que um dia iria gostar tanto de ser pai. -É... eu devo ter feito algo de muito bom em minha outra reencarnação para merecer algo assim... – refletiu o diretor ao caminhar pelas ruas tranquilas de Rosa Branca. -Pensei que fosse cético em relação a isso, diretor... Aquela voz... -Doutora Letícia! – disse Alain espantado com a coincidência. Letícia sorriu, caminhando na direção do pai de Priscila. Quase que de imediato, Alain retribuiu o sorriso inclinando-se para cumprimentar a terapeuta. Mesmo que aquele cumprimento durasse apenas alguns instantes, Alain surpreendeu-se por reparar em características que normalmente não costumava a reparar em alguém senão Cristina. Primeiro, reparou fora o perfume adocicado dos longos fios escuros de Letícia, que lhe traziam uma certa familiaridade. Após algumas trocas de palavras, Letícia pediu ao cineasta que a acompanhasse até a pensão, e fora durante aquele trajeto que Alain flagrou-se admirando a forma como Letícia sorria para cada vez que este perguntava algo referente as regressões. -Bom... eu fico grata pela companhia Alain... – comentou Letícia. “Droga, eu devia ter ido pelo caminho mais longo”, pensou Alain lamentando-se. Alain ao ver Letícia virar-se na direção da pensão, não conseguiu controlar seus impulsos, chamando pela Terapeuta de Daniel. -Letícia, espera! -Sim? Após a terapeuta aproximar-se mais uma vez do cineasta, Alain por fim reparou no que hoje ele considera como uma de suas características favoritas em Letícia: a profundidade de seus olhos esverdeados que pareciam brilhar mais do que duas esmeraldas quando esta retribuiu seu chamado. -Será que você não aceitaria jantar hoje a noite? ... -Você parece que leu meus pensamentos, Alain... – Comentou Letícia ao entrar com ele na pizzaria de Rosa Branca. -Honestamente, eu gostaria de levar você a outro lugar... Letícia arqueando uma de suas sobrancelhas, olhou para o cineasta como quem dissesse “Perdão? O que você quer dizer com isso?”. Alain, demorou alguns instantes para dar-se por conta de como sua frase havia soado sugestiva, contudo, assim que este percebera a gafe cometida, o cineasta corou, desarmando a expressão séria de Letícia. -Eu... Eu quero dizer a outro restaurante, Letícia... Letícia gargalhou. -Está tudo bem... Eu estava realmente com vontade de comer algumas pizzas brasileiras... O jantar seguiu leve e tranquilo, terminando quase que na mesma rapidez com a qual Alain havia convidado Letícia. A doutora perguntou sobre como o diretor sentia-se com tudo aquilo pelo que ele estava passando desde que havia chegado a Rosa Branca, percebendo-se bastante comovida com sua história. Havia algo no seu jeito de falar que a encantava profundamente. Letícia não sabia ao certo se era pelo amor que ele nutria pela filha, ou apenas por estar determinando a se tornar uma pessoa melhor. Conversar com Letícia era simplesmente a coisa mais fácil do universo, pensou Alain. E não era pelo fato de que ela era Psicóloga, pois de alguma forma ele tinha certeza de que estava falando com a pessoa além da profissional. O diretor sentiu-se comovido por Letícia lhe confidenciar o sonho desta de ser mãe, mesmo contra todas as probabilidades, dado um procedimento cirúrgico que reduzira sua fertilidade. Era a primeira vez que a amiga de Daniel demonstrara fragilidade a alguém, e mesmo que ela não tivesse dito a Alain, o mesmo sentiu uma vontade enorme dentro de si de abraça-la e protege-la, porém tudo o que ele conseguiu fazer resumiu-se a segurar em sua mão. Um gesto simples, mas que já fora capaz de gerara Letícia um sorriso de agradecimento. -Desculpe incomoda-los – disse um garçom – Mas estamos fechando... ... -Céus... você deve estar me achando uma chorona... – lamentou Letícia enquanto limpava com um lenço o rosto ainda úmido por conta das lágrimas. Alain sorriu, apressando-se para caminhar ao lado da Terapeuta, após este acertas a conta no restaurante. -E você me achando um tagarela... Eu juro Letícia, isso nunca me aconteceu... Jamais fui o último a sair de um restaurante... Letícia gargalhou. -Mais um pouco estaríamos presos lá dentro, Alain... -Acho que só nos deixariam sair se lavássemos toda a louça... -Acho que sua mente criativa de diretor está falando mais alto... Ambos riram, e Letícia ao perceber que Alain não havia dito mais nada, prosseguiu. -O que foi? – questionou a terapeuta. -Não é nada é só que... -“Só que?” -Letícia, não me leve a mal... Mas você tem um sorriso mais lindos que eu já vi... Pela primeira vez em muito tempo, Alain sentiu-se tentado a experimentar o gosto dos lábios de uma outra mulher. Tentação essa que pareceu ainda mais forte após o diretor praticamente ler nos olhos de Letícia que assim como ele demonstrava sentir-se da mesma forma. Todavia, antes que qualquer atitude fosse tomada, ou até mesmo qualquer palavra fosse dita, o clima entre os dois fora interrompido pelos gritos de Bola. -Alain! Alain! – chamou Bola quase que sem fôlego. -Meu Deus do céu Bola, o que aconteceu? Foi algo com a Pri? ela está bem? -A casa, Alain! -Casa que casa?! -A casa de Júlia Castelo está em chamas, meu diretor e a Isabel tá presa lá dentro! -Meu Deus do Céu! Letícia me desculpe, mas eu... -Não precisa me dar explicações, Alain, vai logo! Eu chamo os bombeiros! ... -E então, como ela está doutor? – Perguntou Greice, a mãe de Isabel. -A paciente está bem, mas irá precisar passar alguns dias em observação... -Graças a Deus! -Se não fosse o nosso diretor aqui, talvez a história não tivesse tido um final feliz... – parabenizou Bola, que estranhou o olhar vazio do amigo. -Alain? – falou Letícia, recuperando a luz no olhar do pai de Priscila. – Eu vim aqui me despedir... -Letícia – Interrompeu o diretor – Nossa, me desculpe pela noite tumultuada... -Imagina... Não há o que se desculpar, Alain... A tempos não tenho uma noite cheia de emoções assim... -Você vai ficar em Rosa Branca por mais quanto tempo? -Por mais alguns dias... Por quê? -Porque... Bem, por nada, apenas curiosidade... Letícia sentiu-se um pouco desapontada, com a resposta do Diretor, mas mesmo assim procurou manter um sorriso amigável, enquanto despedia-se do Diretor com um beijo no rosto. ... Ao contrário da noite anterior, esta apesar do incidente com Isabel, havia sido bastante agradável para Alain. Durante o sono, pela primeira vez o pai de Priscila sonhara com uma memória de sua vida passada, em que ele não duvidasse de que se tratava de uma lembrança como Gustavo Bruno. Contudo, contrariando a tudo o que ele havia ouvido de ruim a respeito do Marques, essa era uma situação diferente das demais. Em alguns flashes do passado, Alain recordou-se de uma noite estrelada, onde ele, caminhava ao lado de uma moça, a quem ele tinha a mais absoluta certeza de que tratava-se de Maristela, mesmo que ainda não fosse possível ver seu rosto com clareza. Eles pareciam tão felizes. De repente, foi como se a cena mudasse. Gustavo estava com Maristela, mas dessa vez não havia, música ou noite estrelada, mas sim uma forte chuva, onde tudo que era possível de se ouvir era o som grave e longo dos trovões. Dessa vez, ele estava convencido de que estava em Rosa Branca e com a mesma mulher, cujo rosto quase fora revelado. Um segundo a mais e Alain saberia finalmente como era o rosto de Maristela. Porém o sonho fora interrompido, pelo soar do alarme. O dia em que Cristina gravaria a morte de Júlia Castelo havia chegado. Cristina e Daniel terminavam de tomar seu café da manhã, quando de repente a atriz reconheceu mais uma voz de seu passado como Júlia. -Daniel! – chamou Letícia. -Letícia! – disse Daniel ao abraçar sua amiga. – Cris, essa é a doutora Letícia, minha ex terapeuta! -Muito prazer! – disse Cristina sorrindo amavelmente. “Era, Maristela!”- pensou a atriz que ainda não conseguia crer em seus olhos. -Puxa, para mim é uma honra finalmente conhecer você! A história de vocês dois é uma das mais fascinantes que pude conhecer... Cristina sorriu, ao lembrar da conversa que havia tido com Alain no dia anterior, e quase que no mesmo instante desejou que o ex estivesse ali para que ela pudesse mostrar a ele quem havia sido Maristela. ... Já no set, Alain dava as orientações sobre como a cena deveria ocorrer. Todos estavam animados com as novas mudanças, sobretudo Cristina que poderia enfim limpar o nome de seu amado na reencarnação anterior. Após o último ensaio, Alain se afastou um pouco do elenco, refletindo sobre os acontecimentos da noite anterior. Teria Isabel provocado o incêndio no casarão? Depois da mesma ter envenenado a sopa de Cris, o mesmo já não duvidava de mais nada. -Alain, está tudo bem? A voz de Letícia chamou a atenção do Diretor. -Letícia? Ah, sim, sim é só muita coisa acontecendo... -Realmente a sua vida é uma caixinha de surpresas não é? Alain sorriu. -Bom... Eu na verdade vim aqui para me despedir... -O que, mas já? Mas você não disse que pretendia ficar por alguns dias? -Eu bem que gostaria, mas soube está manhã de alguns problemas lá em Portugal que exigem minha presença para resolve-los... -Mas você pretende voltar? -Você gostaria que eu voltasse? Alain mergulhou nos olhos de Letícia antes de responde-la. -Mais do que você imagina... -Meu diretor... – disse bola –O elenco já está pronto! Após despedir-se de Letícia, Alain deu início as gravações. Tudo seguia o seu curso normal, contudo, por motivos que ninguém sabe, a bala de festim que seria utilizada na gravação fora substituída por uma bala de verdade que quase atingira Cristina da mesma forma que havia atingido Júlia. Felizmente, a tragédia não se repetira... Pelo menos não com a alma de Cristina, que foi salva por Américo, que atirou-se na frente recebendo o tiro. A morte fora imediata, e as gravações mais uma vez suspensas. ... Mais tardar, Alain junto de Priscila, foram até a pensão prestar suas condolências a Cristina. Ao chegarem lá, a primeira pessoa que se depararam fora Daniel, contudo, Alain já não sentia mais mágoa do ex rival. De alguma forma, até mesmo a relação do cineasta com a ex parecia ter mudado. Ele ainda amava Cristina, mas de uma forma completamente diferente. Tudo o que gostaria era de fazer ela se sentir melhor após aquela perda. Cristina ao cruzar seus olhos com os do ex, recordou de que pretendia falar com ele sobre Maristela, e assim o fez. ... Última chamada para o vôo com destino a Portugal. Letícia, distraída em meio a seus pensamentos procurava em sua bagagem de mão por seu passaporte, que estava localizado no bolso de sua calça. “Droga, Letícia, aonde você está com a cabeça?”, pensou ela. -Letícia! – Gritou Alain, surpreendendo-a. -Ai meu Deus, Alain?! – Questionou mais a si mesma do que o cineasta. – O que você faz aqui? Alain sorriu, quase sem fôlego. -Eu realmente espero que você não me ache um louco pelo o que vou fazer, Letícia... Mas é porque eu realmente sinto que preciso fazer isso... Alain levou sua mão ao rosto de Letícia, acariciando-a. Sentiu como se tivesse com a mão tocando a pétala macia de uma rosa. A terapeuta não conseguia controlar os arrepios que o calor da mão do diretor despertava em cada centímetro de seu corpo. Aproximando-se mais vagarosamente, Alain que não desviava o olhar nem por um instante sequer, puxou delicadamente o corpo de Letícia para o seu, levando seus lábios aos dela. Um beijo. Apenas um beijo foi capaz de abrir as portas para uma série de novas sensações e sentimentos. Letícia perdeu o vôo aquela noite, mas em compensação, ganhou a noite mais fantástica de sua vida. Quando Alain e Letícia chegaram a Rosa Branca já era madrugada. Ninguém mais estava acordado, exceto eles. O diretor levou a Portuguesa até seu quarto, e lá fizeram amor pela primeira vez. Tanto Letícia quanto Alain jamais haviam sentido tamanho desejo e sincronia por alguém da mesma forma que sentiam um pelo outro. Era como se as peças de um quebra-cabeça tivessem finalmente se encaixado. Todavia, alguns dias depois Letícia precisou voltar para Portugal, porém dessa vez com o objetivo de voltar para o Brasil para ficar. O filme amor infinito fora finalmente finalizado, e já estava na pós edição. Nesse meio tempo, Isabel havia sido presa após o juiz lhe declarar como culpada pelo surto que Cristina tivera. Não foi fácil para Priscila ver sua mãe ser condenada, mas a pequena acabou se conformando. Felizmente Alain, Graice e Margot estiveram ao seu lado durante o julgamento. O relacionamento de Cristina e Alain mudara completamente nesse tempo. Mesmo que ambos sentissem um apreço muito forte um pelo o outro, esse sentimento era agora fraternal. ... Cerca de dois anos passaram-se desde o lançamento de Amor Infinito. Alain, que caminhava distraidamente no mesmo lugar em que conhecera Daniel, flagrou-se refletindo acerca de todas mudanças que perpassaram a sua mente e coração nos últimos anos. Como ele poderia imaginar que após a viagem para Rosa Branca sua vida fosse mudar tão drasticamente? De fato, Alain hoje acreditava que o que hoje ele considerava como as coisas mais preciosas de sua vida, surgiram do inesperado. -Meu amor... – A doce voz de Letícia chamará a atenção do diretor, fazendo com que este virasse em direção a ela. A imagem que surgiu diante de seus olhos, era Letícia, que sorria radiante em direção ao marido. Ela vestia um vestido branco rodado, que contrastava com sua pele bronzeada. Seus olhos pareciam estarem mais brilhantes do que o usual, o que fez o diretor imaginar que ela tivesse chorado. Em um primeiro momento isso preocupou o Cineasta que recordou que momentos antes de encontrar-se com sua mulher, esta iria para o médico ver se estava doente, já que não passara os últimos dias muito bem. Mas então, por que ela estava sorrindo daquele jeito? -Letícia, você está bem? Fiquei preocupado quando você me ligou para conversar aqui... -Alain... Nósestamos bem... Alain olhou sem entender para a amada. Então Letícia buscou a mão do cineasta, levando-a até seu ventre, deixando claro o que a terapeuta queria dizer com “nós”. -Espera ai, você está querendo dizer que... -Alain... Eu to grávida, meu amor... Alain pegou Letícia no colo, emocionado, dando-lhe uma série de beijos, o que acabou por provocar um ataque de risos no casal apaixonado. Era um milagre. -Eu te amo, Letícia! ... Meses mais tarde, Letícia deu a luz a uma linda menininha a quem chamou de Estela. Priscila ficou radiante com a irmãzinha, o que deixou Alain ainda mais orgulhoso com tudo o que estava acontecendo em sua vida. Coincidentemente, naquela mesma noite, o diretor ficou sabendo que Cristina e Daniel também haviam se tornado pais de um lindo garotinho a quem, por motivos óbvios decidiram chamar de André. As vidas de Alain e Cristina estariam para sempre entrelaçadas, mas de uma forma positiva. Aquela reencarnação transformara todo o rancor e ódio de sua vida anterior, em amor e cumplicidade... Foi então que em uma noite comum, Alain pegou a si mesmo refletindo sobre o que seu avô Vicente um dia lhe dissera. “Ame como se fosse morrer, demonstre seu amor hoje, como se estivesse em uma despedida. Não adie o amor, o olhar bom, o abraço, o beijo... Um dia tem prazo de validade. Não desperdice o tempo como se ele fosse infinito...” Letícia aproximou-se de Alain, o abraçando pelas costas. -O que faz ai sozinho, meu amor? Antes de responder, Alain puxa Letícia contra si roubando-lhe um beijo. -Alain! – disse Letícia forçando um tom de reprovação – O que deu em você? as meninas podem acordar... -Eu estava me dando por conta de algumas coisas, meu bem... -Tipo? -Do quanto eu sou sortudo por ter te encontrado nessa vida... Letícia sorriu envolvendo o marido em uma carícia. -E quer saber de uma coisa? – sussurrou ela. -O que? -Eu prometo que a você que no que depender de mim, sempre iremos nos encontrar... |
Sobre mim:Meu nome é Sabina Maria Stedile, tenho 22 anos e estou cursando o 6◦ semestre de Psicologia na Universidade Feevale, Novo Hamburgo - RS. Gaúcha e fã de um chimarrão, independentemente da estação. Gosto de pensar em mim como uma desbravadora da vida! Amo escrever, e almejo um dia publicar meus livros. Em outras palavras, sou apenas uma garota do sul em busca de seu verdadeiro norte. Histórico
Fevereiro 2020
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